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No debate sobre a legalização dos bingos e caça-níqueis, muito se discute sobre a geração de empregos ou sobre a lavagem de dinheiro que tais jogos podem estimular se forem liberados novamente no país. Pouco se fala, porém, sobre o tratamento e a prevenção dos viciados em jogos de azar, também conhecidos como jogadores patológicos ou ludopatas.

No projeto de legalização dos jogos, defendido pelo deputado Régis de Oliveira (PSC-SP), até existe a sugestão de se criar um cadastro nacional de ludopatas, no qual os jogadores registrados seriam impedidos de jogar.

O detalhe é que a proposta não traz explicações sobre como seria aplicada. "A definição sobre quais órgãos se responsabilizarão pelo cadastro e como será feito o controle sobre as pessoas vem depois da aprovação do projeto. Agora apenas quisemos criar um instrumento para preservar os ludopatas e suas famílias", diz Oliveira. Mas o próprio deputado reconhece que, diante das inúmeras críticas dirigidas ao cadastro, a ideia pode ser descartada. "Dizem que ao registrarmos os ludopatas eles seriam discriminados, enfrentariam problemas em seus empregos e teriam dificuldade para conseguir financiamentos."

A psicóloga Maria Paula de Magalhães Tavares de Oliveira, que desenvolveu mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP) estudando o jogo patológico, diz que o cadastramento dos ludopatas é uma solução inócua e impraticável. "A ludopatia é algo difícil de se identificar, pois o ludopata esconde a todo custo o seu envolvimento com o jogo. E depois não existiriam profissionais de saúde capacitados em número suficiente para fazer o diagnóstico", afirma.

Estatística

Ninguém sabe quantos ludopatas existem hoje no Brasil. O Ministério da Saúde não dispõe de informações sobre a situação da doença. Mas mesmo com as atuais proibições a bingos, caça-níqueis e jogo do bicho, existe um número considerável de viciados nessas apostas.

No ambulatório de jogo patológico do Hospital de Clínicas de São Paulo, uma das principais referências no atendimento de ludopatas no país, "toda semana há no mínimo dez pessoas – homens e mulheres, das mais variadas idades e classes sociais – procurando ajuda", diz o psiquiatra Ângelo Crescente. Segundo ele, o vício por caça-níqueis e bingo são os mais recorrentes, e depois seguem as compulsões por jogo do bicho, baralho, corrida de cavalos, cassino e até loteria.

Da mesma forma, o grupo de apoio dos Jogadores Anônimos de São Paulo recebe no mínimo uma ligação ou visita todos dias, como informa Luís (nome fictício), um aposentado paulistano, de 55 anos, que chegou a passar 36 horas jogando baralho e faz parte do grupo desde 2001. "Quando o jogo era liberado tínhamos em um mês mais de cem pessoas entrando em contato com a gente. Não tenho dúvidas de que, se legalizarem de novo, o número de ludopatas volta a crescer", prevê.

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