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Bovinocultura segue na contratendência | Josua© Teixeira/ Gazeta Do Povo
Bovinocultura segue na contratendência| Foto: Josua© Teixeira/ Gazeta Do Povo

O agronegócio do Brasil dribla o cenário de retração econômica nacional e promete continuar no campo positivo até o fim do ano. No âmbito estadual, porém, onde o Produto Interno Bruto (PIB) teve evolução praticamente nula até agora, a tendência é de recuo no setor. Essa contradição acontece, principalmente, porque o estado foi o mais afetado pela seca do verão passado.

A agropecuária não acompanhou a variação negativa de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano, que configurou um cenário de recessão técnica no país. O indicador divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou aumento de 0,2% na atividade “dentro da porteira”.

Considerando toda a cadeia produtiva —que inclui indústrias, transporte e outros serviços —, a previsão também é de crescimento, mesmo com a perspectiva de preços mais baixos para commodities como soja e milho, que tendem a pressionar a renda do produtor já nesta safra. A maior parte da comercialização da soja, por exemplo, ocorre no primeiro semestre.

A atividade rural vai continuar atenuando o impacto da retração econômica do país até o final do ano, indica Adriana Silva, pesquisadora da área de macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado a Universidade de São Paulo (USP). “O agronegócio não vai compensar, mas pode impedir que resultados negativos sejam mais expressivos. Isso já ocorreu no primeiro semestre”, avalia.

Em paralelo às previsões do IBGE, o Cepea calcula um índice que pondera o desempenho de toda a cadeia produtiva, incluindo setores como insumos, distribuição e agroindústria. Batizado de PIB do Agronegócio, o indicador terminou o primeiro semestre deste ano com alta de 1,9% ante 2013.

“As perspectivas de aumento da produção para o conjunto das atividades agropecuárias explicam o resultado positivo”, complementa Adriana. O Cepea estima que é possível fechar o ano com uma expansão próxima de 3,8% — em 2013 o índice registrou elevação de 3,9%.

Recuo estadual

No caso específico do Pa­­raná, o resultado econômico da agropecuária tende a seguir na contratendên­­cia. A explicação está nos pro­­blemas climáticos que com­­prometeram parte da sa­­fra do verão de 2013/14, in­­dica o economista do Ins­­tituto Paranaense de De­­senvolvimento Econômico e Social (Ipardes) Francisco José Gouveia de Castro. O clima consumiu mais de 1 milhão de toneladas de grãos.

Como o PIB é calculado com base no ano civil — e o resultado da safra recorde de soja que começa a ser plantada será contabilizado em 2015 —, a tendência é de que a atividade agrícola trabalhe no campo negativo neste semestre, detalha Castro. As cotações de praticamente todos grãos de inverno e verão estão abaixo das registradas na primeira metade do ano. As altas resumem-se à arroba do boi, ao quilo do suíno e ao café.

O Ipardes faz a previsão para o PIB estadual com o mesmo método do IBGE e diagnosticou crescimento de 0,1% na economia estadual no trimestre abril-junho. Apesar disso, a atividade agropecuária (dentro da porteira) caiu 4,3%.

O fato de a safra de inverno render volume maior que o do ano passado é um fator positivo, apesar do rebate que a queda nos preços representa, avalia o especialista do Ipardes. Caso o Paraná não tenha problemas nos cultivos de verão, Castro indica que os efeitos serão notados no primeiro semestre de 2015.

Queda de preços pressiona renda bruta do campo

O cenário de preços mais baixos para as commodities agrícolas vai pesar sobre o resultado do Valor Bruto da Produção (VBP) deste semestre e de 2015. O índice mensura a riqueza produzida dentro da porteira, com base no volume produzido e nos preços da comercialização. Ao contrário do Produto Interno Bruto (PIB), o indicador não sinaliza crescimento econômico, num cenário global de aumento da oferta e dos estoques.

A estimativa mais recente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o VBP aponta que o índice vai crescer, mas em ritmo bem mais fraco do que o esperado e abaixo dos índices registrados nos últimos anos. A receita bruta nacional será 2,1% maior do que em 2013, chegando a R$ 442 bilhões, conforme o Mapa. A taxa de expansão é a menor desde 2010, quando o avanço foi de 4%.

Para o Paraná, a previsão do Mapa é de queda de 9,4% no VBP, para R$ 45,8 bilhões. A queda será puxada por produtos como soja (-11,9%), milho (-33,1%) e cana-de-açúcar (-4,4%).

A pesquisadora Adriana Silva, da área de macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), afirma que o VBP “superestima tanto a renda como o lucro dos produtores rurais”. Ela argumenta que a queda de preços influencia o resultado do VBP e o PIB.

No caso deste segundo indicador, uma inversão de tendência exigiria variação no preço dos insumos. “Em geral, num caso como esse [preços mais baixos], o PIB do agronegócio, por envolver os demais segmentos – insumos, agroindústria e distribuição – tende a cair menos”, acrescenta.

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