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O sol das duas últimas semanas permitiu que os produtores de soja de Mato Grosso – estado líder na cultura – adiantassem a colheita em dez pontos porcentuais. Metade da área recorde de 6 milhões de hectares estará colhida e pronta para o cultivo de milho em dez dias, segundo o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária, o Imea. As vendas também ocorrem mais cedo que em 2009. Pas­­ saram de 50% na última semana, época em que ainda estavam perto de 40% ano passado. Enquanto as demais regiões do país dizem estar segurando a produção, Mato Grosso põe os grãos na estrada, numa tentativa de aproveitar as cotações atuais, devido às perspectivas de baixa. Mais de 25% da soja brasileira deve sair das lavouras matogrossenses, avalia o superintendente do Imea, Seneri Paludo. Ele afirma que a fase inicial da colheita mostrou que a produtividade não deve ser recorde. "Tivemos estiagem em setembro e menos luminosidade que o normal por causa das chuvas de janeiro." No entanto, a tendência é que a média seja de 3 mil quilos por hectare. Na colheita passada, o Imea registrou 50 quilos a mais que esse volume. "2008/09 foi excepcional. Será difícil chegar a esse índice."

A queda nos preços da soja, que já chegou a 20% no estado este ano, é motivo suficiente para acelerar as vendas, acrescenta. Os matogrossenses estão vendendo soja quando conseguem cotações na faixa de R$ 30 a saca de 60 quilos – R$ 3 a menos do que se consegue no Paraná e R$ 6 a menos do valor pago aos agricultores gaúchos. Os negócios fechados oferecem remuneração de aproximadamente 25% sobre o desembolso.

A meta de Mato Grosso é superar as 10 milhões de toneladas exportadas ano passado – 52% para a China. A maior parte do produto – cerca de 60% – sai do país por Santos (SP). A segunda principal porta de saída é Manaus (AM), com 28%, e a terceira, Paranaguá, com 10%. Os caminhões lotam as estradas e provocam congestionamentos quilométricos em trechos que estão sendo reformados, como o da BR-163 entre Nova Mutum e Nobres (centro do estado). De Nobres a Cuiabá, o asfalto da MT-010 está impecável, mas o transporte de carretas de grãos pela rodovia foi proibido. O governo alega que a obra seria destruída em poucas semanas.

O produtor Emerson Bonini, de Nova Mutum, conta que já vendeu 80% da produção de soja. Ele partiu da constatação de que o preço de US$ 17 a saca não é tão baixo e que a cotação internacional do produto pode cair com o avanço da colheita no Brasil e na Argentina. Com 2 mil hectares do produto, preferiu não deixar para assinar contratos de venda no auge da colheita. Sua previsão é de queda também no valor do milho. Nem por isso deixará de plantar mil hectares na safrinha, como fez ano passado.

Preços em queda deixam produtor arrependido

As previsões de que os preços da soja vão cair não são unanimidade, mas provocam arrependimento entre os produtores. "Se a soja estivesse a R$ 40 a saca hoje, como em dezembro, venderia tudo sem pensar duas vezes", afirma Rogério Baruffi, que cultiva 1,8 mil hectares na região central de Mato Grosso. Ele vendeu 10% da produção antes de começar a colher, índice considerado baixo. Agora, mostra-se decepcionado com o mercado diariamente. O rendimento de 3.240 quilos por hectare, que é excepcional se comparado à maior parte das lavouras brasileiras, não é suficiente para animá-lo.

Para não entregar a produção a R$ 26 a saca, pretende vender só o necessário para pagar contas e deixar o restante armazenado. Como não possui armazéns, terá de pagar 50 centavos por saca. O valor garante a possibilidade de barganhar preços até novembro. Em dezembro deste ano, as empresas que recebem soja em Mato Grosso esvaziam os silos para receberem a produção do ano seguinte. O custo de armazenagem será uma penalidade extra se os preços não subirem.

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