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A direção acadêmica da PUC de São Paulo entregou recurso na segunda-feira (4) ao cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e grão-chanceler da universidade, contra a decisão de vetar a cátedra Michel Foucault.

Essa é a última medida institucional possível para evitar a devolução dos áudios de aulas ministradas pelo pensador francês entre 1971 e 1984 no Collège de France.

A PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo é a única instituição fora da França a ter acesso ao material, doado numa parceria que começou em 2011, com intermediação do Consulado Geral da França em São Paulo e outras nove universidades estrangeiras.

Ainda que não tivesse sido oficializada, a cátedra já tinha permitido, na prática, um intercâmbio mais intenso entre pesquisadores brasileiros e instituições internacionais, com, por exemplo, doutorados de cotutela (dois orientadores) em Paris e Bordeaux, na França, e no Canadá.

A cátedra funcionaria como um centro internacional de estudo e pesquisa sobre a obra de Foucault (1926-1984), que era homossexual e morreu em decorrência da Aids. Crítico das instituições de controle social como o presídio e o manicômio, o francês é autor, entre outras obras, de “Vigiar e Punir” e a “História da Sexualidade”.

O Conselho Superior da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC, composto por dom Odilo, cinco bispos e a reitora, Anna Maria Marques Cintra, vetou a criação da unidade no final do ano passado.

Desde então, os representantes acadêmicos da cátedra dentro da PUC adotaram medidas para reverter a decisão. Os professores Márcio Alves da Fonseca e Salma Muchail chegaram a se reunir com o cardeal de São Paulo.

O recurso final protocolado é assinado pelo Conselho Universitário, composto pela reitoria, os diretores de todas as unidades da PUC e representantes discentes, docentes e de funcionários.

Também são coautores o Conselho da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes, da qual Fonseca é diretor, e o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão.

A Fundação São Paulo não tem um prazo previsto de resposta ao recurso. No documento, os autores defendem o “caráter estritamente acadêmico” e a isenção ideológica da cátedra, que fora aprovada “com louvor” pelo Conselho Universitário.

O centro de estudos não traria custos extras ou despesas administrativas à universidade, de acordo com os proponentes. Ao contrário, poderia trazer financiamentos como o já feito pelo Consulado da França para a realização de colóquio sobre Foucault, que foi cancelado devido ao veto à cátedra.

Há ainda um prejuízo simbólico, diz Salma Muchail, que é professora emérita da PUC e titular da Faculdade de Filosofia. “Internamente, a PUC não vê por que impedir um instrumento que só traz ganhos, dignifica e internacionaliza a universidade.”

A PUC já possui um grupo de estudos sobre Foucault composto por quase 40 pessoas, que realiza atividades regulares de pesquisa sobre os desdobramentos da obra do pensador.

Já há cátedras em atividade como a João Paulo 2º, da Faculdade de Teologia, cujo objetivo é debater o tema da “nova evangelização”.

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