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Ilustração: Felipe Lima |
Ilustração: Felipe Lima| Foto:

Perguntaram ao bilionário britânico Richard Bran­­son em que ele pensa quando acorda e ele respondeu: "Acho que, como todo mundo, eu penso no tempo". Estranha pergunta para se fazer em uma entrevista com um homem de negócios. Mas é uma boa pergunta. E boa a resposta, também, ainda que ele precisasse explicar o que quis dizer. Não entendi se ele pensa no tempo porque: (a) tem tanto o que fazer que já acorde preocupado com a agenda; (b) tem consciência de que está diante de um novo dia (e aí pode ser tanto um pensamento do tipo "um dia a mais para viver" como um "a vida está passando rápido..."); ou (c) ele calcula se pode ficar mais um tempinho na cama. Parece que Richard Branson mora nas ilhas Virgens, em frente ao mar do Caribe, em um chalé de estilo balinês e coberto com madeira brasileira (informações esdrúxulas essas, não? Tirei da revista Fortune). E parece também que ele acorda às 5 horas da manhã e começa imediatamente a trabalhar! Preste atenção em quantas canções populares falam do despertar. Deve ser porque acordar de manhã é simbólico. Você estava fora do mundo real, no mundo dos sonhos, tendo uma folga para não fazer nada, não tomar atitudes, e então tem de voltar. É hora de encarar a vida. O despertar também é associado a reinício, a nova vida. As músicas falam de tudo isso. E também dezenas de poemas, alguns muito bons.

Seja lá o que for que o despertar significa, para algumas pessoas não é fácil sair da cama. Não porque estejam deprimidas ou porque tenham passado a noite em branco ou porque sejam preguiçosas que nunca se tornarão bilionárias como o Richard Bran­­son – simplesmente essas pessoas funcionam assim. Entre os que despertam alegremente e nem titubeiam para correr para o banheiro, fala-se que é tudo uma questão de hábito. Pois acho que o hábito ajuda, mas não é tudo. Os cérebros não funcionam todos da mesma forma e aquele coquetel de substâncias químicas que os compõe varia um pouco de pessoa para pessoa. Esse "um pouco", diriam os neurologistas, faz toda a diferença.

O fato é que até a mais equilibrada e tranquila pessoa pode enfrentar uma quase-depressão ao ouvir o despertador pela manhã. Por que mesmo vou acordar? Maldita pergunta. Se ela te ocorre logo cedo, você está em maus lençóis. Desculpe a sinceridade, mas tenho que te dar uma bronca: isso lá é hora para pensar em grandes questões? Aliás, não é hora para pensar em nada. É hora para piloto-automático, isso sim: levantar, chuveiro e... Só aí dá para lembrar do tempo ou da agenda do dia. No lusco-fusco cerebral não se pensa – se age. Qualquer pensamento pode ter consequências desastrosas. Um dos mais perigosos é: "dá tempo para eu ficar na cama mais dez minutos" ou "vou ficar na cama um pouco, mas não vou cair no sono".

Acho lindo quem chega ao trabalho às oito da manhã e conta que correu uma hora no parque, passou na padaria, tomou banho, levou os filhos para a escola, deu ração para o passarinho, organizou o almoço e fez as palavras cruzadas do jornal antes de rumar para o batente. É de gente assim que o mundo precisa. Mas e se você não consegue ser assim? Aí a saída é não deixar a peteca cair (ou não largar os betes, como se fala muito em Curitiba). Insistir em manter a compostura, em acordar em horário decente para não perder os compromissos.

Depois de ouvir algumas mú­­sicas e passar os olhos por alguns poemas para me inspirar para este texto, tive a ideia de testar acordar com música para ver se ela me arranca da cama com a animação que cada dia novo merece. Música animada, do tipo I Can See Clearly Now, cantada pelo Johnny Nash. Se funcionar, um dia eu conto para vocês.

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