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Manifestação pró-Bolsonaro na Aveinda Paulista
Pessoas lotaram a Avenida Paulista em ato pró-Bolsonaro.| Foto: Divulgação/Silas Malafaia

Jair Bolsonaro se adonou do campo político conservador. A manifestação de apoio convocada por ele no último domingo é uma prova tácita e irrefutável de seu protagonismo e influência. Tentar reduzir o número de participantes do ato ocorrido na Avenida Paulista é brigar com imagens e números, além de subestimar a competitividade eleitoral de sua base, que tende a eleger um número considerável de vereadores e prefeitos já em 2024.

O ex-presidente é, sem sombra de dúvidas, o maior agitador político da história recente do país. Sua capacidade de articular militantes e mobilizá-los para ações concretas não tem paralelo, nem quando Lula estava no auge das greves sindicais durante a ditadura militar. E se as esquerdas só conseguem admitir isso no íntimo, os demais líderes antipetistas parecem reconhecer de público.

A foto prometida por Bolsonaro é o retrato de uma corrente política que tem dono.

Em seu canal no YouTube, o jornalista Carlos Andreazza foi assertivo quando apontou que a mensagem de força de Jair Bolsonaro foi menos para Alexandre de Moraes e ao Supremo Tribunal Federal, e mais para o mundo político em geral. O silêncio das lideranças do governo ante a multidão que se fez presente evidência o impacto daquilo que o ex-presidente definiu como “foto para o mundo”. Já os que gravitavam no bolsonarismo, modulando posições para encherem suas urnas de votos desse segmento ideológico, agora nem se importam com a pura assimilação.

Os bolsonaristas tidos como raiz, sabem, entretanto, que muitos políticos que estiveram presentes são recém-chegados em busca de votos. Estes são bem-vindos, mas apenas enquanto se submeterem às regras do grupo e cientes de que jamais serão tratados como parte genuína dele. É por isso que, sabiamente, os organizadores da manifestação franquearam microfone apenas para nomes historicamente identificados com o ex-presidente. Caso do governador Tarcísio Gomes de Freitas e do deputado Nikolas Ferreira.

Uma vez que os múltiplos processos atingindo o ex-mandatário não serão interrompidos (e isso não ocorreria nem com 600 mil, nem com 10 milhões de pessoas presentes) está posto um cenário de disputa interna no campo da direita. Aquela massa e o que ela simboliza, afinal, precisarão ser herdados por alguém. Os bolsonaristas sabem que muitos líderes políticos que estavam em cima do trio elétrico estavam menos interessados na condição jurídica de Bolsonaro e mais em sua própria situação eleitoral futura. E um Bolsonaro preso pode até ser um cabo eleitoral melhor do que solto.

Mas, independente de estar inelegível, ou até eventualmente cumprindo pena, o ex-presidente continuará a ser a figura central da direita, sem o qual ninguém neste campo será suficientemente competitivo, como também aponta Carlos Andreazza. A viabilidade possível de qualquer um que pretenda sucedê-lo, principalmente nas eleições presidenciais, só virá com sua predileção, desde que o ungido se comporte como fiel depositário de sua agenda. A foto prometida por Bolsonaro é o retrato de uma corrente política que tem dono, e que não será entregue a ninguém sem um devido contrato de obediência religiosa.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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