O primeiro contato que tive com um bar aconteceu lá pelo meado do ano de 1940, quando fomos, pai, mãe e o então pivete aqui, então com menos de 5 anos. Acontece que não era bem um bar, era um botequim, conhecido como Botequim do Nhonhô, então nosso vizinho na Avenida do Batel. O sortimento daquele boteco se restringia a cachos de bananas, garrafas de gasosas e doces como: suspiros, marias-moles, balas de gomas e balas Zequinha.
Algumas garrafas de cachaça e outras de capilé, bebidas que eram misturadas nos copos servidos nos finais de tarde aos operários do engenho de mate, que ficava em frente, e a outros que trabalhavam na fábrica de cera e graxa para sapatos estabelecida logo adiante, na esquina da Rua Capitão Souza Franco. O que chamava a atenção, até dos passantes, era o odor que o botequim exalava; era o aroma das bananas maduras misturada com o cheiro da cachaça misturada com capilé que estava impregnado no assoalho de madeira, graça às talagadas que os fregueses derramavam "pro santo".
Conforme a idade avançava os bares foram sendo visitados. Sorvete, dolé e esquimó eram degustados no bar do Parque Cruzeiro. Nas andanças mais distantes éramos fregueses do boteco do Ismael Werneck na volta da Água-Verde, esquina da Avenida Iguaçu com República Argentina, onde a piazada comprava suas balas Zequinha, sendo o local afamado pelo volume de prêmios que tais balas ali distribuíam.
Conforme se ia crescendo os bares iam nos acolhendo. Gasosas e Colinha do Hugo Cini, a espetacular gengibirra de então (a atual não chega nem perto com o seu sabor). A Coca-Cola apareceu em 1947, tinha que ser bebida gelada senão dava dor de barriga, o paladar também era outro. O tempo passou, já de maior, agora dava para partir para uma cervejinha, um vinhote de Colombo, cada gole um tombo. Aí vieram as misturas da juventude, o Cuba Libre e o famoso Samba em Berlim, esse último era uma mistura de Coca e cachaça inventada pelos atores Grande Otelo e Orson Welles, no Rio de Janeiro.
Hoje, após setenta anos das primeiras marias-moles e balas Zequinha, girando pelas noites boêmias de Curitiba, Paranaguá, Londrina, Rio de Janeiro e sei lá quantos outros balcões, só resta uns goles de chope ou cerveja da boa, para recordar os bares da vida e a fauna humana que os frequentaram e ainda frequentam. Estamos ilustrando a Nostalgia de hoje com fotos de bares de Curitiba e coisas afins.
Lembrando um dos bares que frequentei, quero homenagear uma figura muito especial que conheci no final da década de 1950, o José Vieira Negrão, que por este nome muita pouca gente conhece, agora como: Zézito, é figura pública. Com o Zézito aconteceu o seguinte: Em 1959 estava, junto com mais companheiros de jornal, lançando uma promoção que elegeria a Rainha dos Bairros de Curitiba, para promover o evento portei alguns cartazes para serem fixados no então Esporte Clube Água Verde, cuja sede ficava na Rua Bento Viana esquina com Brasílio Itiberê. Na expectativa de encontrar algumas taxinhas ou percevejos para fazer a tal fixação nada consegui, então alguém sugeriu para ver se no bar em frente não teria alguma coisa para pregar os tais cartazes. Incontinenti lá fomos e, mesmo da porta perguntamos: "O senhor por um acaso tem percevejos aí?"
O homem atrás do balcão fitou-nos com cara de bonachão e foi logo dizendo: "Não amigo, percevejos ainda não temos, mas baratas, muquiranas, aranhas e até algum rato tem!"
Mal-entendido, o dono do bar era do Norte do Paraná e por lá percevejo era o próprio inseto e não servia para designar as tachinhas como eram conhecidas aqui em Curitiba. Muito riso se dá até hoje com tal causo. O Zézito prosperou com seu bar que agora está sob o comando do filho José Antonio, o Juca. O véio aposentou-se e foi morar em Maringá e, por questão social (o casamento da neta Carol com o bancário Roberval Teixeira), está em Curitiba, ocasião em que os velhos amigos o estarão abraçando no seu antigo reduto, o Bar do Zézito.
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