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Rua Bispo Dom José, em foto de 1950. Nesse local será iniciada a obra do Boulevard Batel |
Rua Bispo Dom José, em foto de 1950. Nesse local será iniciada a obra do Boulevard Batel| Foto:
  • Foto da mansão da família Gomm já transformada em bolo de noiva. A casa, apesar de tombada, foi transferida para outro local. No terreno está sendo construído um mega-shopping, cuja obra vem sendo cercada de benfeitorias pelo município
  • Encontro das Ruas Comendador Araújo com a atual Benjamin Lins, onde começa a Avenida do Batel. Em 1941. O comércio local insiste em denominar a B. Lins de Av. Batel
  • O Boulevard Batel vai ter calçadas de concreto e espelhos d’água. Enquanto isso, a Avenida Luiz Xavier, a Boca Maldita, e quase todo o centro da cidade continua com o calçamento ondulado e perigoso e cujas poças de águas das chuvas são os únicos espelhos d’água que encharcam os pés dos pedestres
  • Placa de bronze em homenagem ao presidente Roosevelt instalada no Estádio do Juventus, então no Batel, pertencente à sociedade polaca de Curitiba. Foto de 1947. Tal tributo consignado aos americanos do Paraná soa extravagante. Até hoje se desconhece quem seriam os tais americanos

Não é uma maravilha? Você morar numa cidade em que pode se imaginar em Paris ou mesmo Nova Iorque, apesar de estar a milhares de quilômetros de ambas? Pois é, amigo leitor, residimos numa cidade que quer ser tudo, menos o que ela é. A Curitiba dos curitibanos. Tudo que acontece por aqui é jogado nas costas do pacato cidadão nascido aqui, nada recai sobre os ádvenas.

Tudo que deu certo foi feito por forasteiros. Entretanto, nunca estão enumeradas as coisas que deram com os burros n’água. Isso talvez se deva ao chavão que Curitiba é uma cidade sem portas – aliás um título merecido por ser o cidadão nativo uma minoria que vem se tornando cada vez mais acentuada desde os primórdios da década de 1950.

Recentemente aconteceu uma megarreunião de jovens na Praça da Espanha no bairro do Bigorrilho. O fato se deu porque uma jovem prenda, vinda dos pagos rio-grandenses, resolveu agrupar algumas amigas naquele local, em convite feito via internet. Choveu gente dos quatro cantos de Curitiba e adjacências. Foi uma espetacular esbórnia, ornada com muita sujeira e falta de compostura. Coincidentemente ficou sacramentada a denominação que certas casas comerciais da região pretendiam: Batel Soho.

Como muita gente não sabe o significado desse estranho Soho, grupo em que me incluo, fui atrás de tal definição. Está na internet, no blog Sinal VermelhoCuritiba.com, em ótimo texto, cujo autor prefere ficar anônimo. A explicação é curta e grossa: existe na cidade de Nova Iorque uma região de alto comércio que se situa ao sul da Rua Houston (South of Houston), razão da abreviação, tão ao gosto americano: SoHo.

No mesmo texto estão outras espinafrações, em que é apontado que o bairro do Água Verde virou Batel, o pessoal dos prédios de apartamentos do Bigorrilho insiste em proclamar que reside no Champagnat, assim como os moradores dos prédios do Mossunguê e de Campo Comprido se consideram nobres habitantes da Ecoville.

Que cada morador, imobiliária ou boteco, queira batizar sua propriedade nada contra, acabam ficando todos por conta do julgamento da coletividade. Existe um desses estabelecimentos que alardeia em sua fachada: Aqui é Batel! Apesar de estar instalado em frente do antigo Seminário Maior, que dá nome ao bairro. Em tal caso existe a desculpa de o proprietário não conhecer a geopolítica da cidade, pois o mesmo é procedente de Santa Catarina.

Agora, uma coisa é imperdoável. O poder público, a prefeitura, que obrigatoriamente deveria preservar a história e a tradição da cidade, estar metendo os pés pelas mãos, muitas vezes acabando com as coisas que identificam Curitiba, ou por uma questão de vaidade, como foi a troca do nome do bairro do Capanema por Jardim Botânico, ou então para ajudar algum empreendimento particular.

O bairro do Batel estará sendo agitado mais uma vez. A notícia já circula. Vai ser criado o Boulevard Batel em cima da Rua Bispo Dom José, no Seminário. E tem de ser a palavra francesa: Boulevard, cuja origem fica tão ao gosto dos arquitetos da Sorbonne do Juvevê. Tais sumidades jamais seriam capazes de usar o aportuguesado: Bulevar.

O projeto é genial, as calçadas serão de concreto, dizem ser as primeiras em tal material. Floreiras e espelhos d’água. O paisagismo então, nem se fala. Vai ser mexido da Pracinha em direção ao Seminário, talvez até na frente do boteco do Catarina, que colocou profeticamente na fachada do mesmo: Aqui é Batel!

Fica uma pergunta no ar: que tal parar de brincadeiras? Estancar de vez essa volúpia em desmontar a identidade de Curitiba. A cidade já tem mais de 350 anos e foi feita paulatinamente, com boas administrações. Não vai ser agora que toda a sua história seja transformada em cinzas, para delas renascer a Fênix dourada do sonho megalômano de políticos carreiristas e que se acham no direito de alardear que criaram uma nova Curitiba.

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