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Arte: Felipe Lima | Foto: Marcelo Elias
Arte: Felipe Lima| Foto: Foto: Marcelo Elias

É provável que aquelas pu­­blicidades parasitas, co­­locadas nos postes junto aos nomes das ruas, se dividam em antes e depois das pro­­pagandas da Academia Mons­­ters Gym. OK – são um escândalo: machistas, sexistas e merecedoras de uma queima de sutiãs na praça da Catedral, seguida de greve dos lençóis nos 75 bairros da província. Aos pudicos, engajados ou dotados de inteligência severa recomendo apreciá-las fazendo cara de conceito, mas sem perder o humor jamais.A Monsters – instalada nu­­ma velha casa de madeira da Água Verde – transformou em slogans algumas barbaridades ditas em segredo. Tem frase-feita para todos os paladares. Da tolinha "quer ficar bonitinho? Passe um pente" à escrachada "há 20 anos transformando ripas em homens". Da sem noção "se você gosta de carros e mulheres como o Cristiano Ronaldo, vem para cá" à previsível "quem gosta de beleza interior é decorador".

Essas e outras abóboras ao vento são de autoria de Carlos Alberto Decezare Júnior, 40 anos, o Carlão, professor de Educação Física e dublê de Nizan Guanaes nas horas vagas. Alguns bordões famosos da Monsters nasceram durante as aulas, inspirados nas impagáveis conversas de macho dos frequentadores. Outros nas tiradas do próprio treinador, uma por minuto, oito horas seguidas, com goladas de Choco Milk no meio.

Carlão pertence à categoria hiperativo hiperengraçado. Des­­conheço a relação fisiológica entre uma coisa e outra, mas de­­ve ter gente ganhando gomos no tanquinho de tanto dar risada. Pudera. Vira e mexe o atleta afirma a seus seguidores que o corpo sarado é garantia da insanidade feminina. A máxima ex­­plicaria a adesão de médicos, advogados e empresários à dureza de seu programa de exercícios, ditado decibéis acima do normal.

O cara é categórico: esses pintas só desencalharam depois de puxar ferro nas charmosíssimas sucatas da Monsters, um lugar que lembra as soturnas escolas de boxe norte-americanas. "Con­­ta aí, japonês, o que rolou. E faça 8 de 15", berra.

Que ninguém espere ouvir um conto de fadas. A vida de um fisiculturista é uma malha-justa sem fim. Depois de se fartarem dos músculos tonificados, muitas mulheres desqualificam seus companheiros, reclamando a falta de conteúdo agregado à massa corporal. Confusas, desdenham, como se tivessem um dia tomado a Monsters por uma sucursal da Academia Brasileira de Letras.

Uma das campanhas de Car­­lão – "Somos fúteis, mas somos pegadores" – ilustra bem essa monstruosidade. O slogan nasceu como uma resposta à ex-namorada, que o acusava de ter miolo-mole. "Foi minha vingança", sentencia o guapo de 1,75 m, 80 quilos, bíceps em expansão tanto quanto o universo e propalados 9% de gordura corporal, à custa de muito salmão e água.

Carlão tinha 12-13 anos quando viu Rocky, o lutador pela primeira vez. Encontrara um ídolo confesso, Syl­­vester Stallone. Nunca mais foi o mesmo: botou cimento numas latas e começou a crescer, deixando em polvorosa o pai, um alto executivo do ramo de laticínios.

Os seus bem que tentaram encaminhá-lo para uma área em que não precisasse fazer tanta força, mas a batalha estava perdida. Aos 19 anos, Carlão ganhou seu primeiro prêmio, inaugurando uma galeria de troféus que só de olhar nos provoca dor nas juntas. Em 1990, aos 20, decidiu liberar seu espaço de treino doméstico para os mais chegados. A casa lotou.

Ainda que a Monsters Gym seja uma instituição formal, o clima ali é de quarto de adolescente com pais em férias. Além de pôsteres a rodo de Rocky, Cobra e Rambo, o ambiente ostenta uma foto de Roberta do BBB em tamanho natural, para citar uma das musas de borracharia que motivam os alunos a maltratarem sem dó seus pobres corpinhos.

Um aviso. Os 300 alunos da Monsters formam uma espécie de confraria. Para entrar, não bata no balcão. Se te faltar senso de humor, aiaiai. Achou a academia muito pé-de-chinelo, nem entre. Um dos poucos luxos do Carlão é trabalhar entre amigos. Não gostou? Ah, passe um pente.

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