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Irfaan Ali e Nicolás Maduro se cumprimentam ao fim do encontro em São Vicente e Granadinas
Irfaan Ali e Nicolás Maduro se cumprimentam ao fim do encontro em São Vicente e Granadinas| Foto: EFE/Prensa Miraflores

Nesta semana, a Venezuela concretizou uma troca de prisioneiros com os EUA. Na semana anterior, Nicolás Maduro se encontrou com Irfan Ali, presidente da Guiana, e ambos se comprometeram à busca por uma solução pacífica para a controvérsia fronteiriça. Maduro parece que compreendeu que suas melhores opções estão em constantes negociações com os países da região.

Como parte de um acordo mediado pelo Catar, a Venezuela vai libertar trinta e seis pessoas, incluindo doze cidadãos dos EUA, em troca do colombiano Alex Saab, aliado de Maduro e acusado pelos EUA de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência. Ele havia sido preso em Cabo Verde em 2020 e extraditado aos EUA em outubro de 2021, para protesto venezuelano, já que ele detinha passaporte diplomático.

Dentre os cidadãos dos EUA recebidos pelo país estão Leonard Glenn Francis, conhecido como "Fat Leonard", responsável por um dos esquemas de corrupção mais graves na história da Marinha dos EUA, e dois ex-membros das forças especiais dos EUA, que participaram da uma tentativa fracassada de derrubar Maduro em 2020, liderada por Juan Guaidó e com apoio de uma empresa de mercenários.

Os venezuelanos libertados são prisioneiros políticos, como líderes sindicalistas e pessoas ligadas à oposição que participaram da realização das primárias no último mês de outubro. Tanto Maduro quanto Joe Biden, presidente dos EUA, celebraram o acordo. Biden, além do tom emotivo habitual de trazer de volta os cidadãos aos seus entes queridos, também comentou que isso é parte do acordo com uma “eleição livre”.

Encontro com a Guiana

Meses atrás, inclusive, o governo Biden suspendeu parte das sanções contra a indústria do petróleo da Venezuela como parte de um acordo para a realização das “eleições livres”. Como mencionamos, Maduro também se encontrou com seu homólogo de Guiana na semana passada. O encontro foi em São Vicente e Granadinas, país que está na presidência de turno da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos.

O encontro foi mediado pela CELAC e pelo Brasil. Inclusive, somente falaram quatro pessoas: Maduro, Ali, Ralph Gonsalves, presidente do país-sede, e Celso Amorim, assessor internacional da presidência brasileira. Para o encontro, Maduro se tocou do óbvio e do que comentamos aqui em nosso espaço de política internacional: se ele invadir a Guiana, terá um porta-aviões dos EUA batendo em sua porta no dia seguinte.

Além do abandono do uso da força, os envolvidos concordaram em continuar com o diálogo e o próximo encontro deve ocorrer no Brasil. Claro que nem tudo foi lindo e a divergência principal se mantém, já que Guiana e Venezuela adotam posições distintas sobre a legitimidade da Corte Internacional de Justiça em avaliar a questão fronteiriça e a soberania da região de Essequibo, ou Essequiba.

Além do encontro que ocorreu, é importante mencionar o encontro que não ocorreu, já que Maduro adiou uma viagem programada a Moscou, onde se reuniria com Vladimir Putin. E isso é um aspecto essencial da realidade atual da Venezuela e de seu governo. O país, hoje, tem três eixos principais em suas relações exteriores. Primeiro, suas potências aliadas, a Rússia e a China.

Relações e a realidade

Os dois gigantes foram a salvação de Maduro durante a pandemia de covid-19, fornecendo insumos de saúde e vacinas. Já antes disso, com as sanções dos EUA, se tornaram, progressivamente, os principais compradores de petróleo e ouro da Venezuela. Outro país que aumentou seu intercâmbio comercial com a Venezuela foi o Irã, movidos pelo fato de ambos estarem sob sanções dos EUA.

O segundo eixo é o dos países antagônicos, especialmente os EUA, mas também Guiana, Reino Unido e parte da União Europeia, especialmente a Espanha. No caso britânico, por exemplo, foi notável o contencioso sobre as reservas de ouro venezuelano no Banco da Inglaterra, com o governo britânico dando acesso ao dinheiro ao grupo de Juan Guaidó. E, claro, no caso de Guiana, o protagonismo do antagonismo é a disputa fronteiriça.

Finalmente, o terceiro eixo é o dos países que tentam mediar a situação entre a Venezuela e seus antagônicos, grupo onde estão Brasil, México, Colômbia e Noruega. Países cujas relações com o governo Maduro flutuam de acordo com seus próprios governos e, no caso de Brasil e Colômbia, mais precisam lidar com as consequências de ter um vizinho autoritário e em crise como a Venezuela.

Ou seja, a realidade geopolítica venezuelana, hoje, é de que seus principais aliados são países distantes, enquanto seus antagonistas são um de seus vizinhos e a principal potência do continente americano. Se Maduro decidir por uma hipotética invasão da Guiana, por exemplo, o que Rússia e China poderiam fazer de concreto pela Venezuela? Ainda mais em contraste ao poderio dos EUA, distante apenas algumas horas de voo?

Mesmo que Maduro queira usar da força ou desconfie de seus vizinhos, hoje, restam poucas opções, ainda mais com a guerra na Ucrânia. No lugar de “distrair” os EUA de uma crise na Guiana, o efeito principal da guerra na Ucrânia em relação aos venezuelanos é ser o principal foco da produção militar russa e também iraniana. Os chineses, por sua vez, manterão uma cooperação econômica, não muito mais que isso.

A realidade, então, impõe que a Venezuela precise manter esses processos de diálogos como os que citamos nessa coluna. Não é necessariamente por opção ou por alguma nova doutrina de política externa, mas é pela realidade imposta e pela necessidade. É o melhor caminho para o governo Maduro continuar existindo e, eventualmente, conquistar ganhos no cenário exterior.

Ao fim desta coluna, agradeço a todos os leitores pela companhia, pelo apreço, pela discordância e pelo tempo neste ano de 2023 que se encerra. A coluna terá um breve recesso de duas semanas e retornará em 2024. Um feliz Natal e um ótimo Ano Novo para todos!

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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