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A planilha apresentada por Pessoa no processo de delação premiada também relaciona o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que ocupou o cargo até abril deste ano | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
A planilha apresentada por Pessoa no processo de delação premiada também relaciona o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que ocupou o cargo até abril deste ano| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O ex-presidente da UTC, Ricardo Pessoa detalhou em depoimento de delação premiada que repassou R$ 3,6 milhões de caixa dois para o ex-tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, José de Filippi, e o ex-tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, entre 2010 e 2014. Ele entregou aos investigadores uma planilha intitulada “pagamentos ao PT por caixa dois” que relaciona os ex-tesoureiros a valores.

Dilma chama reunião no Alvorada após delator da Lava Jato citar ministros

A presidente Dilma Rousseff chamou uma reunião de urgência no Palácio da Alvorada após trechos da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa (UTC Engenharia) virem a público nesta sexta-feira (26).

Nas negociações para acertar os termos da delação (instrumento pelo qual um investigado entrega tudo o que sabe para reduzir sua pena), o empresário citou os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secom), com quem afirma ter negociado e repassado recursos para campanhas petistas, entre elas a da própria Dilma Rousseff, em 2014.

Ao receber a convocação da presidente da República, Mercadante e Edinho se dirigiram rapidamente à residência oficial. Ambos confirmam ter se encontrado com Ricardo Pessoa, apontado pela Lava Jato como o chefe de um “clube de empreiteiras” que desviava recursos da Petrobras, mas negam ter recebido ou tratado de recursos irregulares para as eleições.

No caso de Mercadante, a citação do empreiteiro refere-se a uma doação feita em 2010, quando o petista era candidato ao governo de São Paulo. Nas eleições do ano passado, Edinho atuou na campanha à reeleição de Dilma como tesoureiro da então candidata.

Na quinta-feira, 25, o Supremo Tribunal Federal (STF) homologou a delação de Ricardo Pessoa, o que significa que as informações prestadas por ele em depoimento à Procuradoria Geral da República poderão ser utilizadas como indícios para ajudar as investigações.

Atual secretário municipal de saúde de São Paulo, José de Filippi, é uma das pessoas mais próximas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes de ser o responsável pelas contas da campanha de Dilma Rousseff ele foi o tesoureiro da campanha à reeleição de Lula em 2006.

Os supostos pagamentos a José de Filippi relacionados pelo ex-presidente da UTC em delação premiada somam R$ 750 mil e foram feitos nos anos eleitorais de 2010, 2012 e 2014. Há apenas um pagamento fora da calendário eleitoral, no ano de 2011, de R$ 100 mil.

Em 2010, quando era tesoureiro da campanha de Dilma, conforme a planilha, ele teria recebido de caixa dois R$ 250 mil. No Tribunal Superior Eleitoral (TSE) há registro de repasse de R$ 1 milhão da UTC para a direção nacional do PT. Na prestação da campanha de Dilma, não há registro de doação da empreiteira nem do seu braço Constran. Nos demais anos, a planilha do “caixa dois” indica repasses nos valores de: 2012 (R$ 200 mil); 2013 (R$ 100 mil) e 2014 (R$ 100 mil).

Pessoa chegou a arrolar Fillipi como sua testemunha de defesa no processo em que o empreiteiro é acusado de chefiar o esquema de empreiteiras que pagava propina para executivos e partidos políticos em troca de conseguir os melhores contratos na petroleira. A lista de testemunhas na época causou estranheza até mesmo do juiz Sérgio Mouro que pediu explicações sobre a escolha dos nomes.

Vaccari

A planilha apresentada por Pessoa no processo de delação premiada também relaciona o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que ocupou o cargo até abril deste ano. O petista esta preso acusado de ser o operador do PT no esquema de corrupção e de ter lavado dinheiro para o partido. Na relação apresentada por Pessoa, ele aparece relacionado a suposto pagamento de caixa dois no valor de R$ 2,9 milhões que teriam sido efetuados entre 2011 e 2013, período em que ele respondia pelo caixa do PT. Em fevereiro de 2011, ele teria recebido R$ 500 mil para o partido; em março de 2011, R$ 500 mil; em março de 2012, R$ 220 mil. Em 2013 foram quatro pagamentos: em abril (R$ 350 mil), em julho foram dois pagamentos de R$ 350 mil e R$ 500 mil e em agosto, de R$ 500 mil.

Procurado pela assessoria, Filippi ainda não respondeu à reportagem. A defesa de Pessoa informou que anão vai comentar as informações porque a delação é sigilosa. Também informou que não confirma a autenticidade da planilha. O Grupo Estado não conseguiu contato com a defesa de Vaccari.

Delator da Lava Jato cita doação a Mercadante na campanha de 2010

O presidente da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou a procuradores da Operação Lava Jato que fez uma contribuição para a campanha do petista Aloizio Mercadante ao governo do Estado de São Paulo em 2010. Mercadante hoje é ministro da Casa Civil, o principal auxiliar da presidente Dilma Rousseff.

Pessoa mencionou a contribuição durante as negociações do acordo de delação premiada que ele fez com os procuradores, homologado nesta quinta-feira (25) pelo ministro Teori Zavascki, relator dos inquéritos da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com a prestação de contas apresentada pelo PT à Justiça Eleitoral em 2010, a UTC doou R$ 250 mil para a campanha de Mercadante.

Os procuradores da Lava Jato ainda não sabem se a doação feita a Mercadante tem ligação com o esquema de corrupção descoberto na Petrobras, alvo principal das investigações em curso.

Em outros casos, executivos de empresas acusadas de participar do esquema disseram que doações eleitorais feitas para o PT eram parte da propina que deviam pagar para manter seus contratos com a Petrobras.

Por meio de sua assessoria, Mercadante afirmou que todas as contribuições para sua campanha em 2010 foram feitas de acordo com a legislação eleitoral e estão registradas na prestação de contas entregue ao TSE.

Segundo petistas que receberam informações sobre as conversas de Pessoa com os procuradores, o empreiteiro fez um relato de uma reunião com membros da campanha de Mercadante para discutir contribuições para seu comitê eleitoral em 2010.

O chefe da Casa Civil reconheceu ter recebido o presidente da construtora em sua casa depois que o empresário manifestou o desejo de conhecer o petista em razão da corrida eleitoral. Mercadante afirmou ainda não ter conhecimento de que foi citado pelo executivo nas negociações para o acordo de delação premiada e que não recebeu recursos não declarados em sua campanha de 2010. “Não houve omissão de quaisquer valores. Todas as contribuições foram devidamente contabilizadas e declaradas à Justiça Eleitoral, como consta de minha prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral”, afirmou.

Sobre o encontro com o presidente da UTC, Mercadante confirmou ter estado com ele “uma única vez”, por solicitação do empresário, que tinha “o intuito de me conhecer”.

Segundo o ministro, o encontro aconteceu em sua casa e teve a participação de Emidio de Souza, então coordenador de sua campanha, hoje presidente estadual do PT-SP. O ministro nega, porém, que tenha havido qualquer negociação de valores na ocasião. “Posteriormente, a empresa UTC, por ocasião da campanha ao Governo do Estado de São Paulo em 2010, fez uma única contribuição, devidamente contabilizada e declarada à Justiça Eleitoral, no valor de R$ 250 mil reais, conforme demonstrado em minha prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral”, conclui o ministro.

Ricardo Pessoa é hoje apontado pela polícia como um dos líderes do cartel que teria sido formado pelas empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção na Petrobras.

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