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Palavras e expressões que usamos no dia-a-dia costumam revelar a forma como a sociedade pensa e age. Para não perder esse momento de comemorações pelo Dia da Mulher, celebrado no último domingo, gostaria de fazer uma reflexão sobre o termo "sexo oposto". A expressão nos dá indicativos de como o mundo que nos cerca encara o relacionamento homem-mulher: uma relação, literalmente, de oposição.

Por trás do termo, cuja origem se perde no tempo, está a ideia de que homens são fortes; e as mulheres, o oposto: frágeis. De que homens são racionais; mulheres, emocionais. De que eles são aventureiros, ousados; elas, recatadas e caseiras.

A essa altura, talvez você esteja pensando que no mundo atual o conceito de oposição entre homens e mulheres não faça mais sentido. Afinal, elas conquistaram um espaço e um papel social que tornou as fronteiras entre os sexos menos evidentes e forçou os homens a mudarem de postura. Hoje, os antigos "machos" já choram, se emocionam, cuidam dos filhos, lavam a louça. E mulheres comandam empresas e países.

Mas é cedo para celebrar o fim da oposição entre os sexos. Ainda há quem queira voltar no tempo para restabelecer a antiga relação de dominação do homem sobre a mulher, que durou milênios e continua sendo um traço marcante da sociedade. Apesar disso, ao que tudo indica, esses perderão o bonde da história, mais cedo ou mais tarde.

A ideia da oposição entre sexos, no entanto, parece transfigurar-se em um novo tipo de antagonismo homem-mulher, cada vez mais forte: a "guerra" pela busca da felicidade. Casais se formam, em tese, para construir uma vida plena. Mas o que deveria ser uma caminhada conjunta, para muitos acaba sendo uma competição. O individualismo moderno leva muitos homens e mulheres a se colocarem em lados opostos na relação, ainda que estejam juntos. O outro só vale até o momento em que atende às suas expectativas afetivas. Ao menor sinal de contrariedade, a relação se desfaz. Afinal, a felicidade é um troféu que deve ser conquistado, não importa se acompanhado ou sozinho.

Esse é o novo utilitarismo sentimental. Sem que se supere essa nova forma de opor homens e mulheres, ainda estará longe o dia em que a expressão usada para definir os dois gêneros será "sexos complementares" – ou seja, o dia em que a relação entre homem e mulher será de cooperação e não de competição, ainda que em nome da busca da felicidade.

Fernando Martins é jornalista.

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