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São Paulo (SP)- O Brasil corre contra o tempo para dobrar a produção de alimentos e aproveitar a ampliação do consumo internacional. Mas, para isso, não basta ampliar a área de plantio. Apesar de possuir a maior área agrícola inexplorada do mundo – avaliada oficialmente em 71 milhões de hectares, 10% mais do que se usa atualmente –, o país só conseguirá avançar em sua meta se melhorar o uso de defensivos agrícolas. O argumento é da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que mostrou na última semana, num seminário em São Paulo, uma série de problemas que precisam ser enfrentados. Da liberação de novos produtos à aplicação correta dos agrotóxicos, o país ainda tem muito em que melhorar.

Menos concentrada que no setor de fertilizantes, a indústria de defensivos tem 76 fabricantes no Brasil e conta com 6 mil distribuidores, além de 1,5 mil cooperativas. Essa malha está certa de que o país é o mercado mais promissor do mundo para quem produz insumos agrícolas neste momento, segundo a Andef. "A produção agrícola brasileira dobrou nos últimos 15 anos sem aumento expressivo da área. Essa tendência persiste. As pragas ainda reduzem de 40% a 50% o potencial das lavouras", argumentou o diretor-executivo da associação, José Otavio Menten.

O mercado de acaricidas, herbicidas, inseticidas e fungicidas faturou R$ 16 bilhões em 2008 no Brasil. Apesar da tendência de queda nas vendas a curto prazo, a expectativa é de amplo crescimento à medida em que a crise internacional passe e o consumo recupere seu ritmo.

O clima tropical faz com que o Brasil use 50% mais defensivos por área do que os Estados Unidos, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Na comparação por tonelada produzida, no entanto, usa 20% menos. O Japão, por exemplo, precisa de 10 vezes mais fertilizantes para produzir a mesma quantidade de alimentos que se colhe no Brasil, também conforme a FAO. "Não temos dúvida de que o melhor uso de defensivos pode ampliar em muito a produção brasileira", disse Menten.

Em relação ao risco de ampliação dos custos, ele considera que o avanço dos produtos e os resultados obtidos afastam essa possibilidade. Argumenta que, apesar de os fertilizantes terem subido, os preços dos agrotóxicos caíram 20% nos últimos cinco anos e se mantiveram estáveis na safra 2008/09. Sua base é uma pesquisa que usou índices da Fundação Getúlio Vargas para comparar preços praticados em São Paulo.

O gerente de Educação e Treinamento da Andef, Luis Carlos Ribeiro, disse que o setor tem atuado com mais responsabilidade do que a sociedade imagina. Ele refere-se a uma série de projetos financiados pelas indústrias que prometem redução nos efeitos da aplicação de agrotóxicos e ajudam a proteger o homem do campo. "A preocupação com a aplicação correta dos defensivos está mais nas mãos da iniciativa privada do que nas do poder público."

As indústrias de defensivos estariam investindo perto de 11% das vendas em pesquisa e desenvolvimento, índice só superado pela indústria farmacêutica. No entanto, os novos produtos demoram até cinco anos para chegar ao mercado, apesar de a legislação apontar período dez vezes menor. A reclamação é contra o sistema de registro, que abrange os órgãos federais da agricultura, ambiente e saúde. Ou seja, os produtos estariam chegando atrasados à agricultura brasileira, já pouco preparada para usá-los.

Além disso, o custo de registro de agrotóxicos no país é considerado alto. Conforme a Andef, são gastos de R$ 80 a 100 milhões para um produto novo, R$ 120 para uma nova formulação e R$ 60 milhões para extensão de uso de um produto já registrado. Os valores incluem as pesquisas necessárias para a comprovação das propriedades de um defensivo e suas consequências à natureza e à saúde.

O jornalista viajou a convite da Andef

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