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Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado| Foto:

A chamada democracia, que alguns trocam – talvez com razão – por burocracia, é uma ideia que existe já há muitos séculos, milênios até, embora sempre com diferenças notáveis, referentes ao momento histórico de cada sociedade. Palavra grega, remete ao regime das decisões políticas tomadas pelo povo (demos) na Grécia Antiga, mas veja bem: naquele tempo e lugar, a escravidão era uma forma de trabalho amplamente aceita e praticada. Existe democracia junto com escravidão?

Pois bem, com o passar do tempo, a ideia foi se transformando, até chegar no modelo ideal que temos hoje, em que democracia significa, dentre outras coisas. eleições diretas para todos os representantes políticos, dos poderes Executivo e Legislativo, federal, estadual e municipal.

Mas isso ocorre em uma sociedade em que é amplamente aceita e normal a miséria humana. Pessoas vivem nas ruas, a educação precária mantém milhões na prisão do analfabetismo. Sem emprego e dinheiro, você pode ser privado até mesmo de um atendimento médico complexo ou da sua moradia. Existe democracia nessas condições?

Por outro lado, os representantes políticos usufruem consideráveis benesses. Altos salários e benefícios que asseguram uma vida sem dificuldades. Mais do que isso, grande parte dos políticos tem origem em famílias ricas e é branca. Claro, as famílias ricas e os brancos podem ter seus representantes, mas chama atenção que, mesmo com grande número de negros e pobres na sociedade, a presença dessa população nos espaços de representação é reduzidíssima. O que dizer, então, da presença de mulheres? Mais da metade da população, elas costumam estar reduzidas a 10% dos cargos políticos. Existe democracia sem sintonia entre representantes e representados?

Sabemos como são eleitos os representantes. Campanhas caras e financiadas por empresas se destacam em relação às campanhas mais simples. Não prevalecem as ideias, e sim a força de comunicação. Nesse quesito, saem na frente os apresentadores de programas televisivos e os apadrinhados por gente rica. A lógica que domina o processo eleitoral persiste nos negócios políticos. Deputados votam e são votados em troca de cargos e liberação de verbas do governo federal.

E assim nós temos Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas e Congresso Nacional muito motivados por interesses econômicos, e sem nenhuma motivação realmente democrática. Recentemente, o projeto de reforma trabalhista foi negado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, mas adivinhem só, isso não faz a menor diferença, pois o projeto continua intocável para ser analisado no plenário, pelos senadores.

Aí a gente se pergunta: para que servem esses debates nas comissões se suas decisões em nada interferem nos rumos dos projetos? Afinal de contas, qual é a lógica que prevalece? Vejam só, senadores votaram contra o projeto na referida comissão, mas isso não muda em nada o resultado final; então, a única consequência é que o governo tem mais condições de fazer retaliação contra aqueles que votaram contra.

Assim a gente descobre a lógica: um “bom senador” deve ser amigo do governo, e dizer amém para tudo o que for proposto, do contrário pode assumir o risco de perder os cargos e as trocas de favores. Está dando para acompanhar o motivo pelo qual a base governista é sempre maioria, desde as Câmaras de Vereadores até o Congresso Nacional? A democracia de hoje é a velha máxima: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

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Confira o arquivo de colunas de Bruno Meirinho publicadas na Gazeta do Povo até junho de 2017.

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