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Na onda mundial dos biocombustíveis, que aquece o mercado das commodities e mexe na relação de oferta e demanda dos principais países produtores, o Brasil caminha para consolidar um novo ciclo da agricultura comercial. A soja deixa de reinar absoluta diante da expansão do milho, que a médio prazo deve superar a oleaginosa e ocupar o primeiro lugar no ranking nacional da produção de grãos.

Perspectivas de consumo e preço transformam o cereal em uma das principais apostas do agronegócio brasileiro. Pode-se dizer que o grão anda na cola da soja, que continua a ser a grande vedete no campo, mas agora na companhia de um importante coadjuvante. Neste ano, pela primeira vez na história, a produção de milho no Brasil (1.ª e 2.ª safras) deve bater na casa das 50 milhões de toneladas, com destaque para o safrinha, que de acordo com previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem potencial produtivo para atingir mais de 14 milhões de toneladas, volume 30% acima da safra anterior.

No Paraná, maior produtor, que responde em média por 1/3 da produção nacional, o milho já supera a soja. O estado deve fechar o ano com 11,91 milhões (t) de soja e 13,7 milhões (t) de milho, conforme levantamento do Rumos da Safra/Gazeta do Povo. O projeto, que faz um levantamento técnico-jornalístico da safra de grãos, identificou aumento de 32% na área do safrinha no estado, que salta de 971,4 mil para 1,282 milhão de hectares. No milho de verão, a estimativa era de uma redução de 14,46%, para 1,26 milhão (ha). Com as condições climáticas favoráveis, situação que estimulou o plantio, ao final do ciclo o Rumos da Safra constatou que o recuo da área foi menor, para 1,3 milhão (ha), ante 1,48 milhão (ha).

Na avaliação de Flávio Turra, gerente técnico-econômico da Organização das Cooperativas (Ocepar) – entidade que atua como parceiro técnico do Rumos da Safra –, a produção deixa de focar apenas o mercado interno, para ocupar um espaço que se abre para atender a demanda internacional. Ele explica que, nos últimos 10 anos, o consumo no Brasil cresceu junto com o setor de carnes, aves e suínos, que tem no milho a matária-prima da racão. "Mas agora deve se aquecer em função da demanda internacional, que continua forte por causa da retração dos Estados Unidos na exportação." Turra acredita que a área de soja tem espaço e vai continuar em crescimento no país, mas, se confirmadas as tendências mundiais, o analista prevê que o milho assumirá a liderança nos próximos quatro anos.

Gilda Bozza, economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep) – também parceira técnica do Rumos da Safra – não descarta a possibilidade de o milho liderar a produção, mas diz que "tudo vai depender da decisão do produtor, que vai migrar para onde obter maior rentabilidade, com base em variáveis como comportamento dos preços e paridade na exportação".

Outro aspecto importante, cita, é que o mercado de commodities passa a fazer uma leitura de concorrência entre a produção de alimento e a de energia alternativa. Além disso, é preciso avaliar o milho sem esquecer da soja. A economista lembra que o aumento da área destinada ao cereal nos Estados Unidos reduz o espaço destinado à oleaginosa e também aquece o mercado mundial do grão.

Mas a euforia com o novo ciclo proporcionado pelo milho não é unanimidade. As análises se dividem ainda mais quando o assunto é mercado e preços. Há quem acredite que a ampliação da área norte-americana será suficiente para atender a demanda por etanol e que os Estados Unidos ainda terão fôlego para continuar exportando milho. Com a oferta aquecida no Brasil e no exterior, a preocupação volta a ser o preço.

Outro fator determinante será o clima, que pode influenciar tanto na produção americana como na safrinha do Brasil. Nos Estados Unidos, um fenômeno atípico surge como ameaça: em pleno plantio, está nevando em algumas das principais regiões produtoras.

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