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Embora existam 2.252 licenças de táxi, apenas 12 autorizatários já fizeram o recadastramento | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Embora existam 2.252 licenças de táxi, apenas 12 autorizatários já fizeram o recadastramento| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Identificação digital

Prefeitura vai fiscalizar frota por meio de sistema biométrico

A Urbs deve começar a testar em setembro um sistema de biometria nos táxis de Curitiba em uma tentativa de fiscalizar a frota de forma mais efetiva. Por meio desses aparelhos, a empresa espera garantir que 100% dos táxis em operação estejam em circulação em horários de pico e que 70% deles estejam nas ruas em tempo integral. O órgão também quer garantir que os autorizatários dirijam os veículos em um terço do período.

O modelo a ser implantado prevê que o taxista se identifique digitalmente no início de cada jornada, com um i-button – dispositivo com chip, que contém informações cadastrais do profissional e do veículo. A cada corrida, o motorista também será identificado a partir de um leitor biométrico, instalado junto ao taxímetro. Com isso, além de garantir a circulação ideal da frota de táxis, a Urbs espera minimizar a ocorrência de fraudes.

"Todas as informações ficarão registradas nos taxímetros. No mínimo, a cada seis meses vamos analisar essas informações, a partir dos relatórios emitidos pelo sistema de cada veículo", explica o gestor da Urbs, José Carlos Pereira Filho.

Custo

A empresa vai testar o modelo biométrico em dez táxis, por um período de 60 dias. A ideia é que os 750 novos veículos que serão licitados até o fim do ano comecem a rodar com esse sistema. "A implantação no restante da frota vai ser gradativa. Se não tivermos problemas, em menos de um ano, toda a frota contará com o dispositivo", estima. Os custos dos equipamentos, entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, serão arcados pelos próprios taxistas.

Belo Horizonte

Taxistas recorrem à Justiça para acabar com sistema similar

O modelo biométrico a ser implantado em Curitiba é inspirado no adotado em Belo Horizonte. O problema é que, na capital mineira, o sistema está longe de ser uma unanimidade, marcado por uma série de falhas técnicas e de contestações. Por causa disso, o Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários (Sincavir) entrou com uma ação judicial, com objetivo de acabar com a obrigatoriedade de adesão ao sistema.

De acordo com o sindicato, o leitor de biometria trava constantemente, atrasando o início das corridas. "Temos muitos problemas. Na maioria dos casos, taxista e cliente chegam a esperar mais de cinco minutos para o sistema ler a digital do condutor", disse o diretor do sindicato, Avelino Moreira.

O Sincavir reclama ainda do custo de instalação do sistema biométrico – entre R$ 2 mil e R$ 3 mil – que deve ser arcado pelos taxistas. Por enquanto, o sistema de identificação funciona em 400 táxis, cujas licenças foram licitadas recentemente.

Em nota, a BHTrans, autarquia municipal que administra o serviço de transporte local, informou que os dispositivos serão implantados gradativamente nos outros 6 mil táxis da cidade. O sistema será instalado quando os taxistas trocarem de carro ou substituírem os taxímetros.

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O recadastramento das 2.252 licenças de táxi de Curitiba iniciado pela Urba­­nização Curitiba S/A (Urbs) em agosto estimulou o mercado clandestino de concessões do serviço. As placas vêm sendo negociadas às pressas por quem teme perdê-las. Contrariando a lei, os "donos" não dirigem os táxis, mas alugam ou arrendam os veículos a outros motoristas. A Urbs reconhece a dificuldade em coibir o comércio ilegal.

A negociação das placas parte de um patamar elevado: R$ 80 mil. Em alguns casos, o taxista que vende a concessão também entrega o veículo "no pacote". A reportagem localizou três autorizatários (donos das licenças) que estão se desfazendo das placas. Há anos, eles não dirigem os táxis.

Um deles revela que negociou a licença com o motorista a quem alugava o táxi e que a transferência já teria sido formalizada junto à Urbs. "Eu não estava dirigindo fazia um bom tempo. Então acabei passando [a autorização] para esse ‘meu motorista’", contou. "Mas não é difícil encontrar outras na praça."

Outro ex-taxista, que ainda tenta vender sua concessão, não dirige o táxi há pelo menos oito anos, desde que um derrame o afastou do volante. "O meu filho não quer [a placa], a minha filha não quer, então eu vou passar para frente", disse. Questionado se a transferência poderia causar algum problema, ele afirma que é possível burlar a fiscalização.

Mau negócio

A lei municipal que rege o serviço permite que cada autorização seja transferida uma única vez, desde que o "beneficiário" já trabalhe como taxista, mas não tenha placa. Por isso, o mercado clandestino se sustenta a partir do próprio setor, de taxista para taxista. Em geral, os compradores não têm esperança de serem contemplados com uma das 750 concessões que serão licitadas neste ano. "Quem tem placa está vendendo para os próprios ‘funcionários’", disse um condutor, que indicou um "amigo" que queria se livrar da concessão.

O gestor da área de táxis da Urbs, José Carlos Gomes Pereira Filho, garante que a empresa não recebeu denúncias referentes ao comércio ilegal, mas reconheceu que é difícil coibir a prática. "Se o beneficiário atender as condições da legislação, nós não podemos nos negar a fazer a transferência, a não ser que haja uma denúncia formal ou provas [de que a placa tenha sido comprada]", disse.

Para ele, quem compra as concessões está fazendo um mau negócio, já que elas não poderão ser transferidas novamente. "A pessoa que deseja ‘investir’ nisso tem que ter ciência de que, dela, a autorização não vai para mais ninguém", ressalta.

Pente-fino deve recolher até 700 placas, prevê sindicato

O Sindicato dos Taxistas do Paraná (Sinditáxi-PR) estima que, após o recadastramento, até 700 placas sejam recolhidas pela Urbs. Segundo o presidente da entidade, Abimael Mardegan, essas licenças estariam nas mãos de "investidores" que nunca dirigiram os táxis e as alugam a motoristas que não detêm concessões. No início do ano, a Gazeta do Povo revelou que médicos, advogados e servidores públicos administram placas na capital. "Esperamos que essas autorizações sejam relicitadas e distribuídas a quem, de fato, exerce a profissão de taxista", disse Mardegan.

Os autorizatários têm até 14 de outubro para apresentar à Urbs a documentação exigida no recadastramento. Cada caso será analisado pela procuradoria jurídica da empresa. Se a situação estiver regularizada, a autorização é recadastrada. Se forem encontradas irregularidades, a licença pode ser cassada pela Urbs. Não há prazo para que a empresa conclua as análises. Por enquanto, apenas 12 autorizatários encaminharam os documentos.

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