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O Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) alegou, em entrevista coletiva realizada nesta terça-feira (30), que o nome de vice-reitor da instituição de ensino, Rogério Andrade Mulinari, foi incluído na escala de trabalho da unidade hospitalar em decorrência do erro de um servidor. Um levantamento feito pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba e Região (Sinditest) apontou que Mulinari teria faltado 29 vezes em dez meses. O vice-reitor não participou da coletiva.

Mulinari tem duplo vínculo com a UFPR. Um deles é o contrato de 40 horas semanais como professor do curso de Medicina. Como é vice-reitor da instituição, ele não precisa cumprir a carga-horária em sala de aula. Além disso, ele foi contratado mediante concurso público em 1996, para atuar 20 horas semanais como médico do HC – neste caso, apesar de acumular o cargo na reitoria, ele precisaria apresentar-se ao trabalho normalmente.

O Sinditest cruzou as escalas de trabalho publicadas pelo HC com atas das reuniões dos conselhos universitários da UFPR e dados da agenda do vice-reitor, publicadas em matérias no site do HC. Desta forma, o sindicato constatou a incompatibilidade de horários em 29 dias, em que Mulinari não teria comparecido ao hospital universitário.

O gerente da divisão de atenção à Saúde do HC, Adonis Nasr, afirmou que o nome do vice-reitor constava erroneamente da escala de trabalho e atribuiu a falha a um funcionário do hospital. Ele disse que o HC deve instaurar uma sindicância para apurar o lapso. “Foi uma incongruência”, sintetizou Nasr, em entrevista coletiva. “Na prática, o nome dele [Mulinari] não teria que estar na escala”, completou.

Em nota, a UFPR e o HC acrescentaram que “observam-se inconsistências na escala mensal específica do servidor Rogério Andrade Mulinari, tanto no ano de 2014 quanto no de 2015, com meses em que foi lançada carga horária variável de 16 a 24 horas semanais, inclusive em período no qual estava legalmente de férias”. O comunicado acrescenta que os erros “transparecem ser deliberados”.

Apesar de concursado para o setor de nefrologia do HC, Mulinari na prática vem atuando na coordenação do Núcleo Universitário de Telessaúde da UFPR (Nutes). Segundo Nasr, o vice-reitor se dedicou à implantação da unidade desde 2010. Quando o núcleo foi lançado oficialmente, em dezembro de 2013, o médico passou a coordená-lo.

Insalubridade

Segundo o Sinditest, Mulinari recebe um adicional de insalubridade – que corresponde a 20% do que ganha como médico do setor de nefrologia HC. Mesmo não trabalhando, na prática, no setor de nefrologia, o médico continua a receber o dinheiro. Na coletiva, Nasr alegou não ter condições de detalhar a questão. “É preciso fazer uma avaliação do contrato dele”, disse.

Operação São Lucas

Há pouco mais de um mês, a Polícia Federal (PF) indiciou dez médicos do HC, por quatro crimes: estelionato, falsidade ideológica, abandono de função pública e prevaricação. Segundo as investigações, eles agiam como servidores “fantasmas”: recebiam salários sem cumprir a carga-horária para a qual foram contratados. Nos horários em que deveriam estar no HC, os médicos atendiam em clínicas e hospitais particulares, dos quais eram donos ou sócios. A operação foi batizada de “São Lucas”, em menção ao padroeiro da medicina.

Entre os indiciados, estão o presidente do Hospital da Cruz Vermelha do Paraná, Jerônimo Antônio Fortunato Júnior, e o diretor de hemobancos em Curitiba, Paulo Tadeu Rodrigues de Almeida. O salário de alguns dos indiciados passava de R$ 20 mil.

Em reação às denúncias, o HC disse que implantou o ponto-eletrônico e está fazendo o cadastro biométrico de todos os servidores. A expectativa é de que em um mês os registros de entrada e saída dos funcionários do hospital universitário já sejam feitos a partir da biometria. Segundo Nasr, os sistemas já melhoraram o controle dos horários dos trabalhadores. “Havia uma disparidade entre o início e fim de expediente dos servidores. Isso acabou com a implantação do ponto eletrônico”, disse.

Paralelamente, o HC instaurou processos administrativos disciplinares individuais contra cada um dos médicos indiciados. A perspectiva é de que os procedimentos sejam concluídos no início do segundo semestre deste ano.

Concurso

O Instituto IBFC, responsável pelo concurso para a contratação de servidores ao HC, divulgou nesta terça-feira (30), o resultado das provas objetivas do certame. Segundo a direção, os aprovados serão contratados via Ebserh e chamados gradativamente. A previsão é que os primeiros 80 novos funcionários cheguem ao hospital em outubro. No total, serão 1775 vagas (543 na área médica, 1005 na área assistencial e 227 na área administrativa), a serem preenchidas em dois anos.

Um levantamento divulgado pelo HC aponta que, com os novos profissionais, serão possível ampliar o número de leitos (de 406 para 632), dobrar o número de internamentos (chegando a 2,5 mil por mês) e quase triplicar o número de cirurgias (chegando 1,5 mil por mês).

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