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O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), tem conseguido imprimir o estilo de um reality show à gestão municipal. Esse programa de forte apelo popular ganha destaque nacional e começa a projetar o nome de Doria para a disputa presidencial de 2018. O jeito dinâmico e arrojado do prefeito já forçou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, outro presidenciável do PSDB, a tentar acompanhar o mesmo ritmo. É difícil. Doria colou em si a imagem do “João trabalhador”: veste-se de gari para varrer ruas, faz visitas surpresas em repartições públicas e angaria doações milionárias de empresas para os serviços públicos. Tudo devidamente divulgado nas redes sociais.

Entre 1.º de janeiro e 8 de março, a página de Doria no Facebook, que tem mais de 2 milhões de seguidores (contra 850 mil de Alckmin), publicou 194 mensagens, com uma média de 73 mil curtidas e 15 mil compartilhamentos. As postagens na página do senador Aécio Neves, que tem mais de 4 milhões de seguidores, raramente passam das 2 mil curtidas, enquanto é comum que Doria passe das 100 mil. Muitos dos vídeos da página ultrapassam 2 milhões de visualizações.

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O tabu e a “onda invencível”

Uma eventual candidatura de Doria à presidência da República ainda é tratada como tabu entre os tucanos, mesmo que a hipótese já tenha entrado no radar de dirigentes estaduais e nacionais do partido. No fim do mês passado, a consultoria Ipsos divulgou pesquisa sobre a imagem de personalidades do mundo político: Doria tem 46% de desaprovação entre os entrevistados, ante 64% de Alckmin, 66% de José Serra e 74% de Aécio Neves – todos pré-candidatos do PSDB ao Planalto.

A Lava Jato pode fazer estragos não apenas dentro do partido, mas criar na sociedade a demanda por um candidato novo.

Sérgio Fausto cientista político e presidente do Instituto Fernando Henrique Cardoso

Para um membro da executiva paulista do PSDB, Doria está sendo aos poucos reconhecido no partido como uma “onda invencível” porque reúne a imagem de inovação e de gestão pela qual a população anseia. Enquanto isso, Aécio, Serra e Alckmin seriam vistos como parte da velha política. Os três são citados em investigações da Operação Lava Jato.

A taxa de reprovação dos três caciques tucanos, que tende a subir com os desdobramentos da Lava Jato, é mais uma barreira para que eles se tornem competitivos numa disputa contra o ex-presidente Lula (que lidera as intenções de voto para 2018), o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) ou o deputado Jair Bolsonaro (PSC). Mesmo se Alckmin sair menos avariado das delações, Doria poderia ser apoiado por um acordo entre os grupos de José Serra e Aécio Neves, que têm mais força nacional.

Tucanos de São Paulo defendem candidatura de Doria para o governo do estado

Dada a diferença de dimensão entre as máquinas municipal e federal, Doria teria de levar consigo quadros hoje ligados aos três caciques do partido para se viabilizar. Na prefeitura de São Paulo, a composição de forças mudaria pouco com a mudança de status do atual vice-prefeito, Bruno de Covas (PSDB), que se tornaria prefeito se Doria se candidatar à Presidência. Já a disputa pela sucessão ao governo de São Paulo seria resolvida com a candidatura do senador José Serra ou do ministro Aloysio Nunes. Alckmin não pode concorrer a um terceiro mandato consecutivo de governador.

Eleições de 2016 favoreceram os tucanos, mas eles já se estranham no ninho

Período extraordinário

Para o cientista político Sérgio Fausto, presidente do Instituto Fernando Henrique Cardoso, a discussão sobre a candidatura de Doria neste momento é fruto de um período extraordinário da vida brasileira. “A Lava Jato pode fazer estragos não apenas dentro do partido, mas criar na sociedade a demanda por um candidato novo que não venha com nenhum estigma ligado às formas de financiamento de campanha predominante nos últimos anos”, afirma.

Doria está caminhando para ser um político muito influente e certamente terá um papel importante nas eleições de 2018 e nas próximas também.

Lucas de Aragão cientista político e sócio da empresa de consultoria Arko Advice

Fausto destaca, porém, que as comparações com as eleições de 1989, quando uma miríade de candidatos se apresentou ao público, são inadequadas: “A eleição de 2018 será contra o establishment, mas serão eleições casadas que vão da Presidência da República às Assembleias estaduais. Ou seja, as estruturas partidárias vão contar pelo tempo de televisão e pela capacidade operacional no terreno eleitoral”.

De acordo com o cientista político Lucas de Aragão, sócio da empresa de consultoria Arko Advice, o interesse que Doria desperta é natural por uma conjugação de fatores que vão desde o fato de ter sido eleito no primeiro turno na maior cidade do país por um partido que tem capilaridade nacional, até sua distância do mundo político tradicional e da Lava Jato. “Doria está caminhando para ser um político muito influente e certamente terá um papel importante nas eleições de 2018 e nas próximas também.”

Riscos: resultados e imagem de rico

Fausto e Aragão destacam, por outro lado, que a viabilidade da candidatura Doria depende, além da implosão dos demais presidenciáveis tucanos, dos resultados que o prefeito apresentar à frente da prefeitura de São Paulo, e não apenas da imagem de bom gestor que vem cultivando.

“Doria está fazendo coisas extraordinárias na comunicação, mas o eleitor médio está buscando resultados e o eleitor sente a prefeitura no dia a dia”, afirma Aragão. Fausto faz outra ponderação. “Doria conseguiu ganhar em todos os distritos eleitorais de São Paulo, salvo dois, sem esconder que é um homem rico. Mas ele conseguirá cruzar as fronteiras regionais e sociais de todo o Brasil?”

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