Dinheiro desviado da Petrobras pelo esquema investigado pela Operação Lava Jato pode ter financiado a eleição de 25 deputados da Assembleia Legislativa do Paraná(Alep) em 2014. Os três parlamentares paranaenses investigados pela Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) –os deputados federais Nelson Meurer (PP) e Dilceu Sperafico (PP) e a senadora Gleisi Hoffmann (PT) – repassaram um total de R$ 985 mil a 25 deputados estaduais eleitos em outubro – saiba quem são eles e o que dizem no infográfico.
Empresas suspeitas realizaram doações indiretas a quatro deputados estaduais
Quatro deputados eleitos em 2014 receberam doação das empresas JBS e Galvão Engenharia através de parlamentares investigados no STF
- Kelli Kadanus e Chico Marés
Os deputados estaduais Elio Rush (DEM), Ademir Bier (PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Palozi (PSC) receberam doações indiretas de empresas envolvidas na Lava Jato para a campanha de 2014. As doações foram realizadas pelas empresas Galvão Engenharia e JBS, mas antes de chegarem aos deputados estaduais passaram pelos deputados federais Nelson Meurer (PP) e Dilceu Sperafico (PP) e pela senadora Gleisi Hoffmann (PT).
Ademir Bier recebeu R$ 25 mil da empresa JBS e outros R$ 75 mil da Galvão Engenharia. Os valores foram repassados a ele através do deputado Dilceu Sperafico (PP). Sperafico também realizou repasses de
R$ 135 mil da Galvão Engenharia para a campanha de Elio Rush (DEM) e de R$ 75 mil da JBS para a campanha de Palozi (PSC). Já a senadora Gleisi Hoffmann (PT) repassou ao deputado estadual Tadeu Veneri (PT) R$ 34 mil doados pela empresa JBS.
Doações legais
Não há como afirmar, porém, que os valores são referentes a pagamento de propina por contratos com a Petrobras. Todas as doações foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na prestação de contas da campanha.
Empresas envolvidas
A empreiteira Galvão Engenharia é investigada por pagar propina a agentes públicos e políticos para obtenção de contratos com a Petrobras. A companhia também é apontada como uma das participantes no cartel que definia as obras da estatal que seriam de responsabilidade de cada empresa. Quatro executivos da empresa respondem a ações penais na Justiça Federal do Paraná por envolvimento no esquema. Um deles, o diretor Erton Medeiros Fonseca, está preso na carceragem da Polícia Federal de Curitiba desde novembro do ano passado.
Já a empresa JBS, do ramo alimentício, ainda não foi denunciada pelo Ministério Público Federal (MPF), mas a Polícia Federal descobriu duas contas bancárias em nome de uma empresa fantasma ligada a um dos doleiros da Operação Lava Jato, Carlos Habib Chater, receberam depósitos no valor de R$ 800 mil feitos pela companhia.
Em alguns casos, os três paranaenses suspeitos de receber propina do esquema receberam doações legais de empresas investigadas pela Lava Jato e repassaram parte do valor a deputados estaduais (veja matéria nesta página). Uma das suspeitas da força-tarefa da Lava Jato é justamente que o dinheiro da propina era “esquentado” por meio da doação legal de campanha feitas por empresas participantes do esquema.
“Dobradinhas”
Os repasses de Meurer, Sperafico e Gleisi aos 25 deputados estaduais eleitos foram feitos por meio das chamadas “dobradinhas” – quando os candidatos firmam uma parceria para realizar campanha conjunta.
Meurer doou R$ 188,5 mil para as campanhas de 12 deputados do PSDB, PMDB, PSC, DEM e PP em 2014. Sperafico foi responsável pela doação de R$ 444 mil a 15 deputados estaduais do PSL, PMDB, PSDB, PPS, DEM, PSC, PDT e PP. Já a senadora Gleisi Hoffmann repassou em 2014 verba de campanha para seis deputados estaduais eleitos do PDT, PRB e PT. No total, o valor foi de R$ 352 mil em doações.
Quem mais recebeu valores dos parlamentares investigados no Supremo foi o deputado estadual Péricles de Melo (PT). Ele recebeu um total de R$ 165,8 mil de Gleisi na última eleição.
Caixa oficial
As doações apuradas pela reportagem da Gazeta do Povo dizem respeito a doações legais de campanha, declaradas na prestação de contas dos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, Gleisi, Meurer e Sperafico negam ter recebido propina do esquema da Lava Jato.
Mas, em seu depoimento em regime de delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que “nenhum candidato no Brasil se elege apenas com caixa oficial de doações”. Ele disse ainda que “os valores declarados de custos de campanha correspondem em média a apenas um terço do montante efetivamente gasto, sem o restante oriundo de recursos ilícitos ou não declarados”.
Ainda de acordo com delatores do esquema da Lava Jato, parte da propina paga pelas empreiteiras da Petrobras era repassada a parlamentares por meio de doações oficiais de campanha, o que dava um caráter de legalidade.
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