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Uma das principais lições que se pode tirar da crise da aftosa, que travou as exportações de carne do Paraná para 56 países no último ano, é a de que o mercado constitui um patrimônio inestimável para a agropecuária. Não basta produzir, garantir qualidade, seguir regras sanitárias, alcançar bons preços. O sistema de distribuição da produção, sua lógica de funcionamento e seu grau de estabilidade determinam o sucesso ou o fracasso para os mais diversos setores.

No caso da carne, ficou evidente que o produto nacional estava mais vulnerável do que se pensava. Bastou a suspeita de que o vírus da aftosa circulava pelo Paraná para que os criadores de bovinos, suínos e aves passassem a enfrentar restrições da União Européia e de outros 30 países espalhados pelo mundo.

Passados 14 meses, está claro que, com ou sem vírus da aftosa, há muito a se fazer para tornar o mercado um ambiente seguro de distribuição. O potencial implosivo dos casos de suspeita da doença precisa ser reduzido, uma vez que a própria vacinação pode colocar em xeque a saúde do rebanho. Os pecuaristas dependem de uma vacina que não seja mal interpretada em testes de laboratório, e de regras sanitárias que não forcem o sacrifício nem discriminem os animais sadios.

A criação de mercados mais favoráveis é uma meta também da agricultura. Na última semana, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, voltou a discutir a redução dos subsídios oferecidos a produtores norte-americanos e europeus com a representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab. A questão, que vem sendo avaliada desde 2001, é imprescindível para garantir competitividade à produção de países em desenvolvimento. No entanto, segundo Amorim e Schwab, a remotada das negociações da Rodada de Doha, suspensas há seis meses, não será fácil. Em outras palavras, os países desenvolvidos admitem que precisam recuar para garantir mais renda a regiões pobres, mas não aceitam cortar a própria renda.

Por outro lado, há setores em que o mercado se mostra tão amplo que a expansão da produção parece ser uma questão de tempo. É o caso dos produtos orgânicos, tema da reportagem de capa desta edição do Caminhos do Campo. Apesar das dificuldades enfrentadas na certificação das mercadorias – diante de uma legislação nacional incompleta e de custos considerados altos pelos pequenos produtores –, ninguém perde o ânimo. Nas feiras realizadas pelo setor, nota-se que é possível oferecer alimentos, cultivados sem o uso de sintéticos, por preços acessíveis. Ou seja, os orgânicos podem chegar não só aos consumidores mais preocupados com a saúde, mas a um mercado ainda a ser dimensionado, inclusive no Brasil.

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