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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Volto a Nova York 25 anos depois da minha primeira visita. Sou uma turista como qualquer outra e, das minhas impressões sobre a cidade, anoto apenas três porque dizem respeito a mudanças universais de comportamento causadas pela tecnologia. É a transição entre uma era e outra. Os vencidos vão ficando pelo caminho e só não são esquecidos porque alguns de nós lamentamos seu destino.

Livrarias: Há poucas livrarias em Manhattan. É minha impressão ou é um fato? Procuro estatísticas e elas confirmam. Eram 400 lojas na década de 50 e, em 2014, dado mais recente que encontrei, havia 106. Ainda assim, a publicação de livros parece ir muito bem. Quando se entra em uma loja, o que se vê é uma oferta de livros grande e variada. Assim como no Brasil, expandiram-se muito as prateleiras com títulos para adolescentes e crianças. Se há tantos livros, é porque as pessoas estão lendo. E, se estão lendo, onde elas estão comprando os livros? Pela internet – é a resposta válida para boa parte dos leitores. Ou seja, em se tratando de livros, a mudança de comportamento diz respeito à forma de comprar, mas o hábito da leitura está preservado.

Se a tecnologia está mudando tudo, por que não mudaria a forma como nos relacionamos uns com outros?

Imprensa: As bancas de revistas (ou bancas de jornais, como preferir) estão minguando. Não apenas diminuiu a presença delas na cidade, como a oferta de produtos é muito modesta. Ainda há muitos títulos de revistas, nenhum deles muito popular ou influente. Os jornais se transformaram em raridade. Em Nova York só se encontra o New York Times e algumas publicações para grupos de imigrantes (vi tabloides em espanhol e chinês, por exemplo). Ninguém carrega um jornal embaixo do braço. Não há jornais abandonados no metrô. A situação dos diários é mais grave que a dos livros. Na transição entre o jornal de papel e o jornal on-line, muitos leitores pularam do barco. Meu colega Nils Kongshaw, um jornalista que trabalhou a vida toda em Nova York, diz que os novaiorquinos têm sorte de ainda ter o New York Times, que preserva a qualidade. Os jornais de Miami e Los Angeles, por exemplo, não estão conseguindo manter o nível do jornalismo que praticam enquanto lutam para sobreviver. Na transição entre o papel e o formato exclusivamente digital, a maioria dos jornais americanos está fazendo um jornalismo mais fraco. Meu colega americano pensa como eu: a sociedade ainda não se deu conta do risco que estamos todos correndo com essa situação de crise que vivem as empresas jornalísticas. Sem um jornalismo forte, a relação da comunidade com os poderes públicos e com o poder econômico ficará desequilibrada pelo menos até que um novo modelo vingue.

Casamento: Na tevê, chamam a minha atenção os vários comerciais de sites de relacionamento on-line. Essas agências de casamento modernas apresentam-se como uma saída para quem não quer perder tempo procurando companhia pelos caminhos tradicionais, supostamente demorados e arriscados. Se há tantas agências, deve haver clientela. Curiosamente, os anúncios parecem mirar nas mulheres. Quer dizer que há homens inscritos nesses sites de relacionamento em número suficiente, mas faltam mulheres? Ou as single ladies são o alvo das agências porque estão mais desnorteadas na busca pelo amor? Essas respostas eu fico devendo para vocês. De qualquer forma, se a tecnologia está mudando tudo em nossa forma de viver, por que não mudaria a forma como nos relacionamos uns com outros, como namoramos, amamos e casamos? Para o bem e para o mal.

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