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Mídias sociais, informação e relações internacionais

Mídias sociais, informação e relações internacionais

Atualmente não há participantes de mídias sociais ou usuários menos ou mais comprometidos do ciberespaço que não tenham sido acometidos ou molestados por manifestações apaixonadas e efusivas sobre diversos assuntos, até mesmo este blogueiro que vos escreve já teve seu momento de “facebookcídio”.

 

Nas relações internacionais o uso da informação alterou o sistema internacional de tal forma que não podemos mais entender o mundo sem a força e a interdependência nessa era informacional.

Nesse sentido, os colaboradores Ana Carla Fabris e Antonio Greff de Freitas apresentam percepções interessantes sobre a repercussão e impactos da informação e sua propagação, além do uso desta por pessoas e até mesmo Estados.

Aproveitem!!!!

Por: Ana Carla Fabris

O uso da informação

Com o desenvolvimento tecnológico, os novos atores tem tido grande voz no cenário internacional graças ao uso da internet. O meio usualmente utilizado para informar também é usado para propagar opiniões e é aí que devemos ter cautela: a velocidade e quantidade de informações circulantes não significa que as mesmas sejam confiáveis, como por exemplo o papel das mídias sociais em casos como dos protestos em países como a Venezuela até organização de manifestações no Brasil.

Como no exemplo da Venezuela, boa parte daqueles que tem acesso via internet das informações propagadas não se dá ao trabalho de pesquisar a veracidade das informações ou qual se há ou não uma contaminação ideológica por trás do que é propagado, simplesmente aceita-se a ideia veiculada.

Por óbvio que violência é inaceitável, mas muitas vezes esta pode ser utilizada como parte de um discurso para o alcance de outros objetivos que não aqueles propagados no mundo da informação, vez que a questão central de tais fenômenos está subordinada a interesses de grupos a quem interessa a forma como são propagadas as mensagens que transmitem.

No caso do Brasil sabemos, por exemplo, que muitas pessoas que se mostraram a favor do impeachment nem mesmo sabiam quem nos representaria na sequência., o que faz com que a problemática do uso da informação ocupe posição de destaque nas relações internacionais, pois o que acontece internamente em cada país repercute econômica e culturalmente interna e externamente.

O presente post não trata de analisar e realizar juízos de valor sobre o que acontece efetivamente, mas sim a falta de análise, pois, a opinião pela opinião se difunde nos meios sociais, o que fatalmente influencia a partir de uma versão condizente com interesses e não com a realidade.

Por mais difícil que seja o uso da informação deveria estar a favor de uma análise mais direcionada a uma efetiva descrição do real, visto que está ao alcance de quase todos. Alguns blogs especializados podem funcionar como uma boa opção de informação mais crítica e menos hegemônica, servindo como base para discussões comprometidas com a verdade e não com a política.

 

Por: Antonio Greff de Freitas

A dualidade democrática no ciberespaço

Faz mais ou menos uma semana que um busto de Edward Snowden foi colocado em um parque na cidade de Nova York. Evidentemente a efígie tinha o objetivo de comparar o ex-analista da NSA, que revelou como a agência de segurança nacional americana usa internet para a coleta de dados privados de cidadãos ao redor do mundo, a um herói.

Tal qual os bustos da Roma antiga, seus defensores buscaram fazer uma homenagem, mas esta durou pouco, pois horas depois a polícia americana já havia retirado a representação inerte de Snowden. Porém, o que define um herói? Ou alguém que deve ser homenageado? A internet é realmente democrática ou na verdade também sofre influências de grandes corporações como o Google, Facebook, Microsoft ou o próprio governo americano?

Até a pouco tempo atrás o imaginário coletivo tinha certeza de que a internet era um espaço majoritariamente dos cidadãos comuns e para os cidadãos comuns. Assim como afirma Pierre Levy, um dos grandes estudiosos da cibercultura, a internet é um meio construído e alimentado por pessoas comuns no dia a dia, tendo esse imaginário sido confirmado principalmente a partir de 2010, pois nesse ano movimentos de protestos de amplitude global começaram a se proliferar em inúmeros países, não somente em países com governos ditatoriais, mas como também em países com democracias consolidadas como os EUA, Espanha, Inglaterra, entre outros.

Várias explicações tomaram forma para os levantes, protestos e ativismo que facilmente foram comparados com o emblemático ano de 1968. Particularmente no norte da África e Oriente Médio foram chamados de Primavera Árabe ao relembrar a Primavera de Praga ou a Primavera dos Povos de 1848. De fato, eram contestações com um desenho de massa que ocorreram de forma sequencial, país por país, cidade por cidade, até o ponto de ocorrer protestos de solidariedade de povos de um país para com o outro. Um dos propulsores, talvez não o catalizador, desses levantes sem dúvida foi a internet, como o caso da página do Facebook intitulada We are Khaled Said no Egito, ou o uso de vídeos e gravações publicados no youtube sobre os protestos da Tunísia.

Porém, agora os vazamentos de Snowden comprovaram que a amplitude do uso da internet pelo governo americano não parece de certa forma tão democrático, vez que empresas privadas aliadas ao governo estadunidense comprovadamente captaram dados de cidadãos, de presidentes de nações como Dilma Rousseff e Angela Merkel, chanceler da Alemanha, e outras dezenas de líderes mundiais, transpareceu ser corriqueiro como instrumento de estado. Tal prática chegou ao ponto de forçar as líderes de Brasil e Alemanha a apresentarem declarações públicas em direção a Barack Obama, tendo o próprio presidente admitido a existência do programa de espionagem denominado PRISM.

De acordo com um artigo do New York Times do início desse ano o governo americano retirou o grampo da Alemanha e continua a espionar o alto escalão brasileiro, assim como o mexicano. Apesar de Alemanha e Brasil terem provocado até mesmo as Nações Unidas com o objetivo de impulsionar uma resolução que resguarde a soberania nacional contra interferências externas, até mesmo no que tange ao ambiente privado de cidadãos e empresas privadas. Tal tentativa não se mostrou efetiva no que tange a aplicação de penalidades.

O Brasil chegou a cancelar visita de Estado que faria em 2013, algo que só foi revisto em 2015 na Cúpula das Américas com a confirmação de uma visita de trabalho por parte do governo brasileiro. Entretanto, até que ponto realmente existe liberdade na internet se nem presidentes de estados soberanos deixam de ser espionados? O que restaria, então, para o cidadão comum num ambiente online? Dessa forma é possível acreditar que se não existissem personagens como Edward Snowden nem mesmo seria possível se ter consciência da amplitude do controle que a internet pode exercer na sociedade.

A relatividade simbólica do busto de Edward Snowden é cada vez mais concreta do que subjetiva, vez que a internet vive um limiar entre um ambiente de fato democrático e um ambiente controlado por Estados e empresas multinacionais.

 

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