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Nilza Brazão esperou dois anos por uma consulta por um tratamento não completo: “Vamos tomando remédio para aguentar” | Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Nilza Brazão esperou dois anos por uma consulta por um tratamento não completo: “Vamos tomando remédio para aguentar”| Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

Controle

Filas de espera não são monitoradas por falta de informatização

No Paraná, a organização da fila é feita pelas secretarias municipais de Saúde que têm gestão plena, ou seja, gerenciam os serviços mais complexos de saúde, como internações do SUS em hospitais públicos e privados e consultas especializadas. Dos 399 municípios, 69 têm gestão plena.

A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) confirma que a fila de espera de todos os municípios não é monitorada pelo estado porque o sistema de acompanhamento não é integralmente informatizado. Em julho do ano passado, a Sesa lançou o Sistema Estadual de Regulação, que consiste num programa para melhorar o gerenciamento de leitos, exames e consultas especializadas. Só 92 municípios já estão integrados ao sistema. A previsão do governo estadual era de que todas as prefeituras estivessem interligadas até abril deste ano. As capacitações ainda estão em andamento nos outros 307 municípios.

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A espera por uma consulta com um médico especialista de um plano de saúde não pode levar mais de 14 dias, segundo uma resolução editada em 2011 pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, do governo federal. Mas a própria União não estabelece limites para o paciente da rede pública. No Paraná, uma consulta com um médico especialista pode demorar até três anos.

A diarista Nilza Brazão Brussolo, 54 anos, moradora de Londrina, Norte do estado, esperou dois anos por uma consulta com um reumatologista. Ela descobriu que tinha artrite depois de uma consulta no posto de saúde do bairro onde mora, mas o tratamento não prosseguiu. "Enquanto o atendimento não chega, vamos vivendo como Deus quer. Tomando analgésico, remédio para aguentar a dor quando ela ataca", diz.

Nilza continua na fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS), mas desta vez para uma consulta com um gastroenterologista. Depois de fazer uma série de exames e constatar que tinha uma bactéria no estômago, a paciente deveria ter retornado ao especialista há um ano. "Depois desse tempo todo, os sintomas de queimação no estômago voltaram. Tenho que continuar esperando, mas até quando não sei", lamenta.

Um relatório da Diretoria de Regulação de Atenção à Saúde, ligada à Autarquia Municipal de Saúde de Lon­drina, indica que as consultas marcadas por pacientes da região podem demorar até 3,3 anos para ocorrer.

A especialidade com maior demanda é a de dermatologia. O tempo de espera chamou a atenção do Ministério Público. O promotor Paulo Tavares abriu um procedimento administrativo no último dia 2 para que a prefeitura de Londrina explique o porquê dos prazos. A prefeitura não retornou à reportagem.

Em Maringá, leva-se em média de seis a oito meses para conseguir uma consulta com um médico ortopedista. A especialidade tem a maior demanda na rede pública, com 6,4 mil consultas e cirurgias para apenas 19 ortopedistas. Nas demais especialidades, conforme informações da Secretaria Municipal de Saúde, o tempo de espera não ultrapassa três meses.

Curitiba

Esse também é o período médio de espera para pacientes prioritários da área de oftalmologia em Curitiba. Os pacientes menos graves ficam até sete meses na fila para serem consultados. O diretor de Redes de Atenção à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, César Mon­te Serrat Titton, explica que a oftalmologia recebe em média 6,5 mil pacientes por mês para um quadro de 63 oftalmologistas. Desde o mês de abril, a fila vem caindo porque a prefeitura conseguiu aumentar a oferta de consultas. Em agosto, houve cerca de 10 mil consultas.

A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde explica que os municípios e estados são responsáveis pela regulação das consultas especializadas e, por isso, não pode estabelecer prazos de atendimento.

Especialistas no Paraná são 60% do total

O número reduzido de especialistas interfere no tempo que o paciente permanece na fila de espera. Em São José dos Pinhais, na região metropolitana, quem precisa consultar um neurologista sobre seus problemas de saúde espera em média dois anos. A Secretaria Municipal de Saúde informa que há apenas dois profissionais nesta especialidade.

Os números do Conselho Regional de Medicina (CRM) no Paraná mostram que dos 20,8 mil médicos do estado, 12,6 mil têm alguma especialidade. O presidente do órgão no estado, Alexandre Gustavo Bley, considera que a administração pública é responsável pelas filas. "Os especialistas sofrem do mesmo mal que a classe médica inteira sofre: a falta de estruturação através de carreira", diz. Segundo ele, o número de especialistas nas prefeituras pode aumentar se as administrações municipais contratarem os profissionais por meio de concurso público e oferecerem plano de carreira para os médicos. (MGS)

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