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Narrativa do viajante

José Oscar Hernandez trabalhava no campo quando a guerra estourou. Tinha 18 anos. Eram camponeses contra camponeses, lutando até a morte. Pobre e analfabeto, o trabalhador rural guerreava por convicção. Muitas eram as injustiças políticas e sociais: repressão, fome, desigualdades, massacres.

Na época, não podia usar roupas coloridas ou qualquer alusão ao mundo capitalista. Todos ao seu redor eram comunistas, lutando contra “o militarismo e o imperialismo norte americano”.

Matanças presenciou. José viu crianças morrendo e vivenciou os horrores da guerra. Não sabe quem ou quantos derrubou. “Num combate você atira, sem ideia de quem caiu ou quem te acertou”, conta.

Os jovens da época tinham apenas quatro opções. Três, se desconsiderarmos a possibilidade de simplesmente serem mortos. Aceitavam a convocação e alistavam-se no Exército Salvadorenho; fugiam do país ou iam às montanhas, juntar-se às guerrilheiras.

Rafael Saravia escolheu as tropas revolucionárias. Com 22 anos levou um tiro a 35 metros de distância que lhe atravessou o pé esquerdo. Em um confronto direto, por mais de uma década, poucos acreditavam que chegariam vivos até o final.

Oficialmente foram contabilizados 75 mil mortos na guerra civil que durou 12 anos. As forças esquerdistas garantem que foram mais de 100 mil, fora os desabrigados e desaparecidos.

Toda a população de El Mozote, extremo leste do país, foi aniquilada pelo Exército no início do conflito, em 81. A matança de homens, mulheres e crianças no povoado até hoje é triste símbolo da crueldade da guerra.

Rufina Maia, a única sobrevivente do massacre, escapou engatinhando, entre os animais, depois de ser acobertada por um galho de árvore que despencou bem na sua frente, antes de ser vista pelos soldados, cansados, sedentos e famintos pela missão. Hoje está enterrada no local de homenagens aos dizimados.

Entre 1980 e 92, quando o acordo de paz foi assinado, se confrontaram as Forças Armadas Salvadorenhas, apoiada pelo governo dos Estados Unidos, durante três mandatos, com as guerrilhas locais, que recebiam ajuda de países como Cuba, União Soviética, França, Nicarágua e Alemanha, entre outros. De ambos os lados, trabalhadores rurais eram recrutados.

A igreja desempenhou forte papel de apoio à luta contra as desigualdades. Na região norte, a maior parte delas foi destruída. Assim como boa parte dos templos católicos do vilarejo de Perkin, centro importante de abrigo dos guerrilheiros.

Papel fundamental desempenhou a emissora clandestina, “Rádio Venceremos”, que transmitia propaganda ideológica em horários pré-determinados. Nos acampamentos, a sintonia era encontrada na transmissão feita através das cercas de arame farpado.

As bombas dos esquerdistas eram de elaboração caseira, com vários artefatos. Algumas feitas com latas de feijão, descartadas pelos soldados do exército.

Hoje, junto com a perna esquerda, o ex-guerrilheiro José arrasta uma prótese. Conserva quatro balas de fuzil M-16 alojadas no osso, mas assegura que não carrega mais marcas psicológicas. “Preferimos buscar a paz e deixar a justiça agora nas mãos de Deus”.

A vida no campo em El Salvador continua sofrida e difícil.

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