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O princípio personalista
| Foto: Wikimedia Commons

Um dos pilares da Doutrina Social da Igreja Católica é o princípio personalista. Abordarei este tema em duas partes. No texto de hoje, seu fundamento e alguns contrastes com ideologias concorrentes. No texto da semana que vem, a implicação social ao postular a dignidade da pessoa humana.

Primeiro de tudo, não se pode perder de vista que toda fundamentação antropológica da Doutrina Social, isto é, a concepção que ela traz do ser humano, é baseada na noção cristã do homem como imago Dei, a imagem e semelhança de Deus. Esse fundamento bíblico se encontra em Gênesis 1, versículos 26 e 27: E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança... E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

Como estou propondo a leitura comentada do Compêndio, segue o primeiro trecho a respeito deste princípio: “A Igreja vê no homem, em cada homem, a imagem do próprio Deus vivo; imagem que encontra e é chamada a encontrar sempre mais profundamente plena explicação de si no mistério de Cristo, Imagem perfeita de Deus, revelador de Deus ao homem e do homem a si mesmo. A este homem, que recebeu do próprio Deus uma incomparável e inalienável dignidade, a Igreja se volta e lhe rende o serviço mais alto e singular, chamando-o constantemente à sua altíssima vocação, para que dela seja cada vez mais consciente e digno”.

Aqui, observa-se a centralidade de Cristo, que não é meramente um reflexo ou símbolo, mas sim a “Imagem perfeita de Deus”. Em outras palavras, o personalismo cristão se justifica ao colocar a pessoa encarnada de Cristo no cerne de toda a fundamentação da Doutrina Social. Quando nos referimos à Cristo, estamos destacando o aspecto essencial de sua natureza, que é simultaneamente humana e divina. Essa perspectiva teológica entende o ser humano como um participante ativo em sua própria realização espiritual e moral, e não como um ente passivo e submisso. A “altíssima vocação”, mencionada no trecho, reconhece a dignidade inerente de cada pessoa e, por isso, nos convoca à realização plena de nossa dignidade.

A vida social do ser humano deve expressar essa dignidade em sua plenitude. Continua a Compêndio: “Toda a vida social é expressão do seu inconfundível protagonista: a pessoa humana. De tal fato a Igreja sempre soube, amiúde e de muitos modos, fazer-se intérprete autorizada, reconhecendo e afirmando a centralidade da pessoa humana em todo âmbito e manifestação da sociabilidade”. Em outras palavras, a sociedade humana não tem como fonte abstrações teóricas e até ideológicas. Quem é o ser humano, sujeito de da dignidade e membro de uma comunidade moral e política de pessoas?

Não se pode perder de vista que toda fundamentação antropológica da Doutrina Social, isto é, a concepção que ela traz do ser humano é baseada na noção cristã do homem como imago Dei, isto é, imagem e semelhança de Deus

No mundo moderno, em geral, a há três respostas possíveis: o humanismo secular, o comunismo e o liberalismo.

Ainda que o humanismo secularizado coloque forte ênfase no valor do ser humano, e, em virtude disso, compartilha algumas semelhanças com a perspectiva da Doutrina Social da Igreja no que diz respeito ao foco na pessoa, ele difere significativamente na fonte dessa dignidade. A Doutrina Social da Igreja o baseia na natureza divina e na criação do ser humano à imagem de Deus, o humanismo, não. O homem é a raiz de si mesmo. Não há outro deus soberano senão a humanidade.

Já o comunismo, por sua vez, ao enfatizar a importância da comunidade e das relações sociais dissolve o ser humano no coletivo, onde o indivíduo é submisso ao Estado ou à comunidade. A concepção materialista e coletivista compromete a noção de dignidade pessoal e seu fundamento ao promover uma uniformidade que destrói a singularidade integral da pessoa. Outro ponto interessante do comunismo é o seu apelo à historicidade do ser humano. Porém, essa historicidade é frequentemente interpretada dentro de uma perspectiva de luta de classes, onde a história é vista primariamente como um campo de batalha para conflitos entre diferentes grupos sociais e econômicos. Nessa visão, o desenvolvimento histórico é impulsionado principalmente por esses conflitos, reduzindo a experiência humana a uma série de confrontos entre opressores e oprimidos.

O liberalismo promove a liberdade individual como um valor supremo. A princípio, isso pode até parecer alinhar-se com a promoção da dignidade humana pela Igreja. No entanto, o liberalismo tendem a reduzir o homem ao indivíduo, onde as responsabilidades comunitárias e o bem comum superados pelo valor soberano da autonomia pessoal.

A Doutrina Social da Igreja, em contraste com essas ideologias, busca um equilíbrio entre a liberdade individual e as responsabilidades sociais. E o importante é destacar que esse equilíbrio traz como fundamento a vocação espiritual do ser humano. Em resumo, ela compreende o ser humano em “sua concretude histórica”, pois esta representa o coração e a alma do ensinamento social católico. Toda a doutrina social se desenvolve, efetivamente, a partir do princípio que afirma a intangível dignidade da pessoa humana”.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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