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“Valorizar as conexões, os pequenos momentos entre as pessoas”, esse foi o principal ensinamento carimbado no passaporte e na alma do músico e empresário curitibano Caio Kim, de 29 anos, após a experiência de cinco dias como voluntário na construção de casas sustentáveis em Tagounite, vilarejo rural situado na província de Zagora, sul do Marrocos.

Mais do que uma simples viagem, esse “projeto de vida” começou a tomar forma inspirado na iniciativa “Do For Love”, idealizada pela amiga e ativista Letícia Mello, que viaja por localidades da Ásia – Tailândia, Camboja, Vietnã – ensinando idiomas às crianças das comunidades por onde passa. Kim, que já tinha experiência com voluntariado devido à atuação local no Coletivo Quebrando Muros, procurava um projeto onde pudesse “entrar em contato com novas culturas ao mesmo tempo em que contribuísse, por meio do trabalho voluntário, para diminuir as necessidades daquela comunidade”, lembra. A resposta surgiu no projeto “Moon Desert”.

Casas de Bioconstrução na área rural de Tagounite, MarrocosReprodução Página Oficial

Por meio do site workaway.info – plataforma que conecta programas de voluntariado do mundo todo com ativistas interessados em oferecer a sua força produtiva em troca de estadia, alimentação e, claro, realização pessoal – ele descobriu a iniciativa dos irmãos Abdo e Said – descendentes de um povo nômade da região do Saara – que, acompanhados de um primo (apelidado de “Crazy Rasta”), planejam se fixar na área rural de Tagounite, construir casas para acomodar visitantes e oferecer passeios turísticos de camelo pelo deserto.

Com a missão de auxiliar na tarefa, Kim partiu de Curitiba em 12 de julho e, acompanhado de uma amiga residente em Barcelona, na Espanha, também voluntária, chegou ao vilarejo no dia 18. Recebidos com festa e música árabe, eles se juntaram ao grupo que contava com mais um casal de italianos, também voluntários.

Bioconstrução

Após se aclimatar ao calor do deserto e estabelecer as primeiras conexões com Abdo e Said – o diálogo ocorria em sua maioria em inglês e francês – os ativistas se dividiram nas tarefas de construção e decoração das casas. Caio lembra que “As casas que já estavam lá também eram de bioconstrução. A liga que eles usam é basicamente composta de lama e excremento de camelo. Existe a técnica de produção de tijolos, mas nós optamos por misturar e moldar a liga com as mãos, com uma técnica de jogar o resultado na estrutura para fortalecê-la”, relata. Colaboraram também para limpar o terreno e esculpir peças decorativas, sempre respeitando os horários de temperatura mais amena, das 8h às 11h e 18h às 21h.

Costumes nômades

Entre uma xícara e outra de chá quente em pleno deserto, Abdu revela que sua família, inclusive a mãe, continua sendo nômade. Ele os visita todos os anos, andando pelo deserto e perguntando aos passantes informações a respeito do seu clã para encontrá-los.

Durante a estadia dos visitantes, os voluntários foram apresentados a uma família nômade. Dentro de sua tenda, com a indumentária azul característica de seu povo, um senhor de 72 anos explica que o segredo da longevidade em um ambiente tão desfavorável é o desapego. Kim relata que, ao ser perguntado a respeito da vida como nômade, a resposta do ancião foi “No parabólica, no paranoia”. A vivencia simples, preocupada apenas com seu sustento e com os deveres religiosos traz felicidade ao povo das areias.

Crescimento Pessoal

Embora muito do que se pretendia em termos de resultados práticos para os residentes tenha sido alcançado, para os viajantes, as maiores recompensas constituem o crescimento pessoal que a experiência pôde proporcionar. Kim recorda que “o mais enriquecedor do projeto é você estar atento aos detalhes. Por exemplo, quando a gente achava uma fonte com água era uma festa, um estilo de vida muito mais simples. Você nota uma pureza genuína nas pessoas que se manifesta em coisas muito saudáveis: nos reunirmos para partilhar a comida (todos no mesmo prato), fazer pausas no trabalho para aproveitar o momento juntos... São coisas simples que conectam profundamente as pessoas”, relata.

Esse contato com uma realidade alheia a nossa causa também as suas mudanças. O músico considera que a viajem também provocou nele “a intenção de aplicar esse olhar mais voltado para as pequenas coisas em todo o seu cotidiano, procurar observar mais o ambiente social no qual estamos inseridos e compreendê-lo melhor para poder transformá-lo”, destaca.

Depois de passar ao todo 45 dias em viagem – passando por lugares como Madrid, Barcelona, Marrocos, Turim, Ferrara, ravena, Veneza, Florença, Parma, entre outros – Kim já prepara a próxima viagem. Ele pretende visitar a Índia com o objetivo de aperfeiçoar os conhecimentos em meditação e alimentação Ayurvédica, ao mesmo tempo em que também quer desempenhar algum tipo de atividade de cunho social. Parece que nem precisa desfazer as malas.

  • Chegada a Tagounite. Da esquerda para direita: Maruan Daoud (voluntário italiano), Abdo (idealizador do projeto), Caio Kim e Hafid (motorista).
  • Experimentando sabores locais. Da esquerda para direita: Larissa Touda (voluntária italiana), Maruan, Caio Kim e Helli (voluntária).
  • Casa de Bioconstrução. Da esquerda para direita: Caio Kim, Abdo e Nayara de Salles (voluntária brasileira).
  • Construindo casas de liga orgânica.
  • Tenda ao estilo nômade.
  • Vestimenta típica local.
  • Camelos se refrescam em um calor que pode chegar a 50ºC.
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