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Entenda as diferenças entre as agressões sexuais |
Entenda as diferenças entre as agressões sexuais| Foto:

Análise

Vigilância constante

Se o banco de dados evitar que ao menos uma criança seja abusada, já valeu a pena. Esta é a opinião de quem defende o projeto de lei. A delegada titular do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), Ana Claudia Machado, afirma que outros países que utilizam esse tipo de cadastro tiveram bons resultados. "A população tem o direito de saber se há um agressor próximo de seus filhos. Não podemos generalizar, mas as chances de essa pessoa continuar cometendo crimes são grandes", argumenta. Ana Claudia acredita ser fundamental alterar a legislação para que os condenados possam ser monitorados mesmo após o cumprimento da pena.

Para o promotor Murillo Digiácomo, do Centro de Apoio Operacional às Promotorias (Caop) de Infância e Juventude do Ministério Público do Paraná, há pontos positivos no projeto, mas também muitas ressalvas. "Não sei se execrar publicamente essas pessoas seria a melhor solução, já que a pena também tem o caráter da ressocialização. Por outro lado, há na agressão sexual uma tendência de reprodução desse comportamento violento." (PC)

Medidas extremas

Outros projetos polêmicos sobre agressores sexuais:

Castração química

Projeto apresentado em 2007 pelo senador Gerson Camata (PMDB-ES) pretende acrescentar ao Código Penal a pena de castração química para condenados pelos crimes de agressão sexual. A medida já é adotada nos Estados Unidos e em alguns países da Europa e consiste na aplicação de determinados medicamentos para reduzir a libido. O texto permite que o condenado não-reincidente possa aderir voluntariamente ao tratamento químico. Para os reincidentes, o tratamento será obrigatório. O projeto aguarda votação.

Prisão perpétua

O senador Magno Malta (PR-ES) quer que o Congresso se reúna para aprovar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que cria a pena de prisão perpétua para agressores sexuais de crianças e adolescentes. Para isso seria necessário uma mini-constituinte, já que o tempo máximo de prisão no país, 30 anos, é uma cláusula pétrea. A justificativa do senador é que a pedofilia não tem cura e não há possibilidade de ressocialização.

O que fazer com um agressor sexual? Como a Justiça e a sociedade devem agir nos casos em que a dignidade sexual de crianças e adolescentes está em jogo? Um projeto de lei que tramita no Senado reacendeu a polêmica sobre como a Justiça brasileira deve tratar esse tipo de criminoso. Proposta da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) prevê a criação de um banco de dados nacional com informações sobre os condenados por este tipo de delito. O cadastro teria nome completo, fotografia, endereço residencial e comercial. O acesso seria público e qualquer cidadão poderia investigar se existe um criminoso próximo de sua residência. Segundo a senadora, isso ajudaria e prevenir novos crimes.

O modelo já existe em alguns locais nos Estados Unidos, notadamente no estado da Flórida, onde somente em Miami há 393 criminosos cadastrados. A proposta brasileira é inspirada na norte-americana e seria possível qualquer pessoa realizar uma busca geográfica ou por código postal. Constariam no banco de dados desde condenados até quem está em progressão de regime ou liberdade provisória. O projeto de lei tramita em caráter terminativo na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado e se aprovado segue para a Câmara dos Deputados.

Dois lados

A questão gera controvérsias por diversos motivos. A principal justificativa para esse tipo de banco de dados é que o agressor sexual contra crianças e adolescentes dificilmente se cura. Ou seja, o criminoso pode até cumprir toda a pena estipulada pela Justiça, mas é quase certo que vá continuar cometendo delitos quando for liberado, daí a necessidade de vigilância constante.

No caso da pedofilia, por exemplo – que é considerada uma doença –, a ciência ainda não conseguiu descobrir as causas e nem uma cura. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, em dez anos de tratamento a pedófilos no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o psicólogo Antônio de Pádua Serafim atendeu apenas dois pacientes que procuraram o serviço de maneira voluntária antes de cometer um crime.

Serafim coordena o Núcleo de Psiquiatria e Psicologia Forense do Hospital e faz o tratamento desse tipo de agressor. "Quando estão privados de liberdade, eles aderem ao tratamento, mas fora deste contexto é difícil controlar os fatores que podem desencadear a agressão. Não há como prever. Mas ainda assim, acredito que políticas preventivas seriam mais eficazes."

Assim como Serafim, alguns especialistas defendem que o melhor seria investir na prevenção e no tratamento desses transtornos. Hoje, por exemplo, não há nenhuma política nacional que trate agressores sexuais. Há apenas iniciativas isoladas realizadas por algumas universidades. O atendimento aos criminosos não cura, mas pode ajudar a conter os delitos. Outra saída seria investir no monitoramento eletrônico, feito por tornozeleiras eletrônicas.

Família

Quem critica a proposta o faz argumentando que, na maioria das vezes, o abusador não é al­­guém de fora. Pesquisas mostram que entre 80% e 90% dos ca­­sos o pedófilo é conhecido da criança e na maior parte das vezes pertence à família. Por isso, o melhor seria investir em programas de fortalecimento familiar e ampliar a participação da escola, para que situações de risco sejam percebidas e prevenidas.

O senador Magno Malta (PE-ES), relator da proposta e presidente da Comissão Parla­­mentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, afirma que nos Estados Unidos o banco de dados auxilia a prevenir e desvendar crimes. "Esse tipo de gente não é ressocializável. Isso possibilitará que o cidadão descubra se tem um pedófilo no mesmo quarteirão do colégio do filho. Ajudará a coibir novos crimes."

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