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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A publicitária Suzie Conn, de Nashville, no Tennessee, viu uma alpaca pela primeira vez na vida em uma feira agrícola que visitou. “Não sabia nem como escrevia o nome”, confessa.

Apesar disso, foi paixão à primeira vista e agora essas primas da lhama, tranquilas e peludas, são parte importante da vida dela e do marido, Gary, que encerrou uma longa carreira em vendas. Os dois, ambos com 70 anos, têm uma criação na fazenda de 2,6 hectares que compraram como preparação para a aposentadoria, há 16 anos, em College Grove, a 60 km a sudeste de Nashville.

Às vezes, eles têm um pequeno lucro, embora quase sempre fiquem só no empate, depois de vender parte do rebanho, além da fibra macia e os produtos de tricô e crochê que Suzie aprendeu a fazer. “Não estamos nessa para ganhar dinheiro. É pelo estilo de vida, que é muito divertido”, explica ela.

As chamadas propriedades de passatempo, ou de estilo de vida, como a de Gary e Suzie, vêm surgindo por toda parte nos EUA, em números constantes. São especialmente populares entre quem se aposentou ou está perto de fazê-lo e quer continuar produtivo na terceira idade, enquanto realiza uma paixão antiga ou encara novos desafios.

“O que se vê é um pessoal com muita vontade de se manter ativo e encontrar um propósito na vida. As pessoas estão vivendo mais; a expectativa de vida hoje é de 80, 90 anos, ou seja, são décadas de tempo para preencher. O desejo de construir e cultivar coisas na natureza é extraordinário e muito inspirador”, explica Catherine Collinson, presidente do Centro Transamérica para Estudos de Aposentadoria.

Segundo uma pesquisa on-line publicada em meados do ano passado pela instituição que lida com investimentos e planos de previdência privada, 28 por cento dos que ainda estão ativos pretendem fazer algum tipo de trabalho depois de aposentados, incluindo uma segunda carreira ou novo negócio. Quarenta e nove por cento também sonham em investir em um passatempo.

Por isso, não é surpresa o fato de esse tipo de propriedade estar em alta. “É a classe mais valorizada no momento no país, especialmente popular entre quem está para se aposentar ou acabou de fazê-lo”, conta Michael Duffy, presidente da Imobiliária United Country de Kansas City, no Missouri.

A propriedade para esse fim varia muito em tamanho e objetivo, mas a maioria quase sempre inclui algum tipo de cultivo e animais, geralmente galinhas, segundo informação de Roger Sipe, editor do grupo de revistas Hobby Farms e Chickens. Ela pode estar localizada perto das cidades ou em pontos remotos e variar em área de 2 mil m² a vinte hectares.

Alguns proprietários conseguem gerar uma segunda fonte de renda, geralmente vendendo seus produtos em mercados livres e feiras de artesanato, como é o caso de Suzie, ou os animais que criam - e praticamente todos, cuja renda é fixa, se satisfazem em pelo menos poder economizar o dinheiro da feira plantando ou criando o próprio alimento.

Wendy Webster, 57 anos, assistente de ensino recém-aposentada, adora saber que tem um estoque de queijo de cabra para a família e os vizinhos, produzido no sítio de pouco menos de 2 mil m² em Gig Harbor, no estado de Washington. Ela e o marido, Keith, que também tem 57 anos e continua a trabalhar na escola local, cria e vende cabras anãs nigerianas. Eles já têm oito. Além disso, há um pomar e uma horta com vagem, pepino e abóbora.

O trabalho pode ser árduo e até confinador às vezes, principalmente no que se refere ao tratamento aos animais. “Elas precisam ser ordenhadas de manhã e à noite se você quiser manter a produção, ou seja, fica amarrado mesmo”, conta ela. E diz que precisa contratar alguém de fora quando precisa/quer viajar ou tirar férias. “Mesmo assim, nunca estive tão feliz”, admite. Wendy e o marido abriram a fazenda para excursões escolares e também fornecem cabritinhos para a exposição infantil especial organizada pelo zoológico.

E entrega o segredo do sucesso: começar devagar. “Já vi gente que tem muito dinheiro e sai comprando tudo de que precisa, logo de cara; aí, de repente, se vê com um rebanho imenso e sem condições de cuidar”, diz ela, familiarizada com a vida na fazenda por ter sido criada em Tacoma, Washington, e membro vitalício do 4-H Club, um grupo de desenvolvimento de jovens. “Tem meio essa ideia romântica da vida na fazenda, mas garanto que não é nada glamouroso, não importa o que você crie ou plante.”

A fazenda de Suzie existe e vem sendo melhorada há anos. O casal comprou a propriedade no Tennessee quando ainda trabalhava, disposto a se sacrificar passando mais tempo indo e vindo em troca do cenário bucólico. E depois que ambos concordaram que criariam alpacas, começaram comprando dois machos, ou “garotos de fibra”, antes de investirem nas fêmeas, mais caras. “Acho que é a melhor opção, mas já vi gente comprar trinta de uma vez.”

Kevin Sewell, 64 anos, aposentado depois de uma longa carreira na indústria aeroespacial, aos poucos vai aprumando a propriedade de oito hectares que adquiriu em Nocona, no Texas (população: 3 mil habitantes), a 160 km a norte de Dallas. Primeiro, ele e a mulher, Linda, 62 anos, figurinista aposentada, construíram uma casa simples; depois, investiram em maquinário, compraram uma novilha, montaram uma colmeia produtora de mel e fizeram uma horta. Kevin agora pretende colocar o animal para cruzar e comprar um macho. “Faz pouco mais de um ano que compramos a fazenda, então estamos equipando tudo aos poucos”, conta.

Catherine Collinson, do Transamérica, sugere que os aposentados que estejam pensando em comprar uma propriedade tracem primeiro um plano de negócios sólido. E ponham tudo no papel, incluindo os custos iniciais e as despesas escondidas, como mão de obra externa e seguro de responsabilidade. É também essencial ter uma estratégia de saída ou plano de sucessão. (Os aposentados mantêm esse tipo de fazenda, em média, entre dez e quinze anos.)

“É muito fácil subestimar os custos e superestimar o prazo de duração das economias. A pior coisa do mundo é ter que investir em um poço sem fundo depois de aposentado”, diz ela.

Antes de começar o plantio em sua chácara de 2,4 hectares em Landrum, na Carolina do Sul, Kathy Merlino, 63 anos, se matriculou em um curso de Jardinagem ministrado pela cooperativa da Universidade Clemson. Através do método de tentativa e erro, conseguiu fazer vingar e colher volumes incríveis de mirtilo, groselha, figo, uva e morango, além de tomate, aspargo e outros legumes. “Eu não queria só cultivar legumes, frutas e verduras, mas também entender o processo em si”, explica ela, que se aposentou cedo de uma carreira no setor financeiro e imobiliário. “Se for procurar uma propriedade para comprar, descubra antes que tipo de cursos pode fazer. E se for administrá-la como a um negócio, é preciso fazer algum curso de gestão”, ensina.

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