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Todos os dias, antes de beber um copo de leite, saborear um ovo frito ou um bife suculento, você se dá conta que esses produtos vieram de animais, portanto seres vivos que nasceram, cresceram e foram mortos antes de chegar à sua mesa. Surge então a pergunta: na criação e no abate, eles foram submetidos a sofrimento, passaram calor ou frio, fome, dor, angústia? Se esse tipo de preocupação já faz parte do seu cotidiano, você integra – talvez sem saber – um crescente movimento mundial pela defesa dos direitos dos animais.

Muito forte nos países da União Européia, a atenção ao bem-estar dos animais criados comercialmente começou há cerca de cinco anos no Brasil, por imposição dos importadores. É um movimento ainda tímido, mas que ganha força. "Até os anos 70, a preocupação era com o preço. Depois, surgiram as questões da qualidade dos produtos, como data de validade e aparência. Em meados da década de 80, os europeus passaram a exigir ética na produção", explica Irenilza de Alencar Nääs, professora da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, especialista no estudo de alojamento de animais.

Para a pesquisadora Patricia de Souza, a adoção de regras de bem-estar animal resulta em carne e subprodutos de melhor qualidade. "O animal assustado e estressado libera hormônios que, entre outros efeitos, reduzem a conservação da carne", explica Patricia, que se dedica ao tema na Unidade Suínos e Aves da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Concórdia (SC). Dois exemplos: Frangos criados fora das condições ideais costumam arrancar as próprias penas e bicar os demais. Os suínos acabam se ferindo, ao morder as grades das baias.

As regras de bem-estar dos animais criados para alimentar o homem podem ser agrupadas sob quatro princípios: direito a alimentação e água fartas e de boa qualidade; a boas condições de alojamento; a expressar as características individuais de sua espécie e a uma morte instantânea, sem dor ou angústia. Criadores de aves, suínos e bovinos já adotam uma série de medidas que atendem a esses princípios e outras estão em estudo.

A motivação para essas transformações não é só humanitária. Os criadores já percebem que conforto e bem-estar podem ser traduzidos em ganhos de produtividade e menor incidência de doenças. "Quando há retorno econômico, o produtor responde mais rápido", concorda o veterinário João Batista Manfio, presidente da Associação dos Suinocultores do Oeste do Paraná (Assuinoeste). Segundo ele, que é criador em Toledo, entre as medidas já adotadas no setor está o aumento do pé direito das pocilgas, para melhorar a ventilação, e até o uso de aspersores de água, que são ligados nos dias mais quentes.

Para o consumidor, o ponto negativo da adoção de medidas como essas poderá ser um aumento de preço dos produtos. Oferecer condições ideais de manejo, saúde e tratamento das criações aumenta os custos de produção. O próximo passo da discussão deverá envolver a capacidade do consumidor brasileiro de bancar esses custos.

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