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O Dia Nacional da Araucária, na última quarta-feira, foi mais festejado do que São João, que também tem no 24 de junho seu dia. Pelo menos nas mídias sociais de quem é daqui do Paraná.

A rapaziada despejou um caminhão de fotos da árvore em tudo quanto é buraco da internet. Tinha foto de araucária no quintal da casa da avó, no centro de Curitiba, tatuada no corpo, de pinhão na panela. De minha parte, há um vistoso bosque na esquina da minha casa com várias delas. Como eu as vejo todos os dias, já não me chamam mais a atenção. Chamarão se algum dia não estiverem mais lá.

O que me levou a lembrar de um exemplar que vi a milhares de quilômetros daqui, do outro lado da América do Sul. Para quem for ao Chile, mais especificamente a Viña del Mar, fique atento. No principal parque da cidade, o Quinta Vergara, existe uma araucária, provavelmente o único exemplar da espécie à beira do Pacífico.

Alguns anos atrás, mochilando pelo Chile, sentei no gramado desse parque para descansar e tomar uma cerveja. Ali pelo segundo ou terceiro gole, notei uma árvore que lembrava bastante aquelas do bosque lá perto de casa. Ajeitei os óculos no rosto, acertei o foco e, ainda incrédulo, me levantei e fui conferir de perto. Era mesmo uma araucária.

Para quem não é do Paraná, é mesmo difícil entender o valor de uma araucária

Perguntei a uma funcionária do parque como uma espécie nativa de um lugar tão distante fora parar ali. Ela gentilmente me explicou que originalmente a área do parque fora adquirida em 1840 pelo comerciante português Francisco Alvarez, cuja esposa, Dolores Pérez, tinha o hábito de cultivar plantas exóticas no jardim de casa.

Com a morte do casal, o filho, Salvador Alvarez, usou parte da herança para rodar o mundo como marinheiro. E aproveitou as viagens para manter o hábito da mãe, agora com sementes de locais tão remotos quanto a Austrália e alguns países da Ásia. A moça não soube me dizer, no entanto, se o tal aventureiro passou aqui pelo Brasil. Pela araucária bem postada no meio do parque, deduzimos que sim. Anos depois, a neta de Salvador, Mercedes, casou-se com o engenheiro José Francisco Vergara, que batiza o parque e é o fundador da cidade de Viña del Mar.

Agradeci a explicação e voltei para perto da araucária. Um senhor se aproximou com o neto criança, também turistas brasileiros, mas, pelo sotaque, do Rio de Janeiro. Enquanto o senhor olhava para a árvore de mão dada com o guri, puxei papo. “Bonita essa árvore, não?”

“Meio estranha, na verdade”, respondeu, seco, o senhor, que se retirou logo em seguida.

Após esse curtíssimo diálogo, abri outra cerveja e brindei ao solitário pinheiro do Pacífico. Para quem não é do Paraná, é mesmo difícil entender o valor de uma araucária.

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