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Obras na praia de Guaratuba, onde local antes usado como estacionamento para carros está se transformando em espaço para ciclistas e pedestres | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Obras na praia de Guaratuba, onde local antes usado como estacionamento para carros está se transformando em espaço para ciclistas e pedestres| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Guaratuba

Carros vão dar lugar a pedestres e ciclistas em "estacionamento"

Em Guaratuba, uma das praias mais visadas pelos veranistas, o cenário das calçadas é diferente daquele visto em Pontal do Paraná. A mudança mais visível e comemorada para essa temporada é justamente a revitalização da orla marítima da Praia Central que, anunciada em março, deve ser concluída às vésperas do Natal. Apesar do transtorno, quem já foi à praia não se incomodou em dividir espaço com pedras e maquinário vislumbrando o benefício futuro. "Guaratuba precisava dessa obra há anos. Agora tem que ter paciência até acabar", avalia Mariane Lanz, curitibana que sempre bate ponto no balneário.

O trecho ao longo da Avenida Atlântida passará a contar com calçadas mais amplas, jardim, ciclovias, quiosques e banheiros. Com isso, espaços que antes eram ocupados por carros, agora serão aproveitados por pedestres e ciclistas. "Esse pedaço ao pé do Morro do Cristo era totalmente tomado por carros no fim do ano. Muitos chegavam pouco antes do Natal, estacionavam e só saíam dali depois do Ano Novo, dormiam na praia ou no carro mesmo. Era uma bagunça, uma sujeira", conta Jacqueline Sadzinski, 32 anos, dona de uma loja de artigos de praia em Guaratuba localizada em frente ao antigo "estacionamento".

Um clássico

O verão é marcado por dias mais longos do que as noites (em decorrência da proximidade da porção Sul da Terra em relação ao Sol), temperaturas elevadas e chuvas frequentes devido à evaporação, intensificada pelo calor. No Hemisfério Sul, ocorre entre 21 de dezembro e 20 de março, e no Hemisfério Norte, entre 21 de junho e 23 de setembro. O verão 2014-2015, segundo o Simepar, deverá ser clássico, com condições climatológicas típicas da estação, diga-se: muito calor e chuvas bem distribuídas, em pancadas fortes e breves quase todos os dias. No Paraná, desde 1999, quando começou a medição, a temperatura máxima média para o Litoral é de 37,7 °C nos três meses de verão.

  • Ambulante, Catarina reclama do acesso, dos buracos e do esgoto lançado no mar em Matinhos

Começa neste domingo o verão que promete ser um dos mais quentes dos últimos anos e, com ele, está dada a largada para mais uma temporada de areia e mar. O Litoral do Paraná deve receber 9 milhões de visitantes nos próximos dois meses, segundo estimativa da Polícia Militar, mas ainda há muito por ser feito nas orlas. O turista tem de estar preparado para enfrentar incômodos com obras inacabadas ou sequer iniciadas, caso de Matinhos.

Promessa de campanha do governador Beto Richa em 2010, a revitalização do trecho entre a Av. Augusto Blitskow e o canal da Avenida Paraná foi anunciada em maio, mas dezembro chegou sem sinal de obras. Conforme a prefeitura, a reforma não saiu do papel devido a um impasse burocrático entre a administração municipal e a Secretaria de Patrimônio da União.

O adiamento desapontou quem contava com a novidade para atrair mais turistas. "O acesso é ruim, tem muito buraco, tem muito esgoto lançado direto no mar. A gente espera que melhore, que seja mais arborizado, com mais espaço para o turista ficar mais tempo. Mas pelo jeito, só no ano que vem", queixa-se Catarina Santana, ambulante nas areias de Matinhos há mais de 15 anos cuja especialidade são as tapiocas e os crepes.

O projeto, de R$ 7,3 milhões, prevê a revitalização de 1,5 quilômetro de praia, com implantação de quiosques, melhoria de calçadas, recuperação ambiental e implementação de restingas para cultivar a vegetação da orla. A previsão é que as obras comecem após o fim da temporada.

Abandono

Em maio também foi divulgado um pacote de investimentos em Pontal do Paraná. A urbanização da orla ao longo da Avenida Deputado Anibal Khury, iniciada em junho, inclui a construção de calçadas, pistas para caminhada, sinalização e jardim, totalizando custos de R$ 1 milhão. A nova beira-mar deve ficar pronta apenas em fevereiro e os trabalhos não serão suspensos durante a temporada.

A professora Caroline Ecave, 28 anos, frequentadora do balneário desde criança, criticou o abandono do local e a morosidade das obras na orla. "O problema é que antes de começar a obra, em junho, destruíram por inteiro a calçada que existia. Com o passar do tempo, percebemos que a obra não avançava. Agora, chegamos ao fim do ano sem calçadão e sem acessibilidade nenhuma. Está pior do que antes. Quem vai querer vir para uma praia sem calçada, sem banco, sem banheiro?"

Além do trecho da avenida, outros 150 metros de calçadão no bairro Ipanema também terão de ser recuperados após parte da calçada ter sido removida a pedido dos comerciantes, sob a alegação de que os canteiros eram usados por vendedores de rua e como lixeiras, segundo a Secretaria Municipal de Planejamento. A reconstrução ficará para o ano que vem, pois ainda não há nem projeto, nem orçamento para a obra.

Burocracia leva culpa

A expectativa gerada pelo anúncio da obra de revitalização da orla de Matinhos, em maio, deu lugar à frustração de quem aguarda há muitos anos por melhorias em uma das praias mais tradicionais do Litoral do Paraná. Enquanto as vizinhas Guaratuba e Pontal do Paraná iniciaram a urbanização de suas orlas, Matinhos teve de adiar o empreendimento mais uma vez em função de um impasse com a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), órgão federal responsável por liberar intervenções no litoral brasileiro.

As autorizações estaduais para a realização da obra já foram concedidas, incluindo a liberação da verba e a licença ambiental do Instituto Ambiental do Paraná, mas sem a permissão do governo federal nada pôde ser feito. Segundo David Antonio Pancotti, chefe de gabinete da prefeitura de Matinhos, a demora para a liberação da SPU se deu em decorrência da complexidade do projeto, uma vez que a orla de Matinhos é tombada pelo governo do estado.

"Perguntam ‘como Guaratuba fez e Matinhos não?’. Nossa praia é tombada como patrimônio histórico e isso exige um projeto mais detalhado. Não é um projeto simples, não vamos apenas construir calçadas", disse, referindo-se à solicitada engorda da praia. Tão logo o contrato seja celebrado, a prefeitura analisará se alguma etapa pode ser iniciada sem prejudicar o veraneio.

Já o secretário de planejamento de Pontal do Paraná, Andrio Rossi, diz que o atraso na reconstrução da orla ocorreu por causa de um entrave na emissão da certidão do empreendimento pela prefeitura. Mas, segundo ele, até o Natal pelo menos as calçadas serão concluídas; o restante – instalação de bancos, passarelas e jardim – será finalizado até fevereiro. Para tanto, os trabalhos não serão suspensos durante a temporada.

Comerciantes dizem que não são ouvidos

De acordo com o presidente da Associação de Hotéis, Pousadas, Restaurantes, Bares, Casas Noturnas e Similares do Litoral Paranaense (Assindilitoral), Carlos Dalberto Freire, os empresários da região não são ouvidos pelo poder público. "Faz muito tempo que pedimos melhorias na orla de Matinhos e em outras praias, mas até agora nada. O mar carregou o acesso à areia em vários pontos, prejudicou a orla, e nada foi feito. O Paraná é o único estado do Brasil em que o governo não se interessa pelo litoral. As praias estão abandonadas. Aqui vivem 300 mil pessoas e, durante a temporada recebemos mais de 8 milhões de turistas", diz.

Leitores da Gazeta do Povo também apontaram os principais problemas de infraestrutura do Litoral paranaense: o mais citado foi a falta de revitalização das orlas. Matinhos, onde ficam os balneários de Caiobá e Gaivotas, também é alvo de críticas. Edson Chiste conta que ao visitar Gaivotas algumas semanas atrás encontrou uma praia sem chuveiros ou banheiros; já Luiz Gustavo Vidal Pinto reclama da vegetação nativa descuidada da orla de Caiobá. "A restinga está matando a praia; dá um aspecto de sujeira, tem ratos e cobras". Outra queixa comum diz respeito aos esgotos clandestinos lançados na água do mar.

O pedágio caro (R$ 16,80 pela BR-277 só ida) também foi citado. Para Rudinei Fonseca, o valor desestimula. "Vou até Itapema, em Santa Catarina, a 240 quilômetros de distância, e pago R$ 10,80 ida e volta". Já Alexya Fabri considera que a falta de policiamento e de infraestrutura urbana precária afugentam os turistas. "Além do pedágio caríssimo, os balneários são completamente esquecidos. Pontal do Sul é uma lástima. Não tem policiamento, calçadas na beira-mar ou asfalto."

Consumo dobra e Sanepar vai de caminhão-pipa

Durante a temporada, a produção de água tratada pela Sanepar mais do que dobra, passando de 700 mil metros cúbicos ao mês (em média) para 1,7 milhão de metros cúbicos. Para evitar falhas no abastecimento, a Sanepar irá disponibilizar nas cidades do Litoral caminhões-pipa, que coletarão água diretamente nas estações para atendimentos emergenciais (em hospitais, creches e em casos de interrupção da distribuição).

Desde a última temporada, pouco se investiu em coleta e tratamento de esgoto. De acordo com a Sanepar, apenas Guaratuba recebeu verba para a ampliação da rede de coleta. O empreendimento prevê a implantação de 158,6 quilômetros de rede coletora e deve ser concluído em junho de 2015 a um custo de R$ 41 milhões. O investimento irá beneficiar quase 30 mil pessoas e abranger 6.322 imóveis.

No primeiro semestre, o governo anunciou a ampliação da rede de esgoto que atende Pontal do Paraná e Matinhos. Mas a obra orçada em R$ 226 milhões deve começar apenas no primeiro semestre de 2015.

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