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Nunca acreditei no tal ministério dos notáveis. Antes de tudo, por não acreditar em notáveis. A política é, por definição, o espaço do dissenso. Logo, essa figura de um ministro que agrade a gregos e troianos, que implemente medidas “técnicas” e seja bem quisto por toda uma nação é uma fábula – alimentada, em grande parte, pela incapacidade do brasileiro em aceitar a pluralidade de ideias em uma democracia.

Mas, acima de tudo, não acreditava no ministério dos notáveis pelo fato de Michel Temer ser um presidente “eleito” pelo Congresso. E não é segredo para ninguém que os deputados brasileiros não costumam desconsiderar seus interesses pessoais e políticos na hora de apoiar um governo – quanto mais na hora de acabar um e iniciar outro. Ou, dizendo de forma mais direta: partidos como o PP ou o PSD não abandonam o poder sem uma perspectiva de poder futuro.

Quem comeu este Kinder Ovo, porém, deve estar bastante chateado com a surpresa. Já no seu primeiro dia como presidente, Temer superou Dilma, Lula e FHC, com certa folga, no seu, digamos, “desprendimento”. O loteamento foi completo e absoluto, e agora os caciques do Congresso mandam na Esplanada dos Ministérios mais do que nunca.

A começar por nosso paranaense em Brasília. Não há qualquer linha no currículo de Ricardo Barros que justifique sua indicação para ministro da Saúde. Não atua na área da saúde, não milita na área de saúde. A biografia em seu site oficial sequer menciona a palavra “saúde”. A única razão pela qual chegou ao cargo foi sua atuação como deputado do PP, partido crucial para o impeachment de Dilma. Diga-se de passagem, penúltimo a abandonar o barco. Diga-se de passagem, um partido com metade da bancada citada na Operação Lava Jato.

Falando em Lava Jato, são sete ministros citados na Operação. Doze receberam doações de campanha das empresas investigadas. Três, especificamente, são formalmente investigados. Romero Jucá, do Planejamento, foi acusado de receber doações da UTC vinculadas a contratações da empresa. Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, e Henrique Eduardo Alves, do Turismo, teriam atuado em favor da OAS.

Mas para alguns ministros, não vou negar, um item do currículo foi essencial: o sobrenome. O presidente que recolocou a palavra meritocracia no discurso político teve o prazer de anunciar o filho do Jader Barbalho, o filho do José Sarney e o filho do Jorge Picciani na Esplanada.

Aqui o leitor mais atento vai perguntar: mas a Dilma não ofereceu a Saúde para o Barros? O Helder Barbalho não foi ministro? E o Piccianinho não era o cara do governo petista no PMDB? O PP, o PR, o PSD não estavam por lá o tempo todo? E, entre os investigados da Lava Jato, não estavam vários ministros da era petista? Incluindo Henrique Alves?

Sim. E é exatamente esse o problema. O governo Temer replica as piores práticas políticas do governo Dilma. Pior, promove e renova o mesmo fisiologismo que estava na raiz do mensalão, do petrolão e de tantos outros escândalos – às vezes, inclusive, com os mesmos personagens. Se o desfecho, para Temer, vai ser o mesmo que o de Dilma, é difícil dizer. Mas, para o cidadão brasileiro, isso nunca acaba bem.

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