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Nesses dois últimos anos, com a Operação Lava Jato o carnaval de Curitiba somou requisitos para entrar para a história do carnaval brasileiro. E, como se fosse pouco, a capital mais fria do Brasil faz por merecer um capítulo especial na Enciclopédia dos Bambas, considerando que no início do século passado os jornais conclamavam os curitibanos para o Tríduo Momesco com um destacado aviso: “Fica proibida a entrada no salão do instrumento musical chamado cuíca!”.

Alguns parágrafos da história seriam reservados ao ex-corretor zoológico Oswaldo de Souza, o Afunfa, maior nome da folia curitibana de todos os tempos. Não pelas suas habilidades de mestre-sala, mestre de bateria ou puxador de samba. Ginga não tinha nenhuma, mas tinha cintura para trazer para a Escola Mocidade Azul o mais importante: “recursos não contabilizados”.

No sambódromo da Polícia Federal, a Escola de Samba Unidos da Petrobras tem tudo para sair com um desfile bilionário

Afunfa era um dos raros bicheiros que assumiam sua profissão. Apesar de várias vezes na cadeia, não tinha papas na língua: “Em época de eleições, o governo sempre fica em cima. Os bacanas precisam de dinheiro para tocar a campanha. E a polícia sempre levou o dela porque funcionário público sempre foi mal pago. O jogo do bicho, por ser honesto, ainda vai acabar”.

Na Avenida Silva Jardim – contava Afunfa – havia um cortiço na altura do nº 1100 e todo sábado saía jazz e batucada das mãos do Bola Sete (motorista de táxi) e Claudionor, mais outros quatro crioulos que formavam não um sexteto, mas um “seispreto”. Era ali na Vila Capanema que alguns poucos curtiam um samba de raiz, quando os blocos não aceitavam crioulos.

Um “seispreto” tocando jazz, só mesmo naquela Curitiba perdida de Dalton Trevisan, quando o comércio soltava fogos em regozijo aos blocos em desfile na Rua das Flores. Com o Rei Momo de garoto propaganda, a partir de janeiro a Casa Edith retirava tudo da vitrina que não fosse artigos carnavalescos e, com o lança-perfume absolutamente dentro da lei, o centro de Curitiba era tomado por centenas de bancas vendendo os apetrechos da folia.

Dos maiores e mais animados, com cobertura internacional, o Carnaval de 2016 – o segundo tempo de 2015 –, vai ficar para a história como o Carnaval do Lava Jato.

No sambódromo da Polícia Federal, a Escola de Samba Unidos da Petrobras tem tudo para sair com um desfile bilionário, tendo Graça Foster como Rainha da Bateria; a ministra Katia Abreu, como destaque do carro Abre Alas das Namoradeiras; Ideli Salvatti de fio dental no carro alegórico da Acadêmicos da Pronatec; Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann de mestre-sala e porta-bandeira; Edinho Silva vai financiar o enredo da Unidos do Caixa Dois, que este ano vem com as “As Minas de Pré-Sal do Rei Salomão”; Alberto Youssef, presidente da Escola de Samba Unidos da Delação Premiada, deve entrar na Marechal Deodoro com um carnaval avaliado em mais de 50 milhões de dólares e, num enredo feito em parceria com André Vargas (da ala dos compositores de Londrina), promete dar o nome aos bois; Nestor Cerveró, carnavalesco da Unidos de Pasadena, tem tudo para levantar o público com o samba enredo “Na terra da propina, quem tem um olho mais embaixo é rei”; da lista de patrocinadores do Carnaval de Curitiba constam as construtoras OAS, Camargo Corrêa, UTC, Galvão Engenharia, Engevix e Mendes Júnior, todas elas com camarotes exclusivos no sambódromo da Polícia Federal em Santa Cândida; o ministro Jaques Wagner (fantasiado de Baco, o Deus do Vinho) será seguido pela Ala das Baianas; José Dirceu, Antonio Palocci, João Vacari, Eduardo Cunha, Delcídio Tavares e demais sambistas da Gaviões da Propina vão ajudar a puxar o samba do compositor Luiz Inácio Lula da Silva, que vai contar sua vida e obra santificada.

Para fechar o desfile, 40 ministros fantasiados de Ali Babá abrem alas para Dilma Rousseff atravessar a avenida (e o samba) no alto de toda sua incompetência.

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