• Carregando...

Depois ampliar em 34% a produção em 2010, a indústria de máquinas agrícolas do Brasil vai ter de colocar o pé no freio neste ano. Isso porque a Argentina, principal cliente nesse mercado, fechou suas fronteiras para importação dos produtos brasileiros. Há dois anos, o país vizinho começou a regular as compras do setor e, desde o início de 2011, parou de importar tratores e colheitadeiras. As restrições, que até então se limitavam à entrada de máquinas prontas, nesta semana foram estendidas a peças de reposição, travando ainda mais o comércio entre os dois países.

A decisão argentina frustrou os planos de expansão do setor no Brasil, que esperava exportar cerca de 20 mil unidades neste ano. Segundo a Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), perto de 1 mil máquinas – 700 tratores e 300 colheitadeiras – estão paradas no pátio das indústrias aguardando a liberação de licenças de importação por parte do país vizinho.

"Certamente haverá impacto negativo nas vendas externas. O primeiro trimestre, que é justamente o período de maior demanda, já foi todo comprometido. Mesmo se os argentinos reabrissem a fronteira agora, 4% a 5% dessas vendas já estariam perdidas. E ,se essa situação persistir, perdermos mais 5% a cada três meses", estima Milton Rego, vice-presidente da entidade.

Apesar de não estar prevista no acordo automotivo do Mercosul, a emissão de licenças não-automáticas de importação é permitida pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e, até o final do ano passado, não impedia as exportações brasileiras para a Argentina. Desde dezembro, no entanto, o ritmo de concessão dessas autorizações diminuiu e, em 2011, nenhum embarque foi autorizado. "O acordo previa a utilização de forma pontual e passageira desse mecanismo e, mesmo assim, o prazo de liberação das licenças teria que ser de dez dias. A praxe, contudo, estava sendo de 60 dias, que é o máximo permitido pela OMC, mas há licenças com mais de 100 dias ainda sem aprovação", relata Rego.

Déficit comercial

Com a estratégia, a Argentina tenta reverter o déficit na balança comercial do setor, que somou US$ 450 milhões em 2010. No mês passado, as empresas se reuniram com representantes do governo que, nas entrelinhas, deixou claro que as licenças só voltarão a ser emitidas depois que as montadoras apresentarem um plano para elevar a produção local e ampliar as exportações.

"É uma decisão estratégica do governo para promover uma indústria nacional de máquinas agrícolas forte, pois há um mercado potencial enorme se pensarmos que, em cinco anos, a nossa safra de grãos vai crescer de 100 milhões para 150 milhões de toneladas anuais", declarou a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, após reunião com diretores da Câmara Argentina de Fabricantes de Máquinas Agrícolas (CAFMA) e representantes de empresas nacionais, em fevereiro.

Dependência externa

De acordo com Giorgi, a meta é reduzir a dependência externa do setor para 50% nos próximos anos. Atualmente, cerca de 80% das máquinas vendidas na Argentina vêm de outros países. No ano passado, 85% dos 6,5 mil tratores e 75% das 1,2 mil colheitadeiras comercializadas vieram do exterior. Com as importações, o país gastou, respectivamente, US$ 280 milhões e US $ 200 milhões, conforme os dados oficiais.

Com crédito facilitado e mais barato, a indústria aregentina promete responder ao chamado do governo. Duas grandes montadoras já anunciaram intenção em aumentar entre 35% e 100% a produção de tratores neste ano.

Planos frustrados

Principal fornecedor de máquinas agrícolas para a Argentina, o Brasil deve ser prejudicado caso o país consiga mesmo fortalecer a sua produção doméstica. Hoje, entre 30% e 35% das vendas externas brasileiras – que correspondem a pouco mais de 10% da produção nacional – têm como destino os portos argentinos. A expectativa da indústria é que a produção seja reduzida nessa mesma proporção.

Em 2010, a produção de máquinas agrícolas cresceu 34% no Brasil, para 88,7 mil unidades. 68,5 mil foram vendidas no mercado interno (+23,8% ante 2009) e 18,7 mil unidades (+26,5%) no externo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]