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Dia desses, o designer Marcos Tavares – editor-executivo de imagem da Gazeta do Povo – teve a pachorra de contabilizar que tamanho teria uma edição normal do jornal se fosse feita em livro. Ele mesmo se surpreendeu: a turma da redação escreve em média 250 mil caracteres/dia, aproximadamente 200 páginas. O resto da conta, idem, é um espanto: em uma semana de trabalho, os 150 profissionais da casa lotariam uma estante. E em tese, a cada ano, formariam uma boa biblioteca de 336 volumes.

A ideia do livro, aliás, persegue quem trabalha em jornais. Volta e meia alguém pergunta por que as empresas não lançam em livro tais ou tais séries de matérias, gerando obras de entrevistas, de reportagens bombásticas ou coletâneas de comportamento. A resposta de quem atua no ramo é sempre a mesma: a graça do jornal é ser esse grande livro desmontável em que tragédias, taxas financeiras, horóscopos, obituários e palavras cruzadas convivem por 24 horas, quando enfim envelhecem e dão lugar a uma nova combinação, saída do forno.

Mas aqueles que teimam em ver livros dentro do jornal não estão de todo errados. Há mesmo matérias que duram mais tempo do que outras. Ficariam bem num livro ilustrado, capa dura, papel cuchê. Não raro, quando as encontramos, arrancamos a página, salvando-as do destino ingrato dado aos impressos do dia anterior. Pode servir para uma pesquisa escolar dos filhos. Talvez para mostrar a alguém. No jargão profissional, esses escritos são chamados de "textos para guardar". Os perfis fazem parte dessa categoria.

Não se sabe com exatidão quando as "histórias de gente" ganharam as páginas dos jornais, mas é provável que tenham surgido na imprensa diária já na década de 1930, nas boas revistas americanas. Para aquele público, grandes narrativas humanas sobre fracasso, vitória, superação servem como uma luva. Os EUA são por excelência a pátria dos super-heróis. Mas não raro especialistas veem a atração pelo personagem como uma herança do mundo grego, na qual um homem sempre encontra sua própria tragédia, glória e destino.

Por essas e outras, difícil encontrar um repórter que não sonhe escrever um perfil. No início deste ano, 13 jornalistas da redação da Gazeta do Povo decidiram não só dar vazão ao desejo como fazê-lo juntos, numa série com começo, meio e fim. O desafio seria simples: cada perfil tinha de ser bom o bastante para que o leitor tivesse vontade de guardá-lo.

A pesquisa sobre quem seriam os perfilados durou pouco mais de dois meses e gerou uma lista de nada menos do que 63 nomes. Cada redator apostou em dois e saiu em busca de um fotógrafo (11 participaram), co-autor do perfil. Não havia restrição de pessoa, desde que atendesse duas condições: que fosse um semianônimo, ou seja, alguém conhecido apenas dentro de uma pequena ou média rede de contatos; e que tivesse deixado alguma contribuição real à comunidade. Não valia eleger alguém pelo exotismo ou pela fama, objetos de desejo dos perfiladores em todos os tempos.

O resultado surgiu a partir de 25 de julho, quando foi publicado com o perfil do africano Wilson Madeira, líder do grupo Meninos Cantores de Angola, assinado pelo jornalista de política Rogério Galindo, com fotos de Jonathan Campos. Madeira tinha 4 anos quando ganhou de um vizinho uma granada de presente e ficou cego. Seu país estava em guerra civil. A vida dele vale um livro.

O mesmo se diga do discreto oc­­­­togenário Eleuther de Alencar dos Guimarães Vianna, o parnanguara aristocrático, um dia monge beneditino, que sacudiu o provincianismo curitibano ao desenhar roupas com luxo e estilo. O cantor angolano vive na Avenida Sete de Setem­­­bro. Eleuther, na Avenida Mariano Torres. Ambos passam ao nosso lado. É o que uma matéria de perfil ajuda a perceber. E não é di­­­­ferente com os outros 18 perfis pu­­­­blicados pela Gazeta do Povo neste ano. Todos poderão ser acessados no formato e-book, aqui no site da editoria Perfil.

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