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Antonella Rossi, 17 anos: uso exagerado do celular atrapalha os estudos e irrita o namorado | Antonio Costa/ Gazeta do Povo
Antonella Rossi, 17 anos: uso exagerado do celular atrapalha os estudos e irrita o namorado| Foto: Antonio Costa/ Gazeta do Povo

A estudante Antonella Rossi, 17 anos, não desgruda do aparelho celular. "Ele tem até atrapalhado os estudos para o vestibular", admite. Durante a aula, ela pede para as colegas guardarem o aparelho, para não cair na tentação de usar o seu. "Se eu estiver com ele, me perco totalmente", diz. Com o aparelho repleto de jogos e aplicativos fica difícil se concentrar. Além disso, ela se comunica, e muito. "Tenho plano ilimitado para um número favorito. Ligo de um em um minuto para meu namorado, que se irrita um pouco", conta.

Mas, para ela, celular é principalmente sinônimo de proteção: "Qualquer problema, posso ligar para alguém", diz. Na agenda, todos seus contatos, além de telefones de emergência. Quando observa a bateria do telefone acabando, bate o medo. "Tenho receio de me perder e não ter para quem ligar", conta. A empresária Michelle Nasser Daher, que tem dois celulares e um aparelho de rádio, também não gosta de ficar sem celular "Fico muito irritada, não consigo ficar tranquila, uso meus aparelhos para negócios e não dá para ficar sem", diz. Há quem se previna da irritação, como a relações públicas Paula Gill, que leva o carregador de celular na bolsa para o aparelho nunca ficar sem bateria.

Uma pesquisa de 2008 feita pelo Instituto YouGov com mais de 2 mil pessoas na Grã-Bretanha revela que as três não estão sozinhas. Os dados mostram que 53% dos entrevistados têm sintomas de angústia, palpitações e desconforto quando se veem longe de seus aparelhos celulares ou de seus computadores com internet. Os homens são mais propensos às sensações desconfortáveis – 58% admitem o problema. Metade das pessoas consultadas também revelou que jamais desliga o celular.

A pesquisa mostra ainda que 9% dos entrevistados afirmaram sentir "profunda ansiedade" na ausência do celular. Nesse patamar, parecem estar casos mais propensos a transtornos de ansiedade, ocasionados pela nomofobia. Segundo a psicóloga Ana Lúcia Spear King, do Laboratório de Pânico e Respiração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a chamada "dependência" ocorre em duas instâncias em nosso vocabulário. Quando dizemos "dependo de meu celular para trabalhar", trata-se de algo natural. "É ótimo ter um telefone para este fim", diz. A outra espécie de dependência se aproxima de algo patológico, como o vício em álcool ou drogas. "O fato de alguém passar o dia todo no celular não caracteriza nomofobia", afirma. O que demonstra a patologia são transtornos de ansiedade e pânico ocasionados pelo celular.

Conflito de mundos

Sobre transtornos de ansiedade, a psicóloga Neuza Corassa, do Cen­­­tro de Psicologia Especia­lizado em Medos, com sede em Curitiba, afirma que, em situações de ansiedade, pode acontecer de uma pessoa eleger algo como o eixo principal de sua vida. No caso de ficar sem este elemento, não consegue se concentrar em mais nada ou conviver com outras questões. "A tecnologia pode trazer algo nocivo para algumas pessoas, que acham que tudo funciona na velocidade das máquinas", diz. Para ela, isso pode gerar desespero e uma dificuldade de adaptação entre o mundo real e o mundo tecnológico. "O conflito pode aumentar a ansiedade, causar síndrome do pânico e até depressão", diz.

No Laboratório de Pânico e Respiração da UFRJ, uma equipe coordenada pelo psiquiatra Antônio Nardi atende pacientes com transtornos de ansiedade, entre eles a nomofobia. "Nosso tratamento age no comportamento das pessoas, com uma restruturação na maneira de pensar", diz Ana Lúcia. Segundo ela, a partir da reflexão, o paciente começa a compreender o que sente em relação ao que lhe causa medo e que isso não vai lhe fazer mal. "A pessoa vai entender que pode lidar com essas situações e vai mudando sua maneira de pensar e agir", completa.

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Interatividade

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