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Curitiba completará 316 anos no próximo domingo. Nas comemorações, talvez se fale sobre o mito da fundação da cidade, transposta de um povoado insalubre nas margens do Rio Atuba até a atual Praça Tiradentes. A mudança de endereço teria sido sugestão da santinha que protegia aqueles pioneiros – uma imagem de Nossa Senhora da Luz que sempre aparecia olhando, ao amanhecer, para onde hoje é o centro da cidade, mesmo que fosse mudada de posição todas as noites.

A orientação divina, conta a história, foi corroborada pelo cacique Tindiquera, da tribo dos Tinguis, amigos do homem branco. Ele é que teria escolhido o exato local para erguer a futura vila. Fincou uma vara no chão e disse: "Coré etuba", ou, em bom português, "muito pinhão" – indicando que naquela região havia fartura daquela semente para alimentar a população.

Esse teria sido o batismo da cidade, a terra dos pinheirais. Ao menos essa é a versão que se tornou mais conhecida. Mas, recentemente, pesquisadores como Francisco Filipak e Valério Hoerner Júnior, ambos da Academia Paranaense de Letras, têm questionado essa interpretação, do mesmo modo que a certeza de que o nome da cidade seria uma alusão à abundância de araucárias.

O argumento é de que o termo "coré", em tupi-guarani, significa "porco". E é "curiy" a palavra indígena para "pinhão" ("tuba" ou "tiba" significa "muito"). Portanto, o cacique queria dizer, ao indicar o local ideal para a nova vila, não aquilo o que os pioneiros conseguiam ver a sua volta: os imensos pinheirais. Mas sim que, nas redondezas, havia muitos porcos para fornecer carne. Diversos relatos de viajantes que passaram pelo Primeiro Planalto do Paraná na época, aliás, fazem menção à profusão de catetos na região.

O fato é que, por muito tempo, a cidade inclusive teve dupla grafia: ora aparecia Curityba (terra dos pinheirais) ora Coritiba (terra dos porcos – desculpem-me os torcedores do Coxa que possam desde já se sentir ofendidos, mas isso é etimologia).

A grafia do nome da cidade só veio a ser definida oficialmente em 1919, por uma resolução da Câmara Municipal. A cidade passou a se chamar definitivamente Curityba – que, após a reforma ortográfica de 1943, virou Curitiba. Assim, por decreto, a cidade ficou sendo a terra dos pinhões e não a dos porcos abundantes.

PS: A história da denominação de Curitiba é contada com detalhes no ensaio Curitiba e suas variantes toponímicas, de Francisco Filipak, editado em 1999.

Fernando Martins é jornalista.

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