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 | Ilustração: Gilberto Yamamoto
| Foto: Ilustração: Gilberto Yamamoto

Pedro é um paranaense que vai nascer em 2050. Ao completar 12 anos, será incumbido por sua professora de falar sobre o Parque Nacional do Iguaçu e da importância das áreas naturais para o bem-estar da sociedade e para a saúde das atividades econômicas. Quando isso acontecer, dois cenários distintos poderão ser objeto de sua análise.

Em um deles, Pedro confirmará a existência de uma área íntegra, com políticas que garantem investimentos para sua proteção, fortalecendo cada vez mais atividades econômicas e a geração de riquezas aos municípios do entorno. Estudos permitem identificar a manutenção da diversidade biológica local e a Unesco sustenta a designação de Patrimônio da Humanidade ao parque nacional, a última e maior área natural remanescente no interior do Sul do Brasil.

Em outra situação, o garoto fará referência ao pouco caso demonstrado ao longo dos anos com essa unidade de conservação, gerando constantes depredações, com a perda crescente da biodiversidade e de serviços ambientais. A caça e o extrativismo predatório, dentre outros fatores de degradação, comprometeram irreversivelmente a estrutura na cadeia alimentar da floresta. Com isso, as presas das espécies de topo de cadeia, como a onça-pintada, tornaram-se cada vez mais escassas. As últimas que foram registradas na região, inclusive, datam de 2040, dez anos antes de Pedro nascer.

No primeiro caso, Pedro vai lembrar os desafios enfrentados por seus antecedentes em relação à proteção do parque nacional. Poderá enfatizar os momentos em que as ameaças contra essa área receberam repúdio da comunidade internacional, de setores especializados no campo da conservação e, por fim, das próprias comunidades, ao perceberem que, após tanta degradação, aquela área merecia ser adequadamente protegida. Ele também enfatizará um caso exemplar em que conservação e desenvolvimento foram considerados como demandas indissociáveis, com o abandono definitivo das tentativas para a construção de uma rodovia cortando o parque ao meio.

Mas o cenário também poderá ser diferente. A promessa de proteger a natureza não foi assumida pelas gerações passadas, que abriram mão da integridade do parque para atender a interesses menores que oferecessem alguma vantagem temporária. Na apresentação, Pedro citará o caso emblemático da rodovia que foi aberta no trajeto onde antigamente passou a chamada Estrada do Colono, com apoio de políticos motivados por razões eleitoreiras, que criaram artifícios ardilosos para mudar as leis, sob o pretexto enganoso de que, sem aquele empreendimento, não seria possível progredir regionalmente.

Suas impressões sobre a não existência de áreas bem conservadas permitirão uma comparação desse fato com a chegada dos colonizadores, no século passado, e a derrubada de praticamente todas as áreas naturais do Paraná para introdução da pecuária, agricultura, reflorestamento e construção de cidades. Na aula, dirá que a ganância falou mais alto que as preocupações com as gerações futuras.

Previsões à parte, o comportamento conivente diante do compromisso de conservar remanescentes naturais que nos marca tão fortemente nos tempos atuais precisa ser revisto. Esta não é uma agenda que pode esperar por crianças como Pedro, mas um legado que temos a obrigação de transmitir. Ele e muitos outros vão nos identificar como indivíduos truculentos e ignorantes ou, dependendo de nossos atos nos dias de hoje, como cidadãos minimamente responsáveis e conscientes dos nossos deveres.

Em 2050, muitos de nós não estarão mais aqui, mas nossas atitudes serão lembradas por nossos filhos e netos, talvez com orgulho, talvez com lamento. Que nossas opções considerem a necessidade de estabelecer limites ao desenvolvimento desenfreado. Dentre eles, a proteção integral do Parque Nacional do Iguaçu.

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