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O astrônomo sueco Anders Celsius deve estar se revirando no túmulo e a causa não é a inclemência do inverno no Hemisfério Norte. É que o grau Celsius já não vale mais nada. Foi jogada no lixo a escala de temperatura concebida de forma que o congelamento da água fosse de valor zero e o ponto de ebulição correspondesse a 100.

No Rio de Janeiro não se fala de outra coisa: um termômetro já vale tanto quanto um carro usado do Zé Dirceu. Agora é preciso inventar uma traquitana que forneça a sensação térmica. Bons tempos aqueles, quando o Rio era de 40 graus. Hoje, com 50 graus de sensação térmica, a Moça do Tempo nos informa: "As temperaturas serão altas em todo o Paraná, acima dos 30 graus C, com a sensação térmica de 50 graus em Antonina".

Incontinente, comenta o vovô que assiste ao Jornal Nacional: "Gosto da sensação térmica causada pela Moça do Tempo. Faz subir termômetro quebrado desde os bons tempos da Vera Fischer!"

"Unanimidade" é uma palavra que não temos no dicionário curitibano. "Consenso", aqui, é bastante usada no sentido de reprovação ou desacordo. Consonância temos quando nos perguntam qual a melhor época para visitar Curitiba: no verão, outono, inverno ou primavera?

Depende da sensação térmica, respondemos: "As quatro estações são nossas velhas conhecidas do cotidiano. Juntas, nos visitam uma vez por dia. Estações tradicionais, cheias de nove horas, tomam o chá das cinco e, às 6 horas, se botam para dormir junto com o lusco-fusco. No entanto, conforme a sensação térmica, o outono vira inverno, a primavera vira verão e assim por diante, conforme as variantes da Moça do Tempo".

Anders Celsius não devia ser tão pessimista para imaginar, mas essa nova aferição de temperatura deve ser mais um dos efeitos do aquecimento global, fazendo ferver os miolos dos modernos "produtores de conteúdo" em busca da "realidade virtual". Podem apostar, dentro em breve os personagens dos novos romances de terror não vão mais sentir um frio na barriga: "Ai! Senti uma baixa sensação térmica na barriga!" – exclama a donzela nos braços do vilão.

Na televisão, a repórter alerta que o calor é insuportável em Guaratuba, com a sensação térmica de uma água viva na pele. Enquanto no rádio o repórter policial nos conta que uma pequena colisão fez o tempo esquentar na Avenida Iguaçu. Mas a sensação térmica entre os dois motoristas era muito maior. E, das notícias que nos chegam das estradas para o Litoral, até agora não nos informaram a sensação térmica do inferno.

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