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Paulo, de 84 anos, integra grupo de voluntários que está despichando o Centro de Curitiba | Diego Pisante/ Gazeta do Povo
Paulo, de 84 anos, integra grupo de voluntários que está despichando o Centro de Curitiba| Foto: Diego Pisante/ Gazeta do Povo

Campanha despiche

A preservação das fachadas do comércio e de casas é tema de uma nova campanha editorial da Gazeta do Povo. Reportagens mostrarão as iniciativas de empresários, moradores e poder público, ao mesmo tempo em que discutirão medidas para coibir a ação dos pichadores.

Mobilização

Mutirão vai limpar imóveis em quatro regiões de Curitiba no domingo

Quatro regiões de Curitiba serão alvo neste domingo, das 9 às 13 horas, de um mutirão para restaurar e preservar fachadas que foram pichadas. A iniciativa é da Associação Comercial do Paraná (ACP). A campanha "Pichação é crime. Denuncie" ganhou força em fevereiro, quando cerca de 100 voluntários usaram pincéis e latas de tinta para "despichar" imóveis da Rua XV, que neste domingo receberá nova ação, além das Ruas Isaac Ferreira da Cruz, Trajano Reis e Marechal Floriano Peixoto. Qualquer voluntário pode participar, diz o vice-presidente da ACP, Camilo Turmina. O material está sendo doado por comerciantes. Os voluntários estão sendo estimulados a tirar fotos do antes e do depois da fachada despichada e enviar para danielle.pereira@acp.org.br.

Registros da Guarda Mu­­nicipal nos últimos quatro anos comprovam uma realidade no coração de Curitiba. Mesmo que as denúncias de pichações tenham se alastrado para outros bairros desde 2009, o Centro continua sendo a região mais visada por pichadores. Ano passado, 14% das ocorrências registradas foram nas imediações de pontos como a Praça Tiradentes e a Rua XV.

INFOGRÁFICO: Confira quais são as regiões com mais denúncias de pichação em Curitiba

Das 1.149 denúncias, 159 partiram do Centro. Bairros próximos também aparecem na lista dos mais frequentados por pichadores (veja infográfico ao lado). Faltam dados sobre a origem dos infratores, mas é possível notar que boa parte das ocorrências fora da região central se concentra ao longo de duas linhas estruturais do transporte coletivo: as que ligam o Centro aos terminais Santa Cândida, Pinheirinho e Boqueirão.

A geografia das pichações e as estatísticas da Guarda Municipal dão conta ainda de um comportamento que parece estar se sedimentando, se levado em conta o aumento expressivo de denúncias feitas ao poder público. As ocorrências em janeiro e fevereiro deste ano já equivalem a 29% do total de registros no ano passado. Para o diretor da Guarda, não são os pichadores que estão mais atuantes, e sim os curitibanos que não têm mais tolerado a prática.

"Não houve aumento de pichações, pelo contrário. O que aumentou foi a confiança da população na Guarda e o conhecimento sobre o canal correto para fazer as denúncias. Agora, quem liga para o 153 já sabe que o ideal é passar os dados dos pichadores com a maior precisão possível", diz o diretor da Guarda Municipal, Claudio Frederico de Carvalho.

Apesar de a avaliação ser um argumento típico de órgãos de segurança para explicar o aumento de índices ligados a denúncias e apreensões, é fato que a ajuda da população tem sido útil. Até a última quarta-feira, 78 pichadores foram flagrados e detidos pela Guarda este ano no momento em que atacavam alguma fachada – o equivalente a 36% de todas as apreensões feitas em 2012. Dos 78 flagrantes, 44 envolveram crianças ou adolescentes e 34 adultos.

VoluntariadoOurives empresta as mãos de artista para limpar o concreto

O ourives Paulo Cornelis de Geus, morador de Curitiba desde o início da última década, é conhecido como seu Paulo entre os amigos e clientes de uma joalheria na Rua XV. Um senhor simpático e bem disposto, considerando seus 84 anos bem vividos. Só fica um pouco ranzinza quando se depara com os rabiscos e desenhos abstratos feitos com spray em uma parede qualquer ali do Centro.

Aí, não tem muita conversa. Principalmente se começar a pensar no cenário que encontrou quando chegou à capital, no ano 2000, com prédios e comércios até então pouco pichados. Bons tempos. "A pessoa capricha, faz um muro bonito, se preocupa, e aí acontece um absurdo desses."

Seu Paulo, porém, não é daqueles que só reclama de braços cruzados. Num domingo de descanso, foi para a Rua XV com pincel e lata de tinta a tiracolo para despichar paredes e portas do Calçadão. Outras cem pessoas o acompanharam. Foi bonito de ver.

Neste domingo, se o tempo colaborar, tem mais. Seu Paulo, porém, já adianta: não quer ter de enfrentar a queda de braço com os pichadores por muito tempo. Torce para que a gurizada deixe de vez os sprays. "Educação é a solução. Educar essa juventude incentivando o respeito à propriedade alheia. Se no meu tempo de piá a gente fizesse isso, nem te conto..."

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