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Arlington, EUA - O deslocamento do eixo da economia mundial em direção à Ásia opõe em nova batalha Brasil e Estados Unidos, os dois maiores exportadores de commodities agrícolas. A briga é por uma fatia maior do mercado chinês, motor da expansão da economia asiática. No país mais populoso do mundo, a produção agropecuária é grande, como tudo na China, mas cresce aquém do consumo e torna o país cada vez mais dependente das importações.

"Pelo seu crescimento, atual e potencial, todos os exportadores de commodities estão de olho no mercado chinês. Europa, Aus­trália, Nova Zelândia, Japão, Corea, Chile, África do Sul, Argen­tina, Brasil e EUA, todos querem um pedaço", diz Kevin Latner, diretor da secretaria de comércio exterior do Departa­mento de Agricultura dos EUA (USDA) em Chengdu, na China. A declaração foi feita no final do mês passado, durante o 2010 Outlook Forum, o fórum mundial da agricultura, em Arling­ton, na Virgínia.

Com sua economia pujante, o país virou assunto obrigatório na pauta de discussões de importantes congressos internacionais de negócios, como o Outlook. A conferência, que é promovida anualmente pelo USDA, destacou em sua programação, pela primeira vez em 86 anos, um painel ex­­clusivo para discutir a expansão da agropecuária chinesa e os seus efeitos sobre as economias mundiais.

O interesse se justifica. "A China é hoje a maior economia agrícola do mundo. É o quinto exportador produtos básicos e o terceiro país que mais importa commodities no mundo. Detém 3,2% das exportações globais e 6,1%das importações mundiais do agronegócio", enumera Colin Carter, professor da Universidade da Califórnia em Davis(CA), que também participou das discussões sobre o país asiático no Outlook.

Os números citados por Carter são expressivos, mas, sozinhos, não dizem muita coisa. Não mostram, por exemplo, que em apenas seis anos a China passou de exportadora de commodities agrícolas a terceiro maior importador de bens primários do mundo. E que isso é apenas o começo. "A China ainda é exportadora de milho e arroz, mas importa cada vez mais trigo e, principalmente, soja", completa o professor.

Dados do USDA mostram que as importações de soja do país saíram de praticamente zero na década de 90 para 41,1 milhões e toneladas em 2009. Para 2010, a projeção é que a China busque no mercado externo 42,5 milhões de toneladas da oleaginosa, o equivalente a 77% de sua demanda anual, respondendo por 52% do comércio global do grão. "Se fosse produzir toda a soja que importa, a China teria que cultivar 26 milhões de hectares adicionais. Mas não há terras disponíveis para expandir a agricultura no país", observa Fred Gale, economista do USDA.

"Hoje, a maior parte dos alimentos que os chineses consomem ainda vem do mercado doméstico. Mas isso está mudando. E rápido. O país produz comida suficiente para alimentar 20% da população global. O problema é que a população chinesa é ainda maior que isso. 22% dos habitantes do planeta estão lá", explica.

Segundo Latner, a enorme população chinesa – estimada em 1,3 bilhão de habitantes – continua crescendo, se urbanizando, e, principalmente, ga­­­nhando renda. "Com o aumento do poder aquisitivo, as refeições fora de casa ganham espaço cada vez maior. A projeção é que os chineses ultrapassem os EUA nesse mercado já em 2012", observa. Segundo ele, conforme aumenta a renda, diminui o consumo de grãos e cresce o de alimentos mais nobres, de maior valor agregado, como carnes, pescados, frutas e verduras.

Não por acaso, a indústria de carnes é uma das locomotivas do crescimento chinês. Entre 1990 e 2009, a produção de carne bovina, suína e de aves do país triplicou. Para isso, os chineses precisaram ampliar em 460% as suas importações de soja e derivados (incluindo óleo e farelo). A produção interna do grão cresceu apenas 32% no período. "É um enorme mercado potencial, que está lá, esperando para ser explorado", considera Latner.

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