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Michel Bezerra Henriques Rosa estuda Administração Portuária na Unespar de Paranaguá e trabalha na área. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Michel Bezerra Henriques Rosa estuda Administração Portuária na Unespar de Paranaguá e trabalha na área.| Foto:

As universidades e o setor produtivo têm muita dificuldade para dialogar e buscar resultados em comum. Esse é um consenso entre acadêmicos, empreendedores e representantes da iniciativa privada. Mesmo no Paraná, onde universidades estaduais estão em 33 cidades, em todas as regiões a interação é baixa. Os dados mostram que a indústria não recebe informações relevantes das instituições de ensino, não faz parcerias significativas e a inserção de mestres e doutores nos parques fabris é mais baixa do que a média nacional.

Os dados mais recentes da Pesquisa de Inovação do IBGE (Pintec), divulgada em 2013, mostram que a parceria entre indústria de transformação e universidades é preocupante no Paraná. Das 3,4 mil fábricas que implantaram inovações em um ano, apenas 9% obtiveram informações altamente relevantes das instituições universitárias. O porcentual é o mais baixo dos 14 estados avaliados na pesquisa: a média brasileira é de 16,7%.

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O levantamento se refere a instituições de ensino de todas as categorias, mas reflete bem a condição das estaduais, pois representam grande parte das vagas ofertadas por universidades públicas – mais direcionadas à pesquisa. Segundo os dados do Censo do Ensino Superior, 55% das vagas públicas são de instituições mantidas pelo governo estadual; no Brasil, a proporção é de 31%.

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Também é reduzido o número de parcerias entre a academia e setor privado no Paraná. Das indústrias com inovações, apenas 1,8% teve parceria de alta ou média relevância com universidades paranaenses. No Brasil, o porcentual é de 4,8%. Para Mariana Foresti, gerente regional da Endeavor no Paraná, entidade de apoio ao empreendedorismo, esses dados comprovam a falta de conexão. “Vejo que se produz muito conteúdo científico, mas pouco é aplicado à inovação efetiva nas empresas”, avalia.

Isso se deve, em grande parte, à burocracia, avalia Filipe Cassapo, gerente executivo do Senai C2i – Centro Internacional de Inovação. “Temos uma ciência de qualidade e temos boa vontade de ambas partes, do setor privado e universidades, para que o processo de transferência de tecnologia ocorra. Nossa fraqueza encontra-se, infelizmente, na burocracia necessária para acelerar esse processo, dando a ele uma agilidade compatível com as exigências de um processo de inovação”.

Um agravante é a falta de cultura de inovação, opina Sandro Vieira, presidente do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade. O Brasil tem número reduzido de pesquisadores (mestres e doutores) atuando nas indústrias, muito abaixo do de outros países. Segundo o Ministério do Trabalho, em 2014 o Paraná tinha 101,5 mil mestres com emprego formal, dos quais apenas 3,8 mil (3,8%) na indústria de transformação. No Brasil a proporção é um pouco maior: 4,4% de 1,4 milhão. Entre os doutores, dos 6,2 mil do Paraná, apenas 116 (1,9%) atuam na indústria de transformação; no Brasil, são 2,8% do total de 83,7 mil. “A inovação somente ocorre no mercado, ou seja, seja com a conexão direta entre pesquisa e indústria”, diz.

O economista Cássio Rolim, pesquisador do impacto das instituições de ensino nas regiões, ressalta que há um diálogo mais intenso entre organizações privadas e academia, mas que ainda falta a institucionalização da parceria.

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Se falta integração entre universidades e indústrias para inovar, na formação de mão de obra qualificada as parcerias estão consolidadas. Várias instituições estaduais de ensino têm cursos direcionados para as atividades econômicas mais importantes da região. Por exemplo: a Unioeste, de Cascavel, oferece de Hotelaria e Turismo no câmpus de Foz do Iguaçu, e de Engenharia Química em Toledo, cidade com grande número de indústrias farmacêuticas. A UEL e a UEM, que ficam em regiões têxteis, oferecem Moda na graduação das universidades estaduais. A Unicentro oferta os cursos de Engenharia Ambiental e Florestal em Irati, um polo madeireiro.

A Unespar Paranaguá tem o curso de Administração voltado para a atividade portuária, que foi a opção escolhida por Michel Bezerra Henriques Rosa, de 22 anos. Ele também já fez uma pós-graduação em Gestão Empresarial e Sustentabilidade na instituição, e agora atua em uma agência portuária. Segundo Michel, a maioria dos colegas que se formaram com ele já estava inserida no mercado de trabalho antes de concluir o curso. Ele decidiu pela graduação porque já tinha vínculo com a área, e ficou satisfeito com o curso. “Fui capacitado não apenas para fazer o que mandam, mas para resolver os problemas e, principalmente, evitar que eles ocorram”, resume.

A grade curricular abrange as disciplinas tradicionais de administração, mas com foco na principal atividade parnanguara: a portuária. “São tópicos pensados regionalmente: comércio exterior e porto. Não tem como deixar totalmente dependente de um nicho apenas”, explica a coordenadora do curso, Geórgia da Cunha Ben.

Em Foz do Iguaçu, a graduação em Hotelaria da Unioeste foi uma resposta à demanda da região, diz a coordenadora do curso, Lavínia Rachel Martins de Martins. “Existe um grande interesse, tanto que o sindicato dos hotéis do município paga a inscrição no vestibular de todos os colaboradores dos hotéis conveniados, como incentivo à formação”, conta. Segundo ela, ainda não há uma demanda tão grande pela graduação – a concorrência é baixa – porque são muitas as empresas com perfil familiar na cidade. Outra barreira é a falta de regulamentação da profissão hoteleiro.

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