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Nos últimos dias, por força de uma missão pedagógica bacana (ministrar um módulo sobre Filosofia da Ciência em um curso de pós-graduação), tenho andado às voltas com artigos e livros que buscam explicar os filósofos gregos. Que, como observaram os alunos nos primeiros minutos de aula, deviam ser figuras bem estranhas por pensar no que pensavam e bem folgadas por encontrar tempo para ficar pensando em tudo aquilo. Não tenho quaisquer dúvidas quanto ao estranhamento: basta imaginar Demócrito quebrando coisas mentalmente atrás do átomo, Arquimedes planejando incendiar navios com espelhos ou Diógenes filosofando dentro de uma barrica para desconfiar de que algo caminhava meio fora da ordeira mediocridade.

Pena que as escolas de nossa época encontrem tantas dificuldades para contar as histórias dos filósofos gregos

Quanto ao tempo que eles dispendiam filosofando, não sei. Como fã, prefiro não imaginá-los deitados na grama olhando para o céu enquanto o povão lá embaixo, uma maioria de escravos, se danava fazendo a pólis funcionar. É possível que, muitas vezes, isso tenha mesmo acontecido. Houve, porém, filósofos escravos, como o próprio Diógenes, e gênios nascidos em famílias humildes, caso de Sócrates, filho de um escultor e de uma parteira.

Muito mais importante do que pensar em uma relação entre a mais-valia e o nascimento da Filosofia, de fato, é perceber que, em certo momento (provavelmente por volta do século 5.º a.C.), as cidades-Estado gregas tiraram os filósofos do campo das ideias e passaram a considerá-los merecedores de reconhecimento especial. E reservaram recursos, investidos por cidadãos interessados no refinamento intelectual, para que esses trabalhadores sutis tivessem condições para pensar e para ensinar.

É a partir desse movimento que vamos encontrar Aristóteles como preceptor de Alexandre da Macedônia e, 300 anos depois, Sêneca, que não conseguiu incutir virtudes em seu discípulo Nero. É a partir de então, enfim, que vamos conhecer as primeiras estruturas semelhantes às escolas de nossa época.

Pena é que as escolas de nossa época encontrem tantas dificuldades para contar essas histórias. Eu, mesmo, só fui descobrir os filósofos muito tarde, movido por uma curiosidade tão liberta de qualquer compromisso, imagino, quanto a dos primeiros pensadores gregos. E isso não é bom, inclusive por ser desafiador imaginar que eles chegaram tão longe contando com tão poucos recursos enquanto nós, com tantas ferramentas, perdemos tempo com uma enormidade de bobagens. Que voltem os filósofos!

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