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Mehmet Oz, candidato derrotado ao Senado pela Pensilvânia nas midterms de novembro de 2022.
Mehmet Oz foi um dos candidatos que venceram as primárias republicanas graças ao apoio de Trump, mas foram derrotados na eleição geral.| Foto: Shawn Thew/EFE/EPA

Nas últimas semanas, todos os analistas políticos americanos davam como certa uma vitória fácil dos republicanos nas eleições de meio de mandato. Falava-se em até oito cadeiras de vantagem no Senado e até 40 cadeiras de vantagem na Câmara dos Representantes. A terça-feira veio e as previsões foram por água abaixo. No momento em que escrevo este artigo (tarde de sexta-feira), os republicanos estão com 210 cadeiras contra 195 dos democratas, restando 30 cadeiras em disputa. No Senado, a coisa está bem mais apertada, com os republicanos vencendo por 49 a 48, restando apenas três cadeiras em disputa.

Quais seriam as causas desse “desastre” eleitoral? Por que a onda vermelha – que alguns, inclusive eu, acreditavam que seria um tsunami – não passou de marola? As causas, a meu ver, são várias.

Em primeiro lugar, há a desunião e as brigas internas dos republicanos, que de certa forma lembram o PSDB de 2006. Ninguém achava que Lula se livraria facilmente dos ferimentos que o mensalão causara em sua imagem, mas a cúpula do PSDB fez tudo o que podia para dar a vitória ao petista, inclusive abandonando a campanha de Geraldo Alckmin em sua reta final. Por aqui, os caciques republicanos que operam da mesma maneira são conhecidos como “criaturas do pântano”, e sua manifestação individual mais óbvia está na pessoa de Mitch McConnell. O senador de sete mandatos e desafeto notório de Donald Trump trabalhou para que alguns candidatos apoiados pelo ex-presidente não recebessem todo o financiamento de campanha de que precisavam para chegar à vitória. Assim, em vez de enviar financiamento do Fundo de Liderança do Senado para Blake Masters, candidato ao importante assento do Arizona, McConnell despejou dinheiro na disputa do Alasca, que estava entre duas candidatas republicanas, a fim de favorecer sua aliada, Lisa Murkowski, contra a candidata de Trump, Kelly Tshibaka. As criaturas do pântano só se importam consigo mesmas.

Joe Biden deverá passar dois anos com o Legislativo jogando contra o seu governo. Espera-se que algo assim seja um pouco menos pior que os primeiros dois anos do presidente democrata

Uma segunda causa está nos sistemas de apuração de votos de certos estados. Arizona, Nevada, Pensilvânia e Geórgia foram os estados com mais evidências de anomalias na eleição de 2020. Desses quatro, somente Nevada teve controle democrata nas casas legislativas estaduais nos últimos quatro anos; nos outros três, os republicanos controlaram tanto a assembleia legislativa como o senado estadual. Mais que isso, no Arizona e na Geórgia o governador também era republicano. Mesmo com todo esse poder de passar leis, as tão necessárias reformas no sistema eleitoral não foram feitas. A título de comparação, na Flórida essas reformas foram prioridade do governo, e o resultado foi a apuração mais limpa e rápida dentre todos os grandes estados americanos.

A causa número três está ligada a Donald Trump. O ex-presidente teve papel predominante na escolha de candidatos e no apoio a seus aliados nas prévias republicanas. Foi das mãos de Trump que surgiu a candidatura do Dr. Oz para a vaga de senador pela Pensilvânia, cuja disputa foi vencida por um dos piores candidatos democratas que já pisaram nos Estados Unidos, John Fetterman. Recém-acometido de um derrame cerebral, Fetterman mal conseguia se expressar durante a campanha e, mesmo assim, levou a disputa sobre Oz. Da mesma forma, Trump apoiou Blake Masters nas prévias republicanas para a vaga de senador pelo Arizona. Masters nunca foi considerado o melhor nome, mas sua fidelidade a Trump ajudou a selar sua indicação. Até o fechamento deste texto, Masters ainda estava na disputa, mas suas chances eram diminutas.

Um último fato que pode ter prejudicado os republicanos em algumas disputas foi a reversão de Roe v. Wade. Ainda que a preocupação dos eleitores estivesse muito mais focada nas pautas econômicas, em razão do governo desastroso de Biden, muita gente considera a pauta do aborto como primordial na hora de votar. Nesse caso, não há como se arrepender do que aconteceu. Como já abordei em colunas passadas, a reversão de Roe v. Wade foi um marco moral na história dos Estados Unidos, e qualquer ônus político a ela associado, na minha opinião, continua sendo menor que os benefícios aos bebezinhos que serão salvos da morte.

A se confirmarem as tendências do momento nas apurações, os republicanos devem ficar com uma pequena maioria na Casa dos Representantes – algo entre cinco e oito cadeiras – e a maioria do Senado só será definida após o segundo turno da eleição na Geórgia. O estado tem regras diferentes, exigindo que o vencedor conquiste 50% mais um dos votos. O pleito ocorrerá no dia 6 de dezembro e deve atrair as estrelas de ambos os partidos, já que vale o controle da câmara alta. E Joe Biden deverá passar dois anos com o Legislativo jogando contra o seu governo. Espera-se que algo assim seja um pouco menos pior que os primeiros dois anos do presidente democrata. E que venha 2024.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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