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Falta pessoal para o início do ano letivo na rede estadual. No Cecília Meirelles (foto), só sobrou um dos dez funcionários de serviços gerais | Fotos: Ciciro Back/Tribuna
Falta pessoal para o início do ano letivo na rede estadual. No Cecília Meirelles (foto), só sobrou um dos dez funcionários de serviços gerais| Foto: Fotos: Ciciro Back/Tribuna
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Interatividade

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Outro lado

Secretaria diz haver condições para as escolas abrirem na 2.ª

Desde o início da crise, em janeiro, o secretário de Estado da Educação, Fernando Xavier Ferreira, não concedeu nenhuma entrevista para falar sobre os cortes adotados pela Seed e sobre as eventuais soluções para os problemas e reivindicações das escolas. Hoje, no entanto, ele deve romper o silêncio, em uma espécie de entrevista coletiva.

Por enquanto, as respostas da Seed foram repassadas via assessoria de imprensa.

Em relação ao corte de 30% no número de funcionários PSS, a pasta argumenta que a redução corresponde, em média, a um servidor por escola. Diz ainda que fará uma readequação dos profissionais entre as unidades, de forma a atender a todos.

Sobre o fundo rotativo, a Seed diz que o governador Beto Richa (PSDB) liberou R$ 4,2 milhões às escolas, referentes à primeira cota de 2015. A secretaria, no entanto, ainda não informou quando serão pagas as parcelas atrasadas do ano passado. A pasta destaca que, em 2014, foram repassados R$ 51 milhões em fundo rotativo.

A Seed garante que as escolas têm condições de iniciar o ano letivo na segunda-feira e não comentou a mobilização da APP-Sindicato e uma provável greve a ser decidida amanhã em assembleia a ser realizada em Guarapuava, região central do estado.

A pasta também disse que não há previsão para que os professores recebam o terço de férias e para que a rescisão dos PSSs seja paga.

Sem aulas

Sem fundo rotativo, diretor tira dinheiro do bolso para os consertos

Os 700 alunos de um colégio estadual do Boqueirão, na Região Sul de Curitiba, vão ter as férias estendidas. O diretor da unidade prefere preservar o nome dele e do colégio – nunca se sabe se pode haver mal entendido ou uma represália –, mas adianta que não há condições de abrir as portas para a volta às aulas.

O problema são os mesmo de todos os outros colégios: o corte de pessoal, o desprestígio da categoria dos professore, o atraso das verbas do fundo rotativo para manutenção das instalações e s.

O colégio perdeu 15 professores contratados pelo regime PSS. Segundo o diretor, ainda faltam entre 15 e 20 aulas para serem supridas, o que representaria a necessidade de pelo menos seis professores. Isso já considerando o limite do aceitável para a carga horária. Foi difícil até se manter concentrado e interessado na semana pedagógica. A unidade também perdeu cinco funcionários da área de limpeza.

Não há clima possível que não seja em apoio à greve na Educação. É com essa disposição que cinco professores desse colégio vão se juntar no fim de semana em Guarapuava à assembleia da categoria que vai decidir ou não pela paralisação do setor. "Daqui, todos vão votar a favor [da greve]", diz o diretor. Há outros motivos para tamanho descontentamento.

O colégio tem R$ 10 mil a receber do fundo rotativo do governo do estado, valores atrasados desde o fim do ano passado. Como a unidade tinha reparos urgentes a serem feitos, o diretor tirou R$ 2 mil do próprio bolso para trocar os vidros quebrados e fazer a limpeza do entorno do estabelecimento.

"O governo é bom de propaganda. As pessoas dizem ‘olha, o governo está dizendo no site que liberou tantos milhões para as escolas’. Só se liberou no site, porque para as escolas o dinheiro não vem", ironiza o diretor.

  • Cortes na rede de ensino atingiram também pessoal do setor administrativo e de serviços gerais

Com ou sem greve dos professores, a ser decidida amanhã em assembleia geral, milhares de alunos da rede estadual de ensino não poderão voltar às aulas na segunda-feira, conforme prevê o calendário letivo. Muitas escolas da rede estadual do Paraná não vão abrir os portões. O motivo é a falta de condições para receber os alunos. Desde a última semana, os colégios estaduais se veem às voltas com o corte de funcionários e as incertezas quanto ao quadro docente.

Somam-se a esse esvaziamento das escolas o calote no terço de férias dos professores e nas rescisões trabalistas dos professores temporários contratados via Processo Seletivo Simplificado (PSS), a falta de merendeiras e o atraso do fundo rotativo (verba destinada à manutenção das instalações e a compra de materiais necessários para a rotina escolar).

Ontem, cinco colégios da região Norte de Curitiba e um de Almirante Tamandaré, na região metropolitana, anunciaram que não vão abrir as portas na segunda-feira. Outras três unidades – o Colégio Cecília Meireles, no Bairro Alto, o Colégio Moradias Monteiro Lobato, no Tatuquara, e outra escola no Boqueirão – também deixaram claro que não têm como receber os alunos em sala. Na terça-feira, o Colégio Manoel Ribas, na Vila das Torres, já havia comunicado que não teria condições de funcionar na data programada para a volta às aulas.

Todas essas escolas foram afetadas drasticamente pela determinação da Secretaria de Estado da Educação (Seed) de cortar 30% dos servidores PSS. Além disso, as escolas ainda não conseguiram fechar o quadro docente para este ano letivo e sofrem com atraso no repasse do fundo rotativo. Não são raros casos em que os diretores tiraram dinheiro do bolso para cobrir as despesas de reformas.

"Mesmo se a greve não for deflagrada, o [Colégio] Cecília Meireles não vai abrir na segunda-feira, por pura falta de condições", diz o diretor da escola, João Alberto de Souza. "Eu não tenho dinheiro nem para comprar uma vassoura para a escola. De dez funcionários de serviços gerais, ficou uma. A situação é mais do que drástica", acrescenta.

Para a APP-Sindicato, que representa a categoria, a inviabilidade de iniciar o ano letivo atinge todas as escolas do estado. Em Maringá, a diretoria da entidade manteve contato com as 33 escolas que compõem a rede. Nenhuma delas deve receber alunos na segunda-feira. "Além da falta de estrutura e de funcionários, há um sentimento de revolta e de descontentamento", diz o diretor da APP-Sindicato, Luiz Carlos dos Santos.

Temporários

Como o número de docentes efetivos é insuficiente, o governo vem recorrendo aos professores temporários, contratados via PSS, para o ano letivo conforme a demanda. A APP-Sindicato estima que, em 2015, sejam necessários pelo menos 15 mil temporários para completar o quadro. Nesta semana, o governo anunciou a contratação de 10 mil. Por enquanto, nenhum chegou às escolas consultadas pela Gazeta do Povo.

"Nós deveríamos estar em 'semana pedagógica' [em que a direção define o cronograma do ano letivo], mas faltam professores para mais da metade da nossa grade. Não houve planejamento. Ninguém fez nada", lamenta o diretor de um colégio do bairro BoaVista.

No Tatuquara, colégio perdeu 68% do pessoal

O Colégio Estadual Moradias Monteiro Lobato atende 2,3 mil estudantes do Tatuquara, em Curitiba. Por causa da falta de vagas, a unidade já funciona sem parar durante 16 horas por dia, das 7 às 23 horas. Agora, também vítima do corte de pessoal, não tem condições de reiniciar as aulas na segunda-feira. E não é por motivação política. Dos 90 professores que o colégio dispunha, restaram 32 – a maioria era contratada pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS). "Simplesmente não temos professores para entrar em sala de aula", lamenta o diretor do colégio, Getúlio Della Torres Júnior.

As perdas da escola se estenderam ainda ao setor administrativo, com cinco baixas, e aos serviços gerais, no qual houve três dispensas. Como é muito grande, o Moradias Monteiro Lobato contava com quatro diretores auxiliares. Um deles foi desligado. Ao todo, o quadro de pessoal foi reduzido de 140 para 45 profissionais. "Quem deveria reagir assim é o secretário estadual de Educação", disse o diretor do colégio ao ouvir a reação de espanto da reportagem. Nessas condições, mesmo com toda a boa vontade fica difícil abrir as portas para o início do ano letivo.

Não bastasse o quadro minguado de funcionários, Júnior ainda tem mais do que se queixar. Há cinco meses o governo do estado não deposita o dinheiro do fundo rotativo, usado para fazer frente às necessidades de pequenos serviços no dia-a-dia do colégio. O débito já chega a R$ 18 mil. Sem o dinheiro, todos têm de pôr a mão na massa. "A nossa sorte é que temos uma equipe muito unida", diz Júnior. Agora, com a equipe reduzida é que são elas. Como vai ser ele não sabe. "Vamos ver o que vai dar pra fazer."

O governo federal também contribui com sua cota de descaso para agravar a crise em colégios como o Moradias Monteiro Lobato. Ali, pelo menos 40% dos livros didáticos deste ano letivo ainda não chegaram. Algumas disciplinas estão mais desfalcadas do que outras, mas praticamente todas estão com algum déficit. A disciplina de inglês, por exemplo, conta com apenas 30% do material.

Sim à greve

Os profissionais da educação se revoltaram com o "pacotaço" do governador Beto Richa (PSDB), que visa alterar a aposentadoria, as licenças e o vale-transporte da categoria. Nota da APP-Sindicato diz que a proposta do governo "aprofundou de vez a crise e o caos que já era generalizada nas escolas (sic)". O sindicato acredita que a greve será referendada por unanimidade na assembleia de amanhã em Guarapuava.

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