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Na última quinta-feira (21), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), pediu o fim da justiça eleitoral ao criticar multas impostas ao PT
Na última quinta-feira (21), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), pediu o fim da justiça eleitoral ao criticar multas impostas ao PT| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Outrora, Joice Hasselmann e Carla Zambelli foram musas do bolsonarismo. Ambas colecionaram sucessos eleitorais e depois, por razões distintas, caíram em desgraça. A primeira, por ousar divergir tanto do líder quanto dos métodos do grupo, foi purgada publicamente. Já a segunda, ainda que mantenha inequívoca fidelidade, acabou sendo isolada na medida em que se envolveu em polêmicas eleitoralmente desgastantes e até em denúncias que atingiram o ex-presidente. Hasselmann viu seu capital político evaporar, ao passo que Zambelli é tratada como uma figura tóxica, cuja proximidade política passou a representar risco reputacional. Há, por óbvio, uma lacuna nesse segmento ideológico. Quem sabe o posto possa ser ocupado pela petista Gleisi Hoffmann, que, na última semana, resolveu emular o discurso bolsonarista contra o Tribunal Superior Eleitoral.

Em meio às discussões da PEC que anistia partidos políticos por descumprirem cotas eleitorais, a presidente do PT criticou a corte pela aplicação de multas e afirmou que a existência do TSE é um absurdo. “Um dos únicos lugares do mundo que tem Justiça Eleitoral é no Brasil. O que já é um absurdo e custa três vezes mais do que o financiamento de campanha para disputa eleitoral”, afirmou. O ataque veio na esteira de um raciocínio corporativista tentando justificar o passaralho no regramento atual e a aprovação de um texto que, como bem definiu o jornalista Carlos Andreazza, é um esculacho.

Não duvido que o teor do posicionamento de Gleisi sirva para subsidiar a defesa do ex-presidente nos processos a que responde no TSE e no STF.

Não se trata de discutir apenas os custos da instituição, o que seria absolutamente legítimo. O que a deputada fez foi conjecturar sobre o seu fim, como se a Justiça Eleitoral fosse uma aberração brasileira. Diante da reação negativa, Gleisi até tentou se justificar, afirmando que foi “mal compreendia”. Mas as palavras fazem sentido, ou ela não teria dito tacitamente que sua existência constitui “um absurdo”.

Criada em 1932, a Justiça Eleitoral só foi fechada pelo ditador Getúlio Vargas durante o “Estado Novo”. É, ao contrário do que diz a petista, um organismo que representa a excelência do serviço público, com um quadro técnico de ponta responsável pela elaboração e execução de eleições 100% digitais reconhecidas em todo planeta (à exceção dos que vivem nas bordas da Terra plana), como seguras e auditáveis. Ao longo dos últimos anos, a instituição esteve sob fogo cerrado do governo Bolsonaro, sendo alvo de toda sorte de calúnias e difamações.

A posição inflexível que o TSE e os TREs assumiram em defesa da transparência do sistema de votação e de sua própria legalidade foram indispensáveis para que Lula assumisse e a democracia fosse preservada. Durante o período que compreende entre o segundo turno da eleição presidencial e a posse do novo presidente, houve até quem tramasse para que ela fosse sobrepujada por uma intervenção militar. É o que se sabe agora após a apreensão da minuta golpista localizada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e com a delação premiada de Mauro Cid.

Gleisi ignora tudo isso de forma deliberada para fazer um ataque oportunista, casuístico, desinformado e inoportuno. Não duvido que o teor de seu posicionamento recente sirva para subsidiar a defesa do ex-presidente nos processos a que responde no TSE e no STF. Nesse espetáculo de histrionismo, foram os bolsonaristas que saíram satisfeitos, não apenas porque viram seus argumentos legitimados, mas também porque ganharam uma nova musa, ainda que improvável.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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