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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Dá para fazer um pouco de arqueologia social com os dados do IBGE sobre nomes próprios. Há nomes que desaparecem, modismos passageiros e modismos duradouros. Um exemplo de modismo duradouro é batizar os meninos com nomes de apóstolos e discípulos de Jesus e de anjos. Faz três décadas que as portas das maternidades se abrem para saírem delas milhares de Lucas, Mateus, Tiago, Gabriel, Marcos, Rafael, Daniel e Felipe. Nos últimos anos, eles vêm sofrendo a concorrência de prenomes que eram comuns em tempos idos, como Bento, escolhido por Joaquim Maria Machado de Assis para batizar seu personagem ciumento. Joaquim, registre-se, também está em ascensão. Já Capitu são apenas 21 no país inteiro, provavelmente inspiradas na esposa do Dom Casmurro.

É como se o gosto popular traçasse arcos no tempo: quando as novidades cansam, voltamos lá atrás em busca de alguma distinção.

Um exemplo de modismo duradouro é batizar os meninos com nomes de apóstolos e discípulos de Jesus e de anjos

Testei as graças de quatro cronistas que escreveram em jornais brasileiros a partir dos anos 30, quando começa o levantamento do IBGE: Carlos, Rubem, Clarice, Paulo e Rachel (Raquel).

Carlos e Paulo são um fenômeno à parte. Ainda que não se vejam muitos Carlinhos e Paulinhos nas nossas pré-escolas, estes nomes continuam muito presentes nas certidões de nascimento após mais de seis décadas de popularidade (o auge foi entre os anos 60 e 80). Provavelmente agora aparecem mais na forma de nomes compostos. Nomes compostos, aliás, agradam os brasileiros e explicam os milhões de Marias e Anas, de Luízes e de Joãos.

Voltando aos cronistas que peguei como amostragem, Raquel estava na crista da onda no censo de 1980, foi rareando, mas continua por aí. Clarice teve uma trajetória parecida, com a diferença de que voltou a ser popular no censo de 2010. Está em franca ascensão. Rubem, este sim, caminha para a extinção.

Nomes são abandonados ao longo do tempo. O que uma geração considerava bonito outra acha feio, o que era chique se torna folclórico. Josefas, Raimundos e Sebastianas aparecem muito na literatura brasileira produzida até a metade do século passado (“Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não uma solução”) porque eram comuns. Estão na lista dos mais populares antes de 1930. Foram escasseando desde o censo de 1960.

Outros nomes que sumiram a partir de 1970 e não voltaram: Teresa, Sônia, Vera. Cada um deles batiza menos de 2 mil mulheres no Brasil. E, no entanto, todos os três têm sonoridade agradável.

É bem conhecida a criatividade do brasileiro ao batizar os filhos, o que gera esquisitices infinitas. Muitas dessas invencionices devem ter ficado de fora da ferramenta do IBGE, que registra “os nomes cuja frequência é maior ou igual a 20 para o total Brasil”. Testei vários nomes que considero esquisitos, inclusive o meu, e só não encontrei dois. O que mostra que no Brasil a esquisitice é bem aceita e se propaga com facilidade.

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A beleza das palavras, 3. “Maria”: nome próprio mais popular do Brasil. Existe com essa grafia em mais de 15 idiomas.

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