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O curitibano Alison Karas virou chefe de cozinha na Irlanda. | Lucas Gabriel Marins
O curitibano Alison Karas virou chefe de cozinha na Irlanda.| Foto: Lucas Gabriel Marins

Os brasileiros tomaram conta da Irlanda, em especial os paranaenses. Basta andar algumas quadras na capital Dublin ou entrar em algum hostel da região para ouvir um “estou apurado para ir ao banheiro” ou um “alôcooooooo”, expressões típicas do “curitibanês”. Só a Egali Intercâmbios, uma das maiores agências do segmento, enviou 450 alunos para o país em 2014. E a expectativa para este ano é que o número aumente em 30%.

Escândalo fez governo irlandês mudar regras

O Ministério da Educação da Irlanda fez uma reforma regulatória do setor de educação internacional e do regime de imigração estudantil no início do ano. Isso porque escolas como a Eden Colege, que já foi presidida pelo ex-ministro da Educação Batt O’Keeffe, funcionavam apenas como “fachada”. Vendiam cursos e emitiam o visto de estudante sem dar aulas. Agora elas precisam ter o selo de qualidade Advisory Council for English Language Schools (ACELS).

O governo também estipulou novas regras para se trabalhar. Segundo as mudanças, enquanto estuda o aluno pode trabalhar apenas 20 horas por semana. E ele só poderá fazer 40 horas semanais nos meses de maio, junho, julho e agosto (férias e verão na Europa) e entre 15 de dezembro e 15 de janeiro (recesso de fim de ano). Até ano passado, era possível fazer essa carga horária no período em que o estudante não estivesse na escola.

A facilidade é o principal motivo da procura, segundo Márcia Aquino Bretano, supervisora de marketing da Egali. “Na Irlanda, o aluno pode estudar e ainda trabalhar legalmente no período de estudo”, relata. O economista Eduardo Gonzaga, 28 anos, foi para a terra dos leprechauns com a namorada em junho de 2013.

“Vim para aprender inglês, pois não estava interessado em demandar quatro ou cinco anos de estudo de idioma no Brasil. Se você colocar na ponta do lápis, o valor de um intercâmbio de um ano aqui é o mesmo que o gasto em um curso de longa duração em nosso país. E aqui eu aprendi mesmo”, diz.

De acordo com relatório do irish Naturalisation and Imigration Service (Serviço de Imigração e Naturalização Irlandês), o Brasil encabeçou a lista de pedidos de permissões de vistos temporários em 2014, sendo responsável por 12% do total de requisições feitas naquele ano, que foi de 95 mil.

Quanto custa?

O curso de inglês de um ano na Irlanda custa, em média, R$7,5 mil, quando comprado direto com a escola. O aluno estuda por seis meses e tem direito a ficar mais seis de “férias” no país, período que pode ser dedicado exclusivamente ao trabalho. Além de exigir a compra do curso, o governo pede que o estudante leve pelo menos 3 mil euros (quase R$ 10 mil) para provar que consegue se sustentar por um tempo enquanto não encontra emprego.

Existe a possibilidade de fazer um master (mestrado) no país. Enquanto estuda, o aluno também pode trabalhar. Algumas instituições oferecem bolsas de estudo, como o Trinity College e a Dublin City University. Cada uma tem seu próprio processo para a escolha dos candidatos. Mas existem outras, como o Griffith College, em que é possível comprar um curso.

O preço para não europeus custa, em média, 7 mil euros (por volta de R$ 24 mil). Para ingressar em algum, é preciso provar proficiência em inglês. Tanto o Griffith como as outras universidades do país pedem nota mínima de 6.5 no International English Language Testing System (IELTS), teste que avalia o conhecimento na língua.

O estudante pode encontrar trabalho em pubs, lojas, hotéis ou até se aventurar como freelancer. Foi o que fez a publicitária Ana Paula Pereira da Silva, 23 anos. Quando chegou ao país, em 2013, ela trabalhou como editora de um vídeo e analista de mídias sociais com profissionais liberais. “Foi uma experiência interessante, mas hoje prefiro estar em um emprego fixo, pois me inscrevi em diversos mestrados no Reino Unido. Já fui aceito em alguns.” Hoje ela atua como recepcionista em um hostel.

Escolher uma agência de intercâmbio exige pesquisa e atenção

Antes de escolher uma agência de intercâmbio, é preciso pesquisar. Basta colocar o nome da agência no Google ou no Reclame Aqui, a “rede social do consumidor”, para encontrar opiniões de outros estudantes. No Facebook existem alguns grupos, como o “Classificados Dublin”, em que também é possível encontrar estudantes brasileiros na Irlanda.

Para Paulo Grassi, diretor da World Place Intercâmbio & Turismo, que enviou 46 paranaenses para a Irlanda no ano passado, conversar com quem já fez intercâmbio é a melhor forma de descobrir se a agência é de confiança.

“Acho que a pessoa deve verificar a idoneidade da agência e do proprietário, mas principalmente pedir referência a outras estudantes. Classifico isso como o mais importante”, relata.

Quatrocentos e dez estudantes brasileiros que haviam comprado intercâmbio na BFA Intercâmbios ficaram desamparados no fim de 2013. Quando estavam prestes a embarcar, a agência fechou as portas. O ex-diretor, Daniel Oliveira, disse na época que a empresa não tinha mais dinheiro para nada.

Existe a possibilidade de fechar o intercâmbio sozinho, sem intermédio de agência, como fez o economista Eduardo Gonzaga, de 28 anos. Ele entrou em contato com a escola, via e-mail, e encontrou acomodação em sites imobiliários de Dublin.

“É uma alternativa. Mas acho que para quem tem alguma dificuldade com a língua é mais interessante fechar com uma agência, pois ela prepara todo o trâmite, inclusive de acomodação”, diz.

“Virei chefe de cozinha”

O curitibano Alison Karas, de 29 anos, é formado em sistemas de informação. Ele foi para Dublin em 2013 junto com a mulher. No início, procurou vagas na sua área de formação. “Não consegui. Fiz algumas entrevistas, mas nada deu certo”, conta.

Enquanto estava sem emprego, ele virou “dono de casa”. Limpava, organizava tudo e fazia a comida para a esposa, que havia conseguido um trabalho em um restaurante. “Eu nunca tinha cozinhado nada. No Brasil, fiz no máximo um churrasquinho para os amigos”, confidencia.

No fim do ano passado, o restaurante em que sua companheira trabalha abriu uma vaga para chefe de cozinha. Karas se inscreveu e conquistou a posição. Hoje ele é responsável por fazer as entradas do menu. “Tomei gosto pela coisa”, conta sorridente o novo chefe, que ainda dá uma dica para quem deseja estudar e trabalhar fora. “Venha preparado para o imprevisto.”

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