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Primeiro, a má notícia: pela terceira safra consecutiva, os agricultores paranaenses sofrerão os efeitos da seca – provavelmente com menor intensidade que nas duas anteriores. A boa notícia neste cenário – embora ainda não acabe com os prejuízos, apenas os amenize – é que pesquisadores e indústrias de insumos agrícolas já estão preocupados com a situação e trabalham para enfrentá-la.

Mas ainda falta integração entre esses dois pólos de soluções para o campo, avalia o professor de Mecanização Agrícola da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Luiz Fernando Coelho. "Temos trabalhos científicos nas universidades e institutos de pesquisa para enfrentar a estiagem. Mas, muitas vezes, as pesquisas ficam restritas a esses ambientes e os fabricantes de máquinas, equipamentos e insumos não ficam sabendo desse estoque ainda não usado", avalia o especialista.

Coelho é coordenador da comissão julgadora do Prêmio Gerdau Melhores da Terra, iniciativa do grupo empresarial gaúcho Gerdau, que tem como um de seus objetivos aproximar as idéias do meio acadêmico da realidade do campo. Sintomaticamente, nenhum dos 11 trabalhos premiados na edição deste ano – nove máquinas e equipamentos agrícolas e dois trabalhos científicos – trabalham a questão da seca.

Apesar da larga distância entre a teoria e a prática, já há uma série de produtos, equipamentos, técnicas e práticas que prometem mitigar os efeitos da falta de chuva sobre as lavouras e até pastagens. O Caminhos do Campo reuniu cinco exemplos, que vão desde soluções práticas e obrigatórias por lei, como a reposição da mata à margem de rios e nascentes, até prodígios da ciência, que incluem o desenvolvimento de uma soja transgênica mais tolerante à seca.

O agrônomo Godofredo Cesar Vitti, professor titular em nutrição de plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, percorre o país para divulgar uma dessas soluções. Ele explica o funcionamento de um insumo simples, descoberto há mais de 20 anos, mas ainda pouco usado pelo agricultor, especialmente no Paraná.

Trata-se do sulfato de cálcio (CaSO4, mistura de cálcio e enxofre), conhecido popularmente como gesso agrícola. O produto ajuda a corrigir a acidez acentuada dos solos brasileiros, que possuem baixa concentração de cálcio (nutriente para as raízes) e alta de alumínio (elemento tóxico para as plantas).

A reação química gerada pelo produto faz com que camadas mais profundas do solo – abaixo dos 20 centímetros tradicionais – possam receber as raízes das plantas, de onde elas retiram a água e os nutrientes necessários para resistir à falta de chuva. Segundo Vitti, estudos provaram que o gesso agrícola consegue levar as raízes do milho, por exemplo, para até um metro de profundidade. Sem ele, as raízes atingem, no máximo, 40 centímetros.

De acordo com o pesquisador, embora as plantas cresçam mais, elas resistem ao acamamento, por serem mais vigorosas. Mas ele faz um alerta: é obrigatório se fazer análise do solo e aplicar o gesso agrícola após o calcário. Segundo Vitti, essa combinação dá ótimos resultados no plantio direto.

O recrudescimento da seca nas últimas safras levou a indústria de fertilizantes Fertion a produzir, a partir deste ano, o sulfato de cálcio em sua fábrica de Rio Branco do Sul (Região Metropolitana de Curitiba). A empresa pretende abocanhar 5% do mercado estadual do produto, previsto para 200 mil toneladas nesta safra.

Segundo Luiz Carlos Ferreira, diretor técnico da Fertion, a aplicação deve ser feita entre 30 e 60 dias antes do plantio e varia entre mil e 3 mil quilos do gesso agrícola por hectare, dependendo da concentração de alumínio no solo. Custa R$ 70 a tonelada.

1 - Agrometeorologia

Acabou o tempo em que, para sondar a possibilidade de chuva, o agricultor olhava para o céu. Hoje, há diversos serviços de previsão de tempo pela internet destinados à agropecuária. Usando-os, o agricultor pode reduzir gastos e aumentar a produtividade, programando melhor o plantio, os tratos culturais, a irrigação, a colheita e até a comercialização. É possível contratar boletins meteorológicos personalizados para cada cultura. Os sites gratuitos mais indicados são: Agritempo (www.agritempo.gov.br), Climatempo (www.climatempo.com.br), Inmet (www.inmet.gov.br) e Inpe (www.inpe.br).

5 - Irrigação

Programar a "chuva" com sistemas de irrigação não é mais exclusividade de produtores de hortaliças ou grandes produtores de grãos do Centro-Oeste. As indústrias já fabricam pivôs rebocáveis que cobrem áreas de até 3 hectares. Já é comum a irrigação de lavouras de cana, batata e até pastagens. O grande entrave à expansão da irrigação ainda é o preço. Um projeto completo para um pivô júnior capaz de irrigar 24 hectares, em oito etapas, custa R$ 100 mil. Os pivôs gigantes, que cobrem 204 hectares, custam R$ 700 mil. Os equipamentos podem ser financiados pelo programa federal Moderinfra, com prazo de pagamento de cinco anos, com juro anual de 8,75%.

3 - Gesso agrícola

O uso do sulfato de cálcio (CaS04), conhecido popularmente como gesso agrícola, ajuda a aprofundar as raízes das plantas, fazendo com que elas fiquem mais vigorosas e busquem água em camadas mais profundas do solo. Pesquisas mostraram que, com o uso do produto, as raízes de gramínias (trigo, milho) podem atingir até 1 metro, contra 40 centíme-tros no cultivo tradicional. Com isso, as lavouras resistem mais à seca. A aplicação exige análise do solo e deve ser feita a cada três safras, após a calagem (aplicação de calcário). Custa R$ 10 mil a tonelada, um quarto do valor do calcário.

4 - Mata ciliar

Repor a mata retirada das margens de rios, córregos e nascentes contribui para a manutenção da umidade do solo, ajuda a repor e melhorar a qualidade da água e reduz a erosão. A recomposição da mata ciliar é obrigatória desde 1989, quando foi aprovada a lei 7.803. Todos os cursos d’água devem ter uma faixa de mata que vai de 30 a 500 metros, dependendo de sua largura. O Paraná desenvolve um programa de mata ciliar, que já plantou 44,5 milhões de mudas de 64 espécies nativas. Mas o programa enfrenta a resistência de muitos agricultores, receosos de perder parte de suas áreas de agricultura ou pastagem.

5 - Soja tolerante à seca

A novidade ainda demora entre cinco e dez anos para chegar às lavouras, mas promete uma revolução. A Embrapa Soja está desenvolvendo, junto com o Jircas (instituto de pesquisa agrícola do governo japonês), variedades de soja transgênica tolerantes à seca. Nos testes, realizados desde 2003, as plantas transgênicas, submetidas à falta de água, apresentaram redução do abortamento de flores e conseguiram prolongar a atividade biológica das células por até 30 dias, contra o máximo de 10 dias obtido pelas variedades convencionais nas mesmas condições. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, os testes apresentam bons resultados.

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