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Passageiro apertado contra a porta: excesso de gente a cada viagem. | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Passageiro apertado contra a porta: excesso de gente a cada viagem.| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Passageiros reclamam de aglomeração

O problema de superlotação não é novo. Uma pesquisa encomendada pelo Sindicato das Empresas de Transporte Urbano e Metropolitano de Curitiba e Região (Setransp), realizada em setembro de 2007, mostrava que a lotação excessiva, os ônibus insuficientes e a demora são as principais reclamações dos usuários do transporte coletivo de Curitiba e dos 13 municípios que compõem a Rede Integrada de Transporte (RIT). "Andar de ônibus chega a ser desumano. É preciso ter mais respeito pelas pessoas. Somos carregados como bichos", reclama Nadir Paraízo, líder comunitária.

De acordo com a Empresa Araucária, o ligeirinho comporta uma lotação máxima de 110 pessoas. Contudo, não é possível saber quantas estavam no ônibus no momento do acidente. "O motorista não tem como ter controle de quantas pessoas estão entrando naquele carro. Não há um sistema para isso", explica o gerente de operações da Empresa Araucária, João Francisco Stocco. O motorista Luiz, que prefere não ser identificado, explica que a fiscalização realizada pela Urbs diz respeito apenas ao cumprimento do horário. "O fiscal da Urbs não vai aplicar uma multa ou impedir a saída de um carro por excesso de passageiros. É como se um funcionário de uma empresa qualquer estivesse multando sua própria companhia ou criando problemas para o próprio chefe", diz.

Conforme Stocco, a empresa tem levantamentos sobre a média de passageiros. De acordo com os dados, "a linha direta Araucária transporta uma média de 7 mil pessoas por dia útil entre a praça Rui Barbosa e o Terminal Central de Araucária. São 120 viagens diárias, com um intervalo médio de 6 minutos entre elas. A linha tem 20 veículos em operação e a idade média é de cinco anos".

De acordo com a lei municipal 12.597/08, a lotação máxima nos ônibus não pode ultrapassar seis passageiros por metro quadrado. A assessoria da Urbs informa que chegou a fazer 400 mudanças de tabela na RIT, com a inclusão de carros extras no ano passado, para evitar superlotação nos ônibus. (TC e VB)

Revolta na web

Centenas de internautas deixaram comentários ontem sobre a morte de Cleonice no portal da RPC (www.rpc.com.br).

Veja alguns trechos abaixo:

Negligência

"A negligência com que os passageiros do transporte coletivo em Curitiba são tratados está refletida neste acidente.

Já é habitual os ônibus andarem com o número de passageiros acima do permitido. Isso é revoltante, é vergonhoso.

Que Deus conforte a família desta moça."

Karin Clemente

"Se não fosse trágico seria até cômica a frase ‘evite permanecer nesta área’. Como se os ônibus em horário de pico estão sempre lotados?"

Adriana Hittinger

Queda

"Usei muito essa linha. A superlotação não é um problema recente. Há tempos que só prometem melhorar esta linha e nada é feito. Eu mesma ja caí algumas vezes, durante o embarque ou desembarque."

Alijee Silvia Muraro

  • Aglomeração impede que passageiros fiquem longe das portas.
  • Como aconteceu

A perícia técnica vai investigar como a auxiliar de serviços gerais Cleonice Ferreira Gouveia, 29 anos, caiu de um ônibus ligeirinho em movimento. Após a queda, Cleonice foi atropelada pelo próprio veículo e morreu na hora. O acidente aconteceu ontem, por volta de 7h10 da manhã, na Rua Vicente Michelotto, no CIC. De acordo com a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), empresa responsável pela Rede Integrada de Transporte, uma análise preliminar dos técnicos apontou a possibilidade de falha mecânica no dispositivo de segurança. O laudo definitivo deve ficar pronto em 15 dias.

A diarista Maria Joana Mota Matsumoto, 48 anos, era uma das passageiras do ônibus em que Cleonice estava. Como as duas pegavam o ônibus no mesmo horário, no Terminal da Vila Angélica, Maria Joana diz que conhecia Cleonice de vista. "Estava sempre bem vestida, bem arrumada", conta. Segundo Maria Joana, o ônibus estava completamente lotado quando Cleonice embarcou. A auxiliar de serviços gerais teria enroscado o salto de seu sapato na porta do ônibus, deixando-a entreaberta. Mesmo assim, o ligeirinho teria arrancado. Segundo passageiros, esse tipo de situação é comum na linha Araucária. "Você está na lata de sardinha. Não dá para se mexer", reclama a auxiliar de serviços gerais Elizabeth Ferreira.

Durante a viagem Cleonice tentou soltar o sapato da porta, sem sucesso – foi obrigada a permanecer perto da porta. Cerca de um quilômetro depois, a porta em que Cleonice estava teria se aberto completamente, fazendo com que a passageira se desequilibrasse. "Acho que a porta não tinha encaixado direito", diz Maria Joana. Outro passageiro ainda teria tentando segurá-la pela blusa. "A roupa dela rasgou e ela acabou caindo sem a blusa. A roda de trás do ônibus passou pela cabeça e pelo braço dela. Foi então que o motorista parou o ônibus", lembra Maria Joana. "Não sei nem como ele percebeu, porque o ônibus estava completamente lotado", conta.

Houve tumulto. Passageiros gritavam e choravam. "Um rapaz chegou a desmaiar. Queriam linchar o motorista, mas depois desistiram", conta Maria Joana. Outra passageira do ônibus, que preferiu não se identificar, conta que o pior horário para usar a linha é entre às 6h30 e 7h15. "Está lotado todos os dias. As pessoas andam empurrando a porta sempre", diz. Motorista de ligeirinho, Luiz (que optou por não informar o sobrenome) afirma que a dificuldade em cumprir a tabela de horário obriga a andar em alta velocidade. "Quem está na porta acaba forçando ainda mais", diz.

O motorista do ônibus, Silvestre Farinhaque, foi procurado pela reportagem, mas a responsável pelo ônibus, Empresa Araucária Transporte Coletivo Ltda, informou que, por orientação psicológica, ele não concederia entrevista. Ele será afastado do serviço para receber acompanhamento e treinamento.

A empresa afirma que o ônibus, fabricado em 2004, tem dispositivo eletrônico de segurança. O veículo não arranca se a porta estiver aberta – informação confirmada por três motoristas de ligeirinho consultados. Outro dispositivo, que pode ser acionado por passageiros em caso de emergência, será analisado pela perícia. De acordo com o gerente de operações da Araucária, João Francisco Stocco, os ônibus passam por manutenção semanal. "Estava tudo funcionando", diz.

Em nota, a Urbs manifestou "profundo pesar pelo acidente ocorrido" e informou que determinou uma "perícia completa para se determinar as causas do acidente", cujo "laudo definitivo deve ficar pronto num prazo de 15 dias". Segundo a empresa, o ônibus também tem sinais de alerta aos passageiros junto às duas portas, com a frase "evite permanecer nesta área". Conforme o motorista Luiz, é impossível respeitar a orientação: "Com a quantidade de passageiros em determinados horários, não há como ficar longe", diz.

A Empresa Araucária se manifestou sobre o acidente por meio de nota oficial. O texto informa que a empresa "está profundamente consternada com o acidente ocorrido". A Araucária informa que está prestando todo o atendimento necessário aos familiares da vítima e que abriu um procedimento investigatório próprio para analisar as causas do acidente.

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Interatividade

O que deveria ser feito para reduzir a superlotação nos ônibus de Curitiba?

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